Este País, Alemanha By Solange Ayres / Share 0 Tweet Um sujeito tranqüilo, bonachão, boa praça, ao invés de um brutamontes com uma clava na mão e grunhindo. Assim estão tentando refazer a imagem do homem de Neandertal, um primo próximo que, na história da evolução, separou da linhagem dos “Sapiens”, “sábios”(rárá) há uns 700.000 anos atrás. Foto: Solange Ayres – Reconstituição do Homem de Neandertal Um sujeito tranqüilo, bonachão, boa praça, ao invez de um brutamontes com uma clava na mão e grunhindo. Assim estão tentando refazer a imagem do homem de Neandertal (foto), um primo próximo que na história da evolução separou da linhagem dos “Sapiens”, “sábios”, rara, a uns 700.000 anos atraz. Aquí na Alemanha o Museu de Neandertal comemorou 10 anos em 2006 com uma grande exposição reconstruindo a história daquele que deu o nome ao pequeno povoado. O nome Neandertal vem de um lugarejo entre as cidades Erkrath e Mettmann, perto de Düsseldorf, Rheinland, Alemanha e foi uma homenagem ao diretor da escola de latin de Düsseldorf, Joachim Neander (1650-1680) um pastor luterano que costumava fazer suas caminhadas pelo vale, (Tal em alemão), e deixava-se inspirar pela paisagem (foto). Foto: Solange Ayres – Parque florestal em Neandertal O lugar não só ficou famoso por ser lugar de descanso e lazer do educador e poeta Joaquim Neander, que compunha suas canções para a igreja, mas também quando em 1857 foi achada uma ossada numa mina de calcário, que apresentada aos antropólogos da época a classificaram como “ossos de algum deficiente” pelas “deformações”. Somente em 1872 puderam ser analisados por patologistas que chegaram a outras interpretaçães: Eram ossos de uma de outra espécie. Os Neandertais viveram entre 160.000 e 30.000 anos atrás, talvez até 24.000, e é uma pedra no grande mozaico da história da humanidade. Ha vestígios deles por toda a Europa e os mais antigos achados veem da Kroácia e Itália, os da Alemanha são datados de 42.000 anos. O que me fascina na história dos Homo neandertalensis é que esses seres foram extintos como muitos animais e plantas, provelmente por não estarem adaptados as mudanças climáticas e talvez por uma razão mais séria: a concorrência de uma outra espécie de Homo, o Sapiens. As duas espécies teriam convivido o mesmo habitat por curto período de tempo até os Neandertais desaparecerem da face da terra. Os últimos indícios encontram-se no sul da França e Espanha a 27.000 anos, data última grande idade do gelo. As razões do seu desaparecimento ainda é motivo de discussão entre os cientistas. Com os poucos achados os arqueológicos e antropólogos tentaram resconstruir o modo de vida de cada espécie: enquanto os Neandertais eram adaptados para o suportar o frio, narinas largas para aquecer o ar até chegar aos pulmões, corpo robusto, musculoso, larga caixa toráxia, membros curtos tendo uma necessidade calórica grande, os Sapiens possuiam uma estatura corporal mais leve e com menor necessidade calórica: locomoviam-se mais rápidos, vantagem nas empreitadas de caça, quando acompanhavam em longas travessias as manadas de animais. Eram excelentes caçadores-coletores e fortemente dependentes do seu habitat. Utilizavam arco e flecha, facas de pedra e conheciam o fogo e não vivendo mais que 35 a 40 anos. Aos 15 anos um Neandertal ja era considerado “adulto”. O seu cardápio era constituido 90% de carne. As preferências eram por veados, ursos, cabras, mas não pelo paladar e sim por a carne fornecer quantidade de calorias maiores que alimentos vegetais. Sepultamentos de Neandertais são raros. Em Shanidar no Iraque foram encontrados ossos de Neandertais e juntamente com pólem de flores indicando que eles podiam ter seus ritos para sepultar os mortos. Foto: Solange Ayres, Reconstituição do Homem de Neandertal Há 30.000 anos, durante a última idade do gelo, as temperaturas cairam mais que 10 graus obrigando os Neandertais e os Sapiens a se deslocarem para o sul concorrendo entre si com as fontes de alimentos. Os homens modernos mais ágeis com maior capacidade de locomoção e melhores armas de caça estavam em mais bem preparados e conseguiram sobreviver. Nos últimos 10.000 anos a Europa teve um clima estável, o que não era o caso nos últimos 120.000 anos, quando o ritmo das mudanças climáticas eram muito mais rasantes do hoje podemos pensar. Que o Neandertais tinham um corpo adaptado para o frio era verdade, mas não para mudancas abruptas e constantes frio-quente-frio. Num constante sobe e desce de temperatura também a fauna e flora foram atingidas. O habitat em que viviam, densas florestas, onde podiam “espreitar” a caça foi desaparecendo e junto sua fonte de alimentação. Já os Sapiens, acompanhavam as grandes locomoções das manadas de mamíferos. Em análises do esquelelo, a parte do crânio onde abriga o “labirinto”, orgão do equilíbrio, nos neandertais é mais profunda que nos Homos sapiens o que pode significar que os Neandertais não eram adaptados ao movimento sendo não tão flexíveis e nem bons acrobatas. Correr e pular não eram atividades que dos Neandertais praticavam no seu dia a dia. Foto: Solange Ayres Crânio da criança, suposta neandertal, Lagar Velho, Portugal Embora compartilhando por alguns mil anos o mesmo habitat, as duas espécies de hominídeos eram distintas. O estudo comparado do DNA dos Neandertais e homem moderno segundo pesquisas do Labors von Svante Pääbo no Instituto Max-Planck da Alemanha para Antropologia Evolucionária as duas espécies não se misturaram e até agora não se conseguiu provar o cruzamento entre as espécies. Entretanto há paleontologistas que defendem que sim, como o americano Erik Trinkaus. Um esqueleto quase completo de uma criança de 4 anos foi achado em Lagar Velho, Portugal (foto) datado de 25.000 anos, e apresentando as duas características: as do homem moderno e neanderlalense. O silêncio dos vencidos Os cientistas ainda discutem outras plausíveis probabilidades para o seu desaparecimento: genocído, epidemia de vírus, mortalidade infantil, baixas taxas de natalidade. Não é difícil imaginar que as populações de Neandertais e Sapiens concorriam entre si. Pensemos nos mais recentes fatos da história, quando os “Conquistadores” entraram e contato com as culturas dos Incas, Mayas e Asztecas e o resultado é conhecido: saques, mortes, extermínio. Os “Conquistadores” não foram conhecidos pela sua gentileza e sim pela violência, agressividade, senão não seriam conquistadores. Penso também que os Neandertais não podem ter sido exatamente “exterminados” fisicamente. Sabido é por exemplo que a civilização Etruska,Toscana, Itália foi “diluida” no império Romano e o que hoje acontece na América Latina com os índios que absorveram parte da cultura dos brancos, foram “catequizados” pela igreja e ao invés de cultuarem os seus deuses foram obrigados irem à missa, ah, mas essa é uma outra história. Muitas perguntas ainda estão em aberto. Nós, Sapiens, tentamos aqui reconstruir a história dos Neandertais que, teórica e praticamente, somos os que sobreviveram à concorrência, e é conhecido também que os vencedores fazem a sua versão. A versão dos vencidos, dos Neandertais, nunca sera conhecida. A busca continua: novos achados em Neandertal. Onde foi encontrada originalmente a famosa ossada, em julho de 2000 a equipe de pesquisadores e arqueólogos do Dr Schmitz e Dr. Thissen acharam um pedaço de osso que faltava, cabendo exatamente na falha do crânio original de 1857 causando enorme sensação. Ainda, revolvendo o entulhos da antiga mina de calcário, os pesquisadores fizeram novas descobertas: 5 ossos de caixa toráxica e braço de outro neandertal e um dente de leite de uma criança, também neandertal, restos de foguerias, artefatos, ossos de animais e ossos de homem moderno indicando que os Neandertais não viveram lá sozinhos. Em 2008 serão concluidas as análises do genoma do homem de Neandertal. Ainda este ano teremos mais notícias sobre esse ser que também habitou o planeta como nós e que por razões que ainda estão sendo estudadas, foi extinto. O quão próximos somos parentes do tal Neander(tal) ? Ainda vamos saber. “Am Ende sehen wir betroffen: Vorhang zu und alle Fragen offen.“ Bertold Brecht No final nos vimos confusos Cortina fechada e todas perguntas em aberto“ Fonte: As informações acima foram reunidas de diversos jornais alemães, Spigel Online, além da Wikipédia em alemão, Neanderthaler Museum, Mettmann, Ein Fremder aus dem Neandertal, Manuskript vom Schulfunk Bayern 2Radio,23/25.April 2002. Fotos: Solange Ayres: Museu de Neandertal, Mettmann, comarca de Düsseldorf, Alemanha Palavras chave: Neandertal, genoma, Homo sapiens, Homo neantarlensis,