Duas meias-verdades sobre vinhos.

Vinho bom é vinho caro? Quanto mais velho melhor o vinho?? Acompanhe a discussão sobre esses temas além de uma dica especial de vinho tinto.
As uvas são a matéria-prima do vinho e, naturalmente, qualquer diferença nelas cria um vinho diferente. O fato é que se todos os vinhos do mundo fossem feitos da mesma variedade de uva, ainda assim cada um teria um sabor diferente do outro.

As uvas são a matéria-prima do vinho e, naturalmente, qualquer diferença nelas cria um vinho diferente. O fato é que se todos os vinhos do mundo fossem feitos da mesma variedade de uva, ainda assim cada um teria um sabor diferente do outro. A variação do sabor da uva de diferentes vinhedos – que os franceses costumam chamar de influência do terroir – e as variações nas técnicas de vinificação de uma vinícola para outra explicam boa parte dessas diferenças, e também justificam as duas meias-verdades que trato aqui:
1- Vinho bom é vinho caro.
A questão do valor de uma garrafa de vinho é extremamente complexa. Os custos envolvem variáveis como o valor do terreno onde a uva é cultivada, custos de mão de obra, tecnologia, impostos, etc. E outro dado fundamental: o valor da marca. Mal comparando, é a mesma história da Coca-Cola, cuja marca é hoje muito maior que o produto a ela associado. Assim, uma parte considerável na diferença de preços entre vinhos reside na importância da grife do produtor. Isso tudo posto, temos que vinhos de determinados produtores atingem preços estratosféricos, cotados na faixa dos milhares de dólares.
Quando digo que vinho bom é vinho caro trata-se de meia-verdade quero dizer que em geral um vinho de R$ 200,00 é melhor que outro de R$ 50,00; o que não impede que se encontrem vinhos bons pelos mesmos 50 reais. A maior parte dos vinhos atualmente é de qualidade decente. Descobrir quais vinhos apresentam uma relação satisfatória entre preço e qualidade é um dos desafios do bom bebedor já que os critérios relacionados à qualidade dos vinhos são conceitos algo abstratos como complexidade, equilíbrio, alcance, concentração e autenticidade. Falaremos mais disso outras vezes.
2- Quanto mais velho, melhor o vinho.

Uma das imagens mais associadas aos vinhos, tanto que se tornou ditado popular. E também esconde uma boa dose de exagero. Na verdade, apenas pequena parte dos vinhos produzidos em escala comercial envelhece bem. Os vinhos mais acessíveis ($$) geralmente são produzidos prontos para consumo imediato; assim, ao dirigir-se à prateleira do supermercado a atenção deve ser redobrada: cuidado com vinhos baratos de safras antigas; muitos já devem estar “passados”. Não há uma regra mas geralmente os vinhos aptos para guarda são tintos dos grandes produtores, tais como franceses de Bordeaux e Borgonha, espanhóis da Rioja e italianos tipo Barolo. Vinhos brancos que envelhecem bem são raros. Trataremos sobre eles em momento oportuno.

No caso dos tintos, a condição essencial para que envelheçam bem é que possuam um elevado teor de taninos e antocianos – duas substâncias que estão contidas na casca da uva. Os taninos (que também estão presentes na madeira das barricas em que os vinhos descansam antes de ser engarrafados), além de conferir adstringência ao sabor, tem um efeito anti-oxidante que combate os radicais livres possibilitando vida mais longa ao vinho. Os antocianos lhe conferem cor, tonalidade intensa quando novo. Portanto, se um tinto de safra recente não apresenta forte adstringência e tem coloração clara, já se sabe que não possui características para o envelhecimento. Segundo o crítico Robert Parker apenas 5% dos vinhos da atualidade tem capacidade para envelhecimento. Os demais devem ser bebidos de imediato ou no máximo em cinco anos, contados de seu lançamento.

 
DICA DE HOJE: Pizzato Concentus 2002. Vinho da Serra Gaúcha que personifica a arte enológica de mesclar diferentes varietais para elaborar um vinho harmônico, resultado da soma de Merlot e Tannat (principais) complementadas com Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Um vinho nacional digno e pelo qual se paga em torno de R$ 30,00. Bela pedida para a ceia de natal acompanhando muito bem o tradicional pernil suíno.
 
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Roberson Guimarães