A metamorfose da igreja


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altUm interessante fenômeno acontece na Alemanha: o fechamento e demolição de igrejas, coisa impensável em pais de 25 milhões de católicos e igual número de protestantes, ainda onde a Democracia Cristã esta no poder e de onde vem o maior expoente da igreja Católica…

 

altSe para ser pároco tem que haver paróquia e as paróquias estão desaparecendo, literalmente, se morre mais gente que nasce e os jovens não estão nem aí para religião qual será o futuro da igreja? O fator de multiplicação dos pães não acontece nem com os padres nem com os fiéis. Ninguém quer ser padre e ninguém quer assistir missa. De fato o calendário litúrgico da igreja de nossa cidade também sofreu modificações como missas conduzidas por… beatas e padre só a cada 15 dias.

Quem paga a conta ?

As missas em deteminadas comunidades são celebradas no inverno fora das igrejas. O aquecimento de igreja custa caro. Assistir missa aquí no inverno é entrar numa fria, isto é, em uma igreja fria. Imagine que no inverno as igrejas viram verdadeiras geladeiras se não forem aquecidas. As paróquias, inclusive as protestantes, não teem mais dinheiro para pagar o aquecimento de um espaço tão grande. Os problemas vão para além da conta de gás e luz. Pouca gente hoje em dia freqüenta a igreja e a utilização dos espaços não estão condizentes com os custos e em muitas comunidades as missas são celebradas em salões menores, fora da igreja. Não há dízimo que pague a contas em tempos de crise energética.

Na próspera economia dos anos 60 foram construidas igrejas que para o bolso dos fiéis hoje são difíceis de serem financiadas. Falta dinheiro para as urgentes e necessárias reformas e os templos ameaçam literalmente a desabar.

Em menos de 5 décadas a igreja católica perdeu um terço de seus fiéis. Os fatores que estão levando a instituição igreja à bancarrota é a perda de fiéis, não somente porque morre mais gente que nasce, mas porque muita gente está deixando de contribuir financeiramente em tempos de crise financeira, baixos salários, desemprego.

Eu mesma contribui para o empobrecimento da igreja. Mas como, diriam vocês? E 1999, quando comecei a trabalhar deixei 2 meses de contribuicao, cerca de 30 euros por mes, do meu suado salário para a irmandade, descontados religiosamente direto em folha. Aquí é assim, começou a trabalhar, pagou. Não é por livre e expontânea vontade que contribuimos. Ao me cadastrar na Secretaria do Trabalho não me perguntaram se eu era católica, apostólica, romana, batista, crente ou umbandista. Foram metendo direto a mão no seu salário. Achei um acinte e pedi para sair, assim como muitos o fizeram nos últimos anos. Ah, para sair temos que entrar com um “processo” contra e só aí escapamos do dízimo obrigatório. O dinheiro descontado? Não, não é devolvido.

Mesmo existindo a separação dentre Estado e Igreja, a Alemanha ainda administra o dinheiro arrecadado. Pagamos funcionários para que seja feito o recolhimento do imposto, que será repassado para Dioceses. Estatísticas de 2005 os números de fiéis registrados: 25.386.000 evangélicos, 25.905.000 católicos.

Mas o problema não pode somente ser reduzido à falta de dinheiro. Assim como em toda a Europa os fatores estão combinados: crise existencial, alta taxa de mortalidade entre os idosos, baixas taxas de natalidade e conseqüente perda de potenciais fiés. Ninguém pensa mais na vida após a morte. O consumo o individualismo, materialismo, o viver aquí e agora faz com que a juventude não cultive os valores religiosos de seus pais. A igreja não é mais o centro da vida das pessoas e os jovens não estão preocupados com a espiritualidade.

O desalento é grande: o novico Michael Wagner, estudante de teologia na Universidade de Bochum, que trabalha na paróquia de St. George tem hoje que confrontar com situações de tomar telefones celulares durante a missa ou acabar com picnics no local do coral ou ouvir: -Ei, como se chama mesmo o tipo la na cruz? Este relato foi publicado no jornal “Die Zeit” em 2006.

Do pó ao pó

Propostas alternativas foram criadas para salvar o que esta ainda por salvar, pois muitas das igrejas estão na lista para serem demolidas, quando outras ja foram literalmente para estações de reciclagem: Voltaram ao pó e do pó será produzido material de construção para pavimentacao de estradas e outras edificações. As igrejas mais atingidas são construções dos anos 60, mas também igrejas do século 19, não estão sendo poupadas, algumas delas já tombadas pelo patrimônio histórico.

Os sinos dobram

A Igreja Evangélica desde 1985 abriu as suas portas para que os espaços fossem ocupados por outras atividades ou transferiu o poder de utilização, como a Lutherkapelle em Colônia, para a Igreja ortodoxa da Etiópia.

Como num cortejo fúnebre os sinos foram dobrados para inúmeras outras igrejas:

Em Aachen a Dreifaltigeitskirche foi fechada e a Friedenskirche em Mönchengladbach virou bloco de apartamentos. A Jakobskirche em Würselen-Badenbert não teve outro destino: foi vendida em 1999 para proprietários privados. Outras viraram Jardins de Infância, escolas ou casa de idosos.

Destino menos nobre acometeu a Martin-Luther-Kirche em Berlin: Demolida virou estacionamento e a Immanuelkirche em Magdeburg-Presta, na antiga alemanha oriental, pode-se saborear uma “Santa Ceia”: virou restaurante.

Mas a situação das igrejas catóticas não esta melhor que as protestantes. A lista é longa e muitas outras estão a ter os mesmos destinos. O maior fenômeno esta no antigo leste, ou no lado ex-comunista. Junto da Tchecoslováquia o antigo leste alemao é um dos mais “ateus” de toda a Europa. Na Alemanha 70% (dados de 2000) eram membros da igreja, no antigo Leste alemão 24%. Ao se unificar a Alemanha não se tornou mais protestante e sim “sem confissão”.

Não foi poupada das bagas de demolição a Igreja de Berlin-Gatow, última obra do arquiteto Rudolf Schwarz, que sucumbiu em 7 de julho de 2005 e no lugar contruiram um… supermercado. No Brasil os supermercados se transformam em igrejas e aquí é o inverso: as igrejas estão sendo transformadas em supermercados.

Nos séculos passados a vida espiritual ocupava o centro da vida das pessoas e não por acaso as das igrejas foram contruidas no ponto central das vilas e cidades. Hoje afogadas no tráfego, cercada por bares, centros comerciais a igreja esta perdendo o seu símbolo de um “refúgio” espiritual, lugar de silêncio, orações e reflexões. Mais e mais os centros se tornaram um centro morto nos fins de semana, quando a cidade volta a tranqüilidade. Os fiéis permanecem em suas casas em frente à tv.

Em tempos de 11 de setembro e conflitos religiosos a igreja se arrepia ao pensar em ceder os templos que estão sendo fechados para prática de rituais islâmicos e o assunto por aquí é tabu.

Na história da igreja está na memória que no ano de 1453, quando os turcos invadiram Constantinopla, o Sultão Mehmet II transformou a Sophiekirche (ano de 537) em Estambul, Turkia, um dos mais importantes monumentos cristãos, em mesquita.

E agora revida o bispado de Essen: “-Não queremos bar, nem mesquita!”

Igreja como evento? Por aquí ha teólogos que criticam a igreja e levantam a discussão: É a igreja hoje uma igreja de “eventos”? Em Munique, para a visita do Papa foram gastos 5 milhões de euros, doados pela diocese e na Renânia do Norte, o “Dia mundial da juventude” custou aos cofres da igreja 100 milhões de euros.

Somente aquelas comunidades mais organizadas estão conseguindo salvar suas igrejas do tombamento ou do fechamento, como a igreja de St. Georg em Gelsenkirchen, na Renânia do Norte. Os católicos protestaram se reuniram e conseguiram a assinaturas para que suas portas fossem mantidas abertas. Outras comunidades nâo conseguiram evitar o fechamento de seus templos. Uma triste notícia para aqueles que cresceram junto com a igreja, onde lá fora batizados, se casaram, realizaram a primeira comunhão e celebraram missa para os entes queridos.

As previsões são pessimistas: Em 30 anos a igreja irá perder um terço de seus fiéis e a metade da contribuição (via imposto descontado). Dados de hoje sao que 40% dos prédios das igrejas cristãs não tem como se sustentarem.

Para a igreja católica a situação ainda é pior: junta-se à crise financeira a falta de noviços: ha pouquíssimos candidatos a padre. No debate discute-se a questão da abolição do celibato, uma forma de atrair mais jovens para a instituição, outro tema-tabu para a igreja católica.

O fenômeno que acontece na Alemanha ocorre também na Holanda e Inglaterra. Em Amsterdã, cujo centro tem mais igreja que fiel, os templos foram fechados e os padres foram mais além: alugaram os salões para diversas atividades ou venderam os prédios que viraram lojas, boutiques, clubes noturnos até… sex shops.

Metamorfose

O debate esta aberto. Se muitas igrejas estão se transformando em supermercados, restaurantes, agências de bancos aquí esta levantada a discussão de que representa hoje o “local sagrado”. É um espaco simbólico onde a presença de Deus se manifesta? As fronteiras da utilização desse espaço tridimensional foram ultrapassadas e a sociedade da “Diversão e Arte” esta se adaptando à realidade. Na história em outras épocas aconteceu o mesmo fenômeno: A igreja de St Maximin em Trier, secularizada por Napoelão se tranformou em caserna, mais tarde voltou a ser igreja e hoje é ginásio de esporte. De tempos em tempos ela volta ser ocupada por fiéis e missas são lá celebradas. Mais atras na história o Templo Partenon em Athenas construido em 448 antes de Cristo, foi no século 14 uma igreja cristã. No império Otomano foi utilizado como mequita. A Porta Nigra, um mumento na entrada da cidade de Trier, Reiland-Pfalz, construido no século 2 depois de Cristo pelos romanos, se transformou no século 12 em igreja e no século 19 voltou a ser um monumento romano. Assim a igreja esta em transformação.

 

Há salvacao?

A Catedral Gótica de Colônia (foto), cujas torres não foram destruidas pelas bombas na segunda guerra serviu de ponto de referência para os aviões aliados, por isso foram deixadas intactas. Hoje sua silueta esta estampada em diversos produtos e souveniers da cidade, vendida como marca de cerveja e time de futebol, o FC Köln. A igreja como um símbolo da cidade, estampada numa marca milhões de vêzes reproduzida se aproxima do público e se distancia ao mesmo tempo.

A igreja esse espaço tridimencional como herança cultural e arquitetônica poderá lentamente desaparecer das cidades. A metamorfose está em curso.

Da fonte de artigos que li para tentar contar aquí aos leitores do OPS um pouco sobre os destinos dos templos, católicos e evangélicos na Alemanha, na maioria é pessimista. No dito popular uma expressão que traduz dúvidas, insegurança e ao mesmo tempo alento pode sintetizar a situação: “O futuro a Deus pertence”.

Hoje, segunda feira, 24/03, depois da Páscoa também é feriado e aproveitamos para fazer uma visita à Catedral de Aachen. Antes do fechamento do artigo para o OPS presenciei uma surpresa: em frente à catedral acontecia uma manisfestação exatamente contra a fusão das paróquias e redução de pessoal e atividades litúrgicas (foto).

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Fotos: Solange Ayres

Fonte:

Der Burger im Staat: Deutschland Ost – Deuschtland West/2000 LpB Baden-Württemberg.

Die Zeit- Dossier: Sag beim Abschied leise Amen.

Kircheschielissung/Wikipédia em alemao.

Raum & Ritus: Über den profanen Ungang mit sakraler Architektur/2007.

Internacionaler Bund der Konfessionslosen und Atheisten.eV.

Statistiches Bundesamt Deustchland.

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Solange Ayres