Futebol By Milton Ribeiro / Share 0 Tweet O Grêmio dispensou seu treinador Wagner Mancini após 8 jogos. Mancini despede-se invicto, mas sem que sua equipe mostrasse algum futebol. Curiosamente, a imprensa gaúcha estava adorando o novo treinador do Grêmio. Já Abel Braga, do Inter, dispensou um xodó da torcida colorada pelos microfones. Diogo Olivier e David Coimbra – este editor de esportes de ZH e gremista – rasgaram elogios a Mancini. "Enfim, um treinador de idéias claras, de raciocínio compreensível. O Grêmio fez um golaço ao contratá-lo". Porém, vendo-se a produção futebolística, chegava-se a um paradoxo e uma conclusão. A de que Wagner Mancini era um excelente treinador de jornalistas. O descompasso entre os interesses da imprensa – que deseja apenas boas entrevistas – e o objeto do trabalho dos técnicos, o futebol, escancarou-se novamente. Este comentarista tinha certeza absoluta de que nada de futebolístico, mas nada mesmo, justificava tanto apoio por parte da imprensa. Costumo assistir as partidas com o som da TV desligado e, quando lia os comentários, chegava a suspeitar de certa esquizofrenia. Antes que tomasse a iniciativa de buscar ajuda especializada, ouvi a notícia de que diretoria tinha resolvido dar cabo do preferido da imprensa. Interessante. Já o técnico do Internacional demonstrou mais uma vez o que sua incontinência verbal consegue. O clube estava prestes a contratar um jogador raro, quase secreto: seu ex-junior Diogo Rincón. Em seis anos na Ucrânia, este jogador que deixou saudades no Beira-Rio foi por quatro vezes considerado o melhor jogador do campeonato nacional daquele país. Ao desejar retornar ao Brasil, nada mais natural que voltasse ao único clube que o conhece e admira, o Internacional. A diretoria estava inteiramente mobilizada, porém… Abel Braga abriu a boca. "Não conheço Rincón e tenho vários jogadores para a posição". Avisado do fato, o ex-colorado desviou sua rota para o Corinthians de Mano Meneses, que o conhece muito bem, mas que tinha feito uma proposta um pouco abaixo da do Inter. Certamente, Abel deu um craque ao Corinthians. Os dois casos mostram total ruptura entre o interesse dos clubes e o de seus treinadores, tudo permeado pela mídia. É curioso que os assessores de imprensa não entrem neste circuito para administrar os problemas. Hoje há dois absurdos na cidade de Porto Alegre: um "grande treinador" foi demitido inexplicalmente e um "grande falador" exterminou um dos mais acalentados sonhos de consumo da torcida colorada. Será que este profissionais milionários ganham tão bem que o pobre assessor de imprensa sente-se constrangido de adverti-los de suas mancadas?