Domingo, eu fui no Maracanã


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Realizei o sonho de conhecer o Maracanã. É um monumento. Lindo, gigantesco, colossal. Entendi perfeitamente porque o Maracanã é cercado de magia. É um monstro do futebol, ponto turístico do Brasil. E, certamente, superei as minhas expectativas. Em todos os sentidos.

Tudo começou lá por março desse ano, quando a Gol disponibilizou trechos promocionais no valor de 1 real. Meu companheiro de jornadas no Beira-Rio e longe dele, Filipe Gonçalves, mobilizou-se, conferiu a tabela do Campeonato Brasileiro e localizou no dia 24 de maio, sábado, o belíssimo confronto Flamengo x Inter no Rio de Janeiro. Foi uma jornada pra lá de especial. Realizei o sonho de conhecer o Maracanã. E superei as minhas expectativas.

Ano passado não tivemos a mesma sorte, é preciso que seja dito. Fizemos rigorosamente o mesmo planejamento, mas o destino era a saudada Curitiba, cidade da qualidade de vida. Atlético-PR o adversário, no belo estádio da Arena da Baixada. O ato de vandalismo ficou por conta de cinco ou seis menores, com pouco mais de 15 anos (imagino eu) que nos viram com a camisa do Colorado dentro do carro, parado na sinaleira, e com pedras nas mãos estouraram um vidro e chutaram o automóvel para depois sair correndo. Profundamente lamentável. Em um jogo pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro, ou seja, não valia nada. Peguei uma repulsão à torcida atleticana que antes não cultivava. O estádio é de fato admirável, apesar de não estar completamente construído. A acústica é, seguramente, amplamente favorável para que a torcida que não é tão barulhenta assim, faça parecer que os torcedores estão na nuca dos jogadores em campo.

Falemos, portanto, de coisas boas. O Rio de Janeiro. Cidade maravilhosa. Povo acolhedor, bem educado, bem humorado e sempre, mas sempre de alto astral. E, evidentemente, loucos por futebol. Em cada táxi, cada restaurante, cada bar, o assunto que reinava era o futebol. O Fluminense na semi da Libertadores, Botafogo e Vasco na semi da Copa do Brasil, a recente e frustrante eliminação do Flamengo na Libertadores, Cabañas, Ronaldo, etc.

Nos dirigimos ao Maracanã com as camisetas do Colorado escondidas, como sempre fazemos quando estamos longe de Porto Alegre. Existia um certo receio. O que assistimos na TV no RS, é na favela comendo tiro pra todo lado, é a pobreza que se alastra, a violência gratuita que aumenta a cada dia. Era, portanto, natural que estivéssemos com um certo temor em relação ao comportamento da torcida do Flamengo, que é sabidamente ao lado da torcida do Corinthians a maior do Brasil. Chegando nas redondezas do Maracanã, para total surpresa, vimos alguns colorados fardados com a camisa rubra, conversando entre eles, conversando com torcedores do Flamengo e agindo naturalmente, como se deveria agir em volta de um estádio. A paz era absoluta. O acesso ao estádio da torcida do Inter era simplesmente o mesmo da torcida do Flamengo, rampa e roleta. A diferença era que os cariocas pegavam à direita e os colorados seguiam à esquerda, do lado de dentro do estádio. A divisão entre as duas torcidas ficou por conta de um cordão de isolamento e uma meia dúzia de gato pingado de policiais.

O Maracanã é um monumento. Lindo, gigantesco, colossal. Bem cuidado, bem sinalizado, com avenidas de fácil acesso ao estádio, gramado impecável. Entendi perfeitamente porque o Maracanã é cercado de magia. É um monstro do futebol, ponto turístico do Brasil.

Durante todo o jogo não se viu nenhum ato de violência por parte das duas torcidas. Nem mesmo enquanto o Inter esteve ganhando e dando um banho de bola no Flamengo no primeiro tempo. Estávamos no anel inferior enquanto no superior estavam os flamenguistas. Nenhum copo com líquidos indesejáveis ou salivas atiradas na nossa direção (como já presenciei em outros estádios, infelizmente). Absolutamente nada. No intervalo as duas torcidas se provocavam. A Colorada gritava “Cabañas” e “aha, uhu, o Maraca é nosso”, saudava a atuação da equipe e tiravam sarro da torcida do Flamengo. Na virada rubro-negra, foi a vez dos cariocas cantarem o famoso “gaúcho viado” e ficarem dando tchauzinho para os colorados.

Parece bobagem saudar e reverenciar atitudes humanas e civilizadas. No momento em que reli o texto, percebi o quão lamentável são os desnecessários atos de violência no futebol. É uma minoria ignorante das torcidas que acabam por tirar pessoas de bem dos estádios, que estão lá pelo futebol. No RS seria impraticável as duas torcidas tão próximas, quem dirá convivendo educadamente lado a lado antes e depois da partida. Aqui, se um gremista disser que o Fernandão faz chapinha ou um colorado lembrar de Fábio Bilica no Trovão Azul, é briga na certa. E das feias. Infelizmente esses imbecis se sentem mais homens brigando entre eles e gerando conflitos com a polícia. Enquanto lá dentro do campo os jogadores são apenas profissionais que recebem muito bem para fazer o que eles sabem de melhor (e de pior em alguns casos), que é jogar bola. É preciso que essa idiotice acabe o quanto antes. Em Porto Alegre se cogita que os próximos clássicos grenais sejam realizados com apenas a torcida mandante no lado de dentro do Estádio. Boca e River jogam assim na Argentina. Poxa vida, é um prazer inenarrável um golo do Colorado dentro do Olímpico e tenho certeza que o gremista grita mais alto dentro do Beira-Rio quando o Grêmio marca um golo. Estamos em vias de perder esse sentimento, essa beleza do futebol. Nos últimos clássicos aqui, a torcida adversária recebeu apenas pouco mais de dois mil ingressos e esteve sempre vigiada por policiais e separada dos demais torcedores por um tapume colado à grade que impossibilita que as duas torcidas se olhem. Sabe bicho, animal, que não pode se ver que fica latindo, bufando e pulando na direção do outro animal? É mais ou menos assim.

Por isso, amigos, fiquei tão contente ao perceber que ainda existe pessoas civilizadas que conseguem enxergar o bom do futebol. Pena o resultado favorável ao Flamengo. O Colorado perdeu em dez minutos o que construiu no primeiro tempo inteiro. Mas tudo bem. Terceira rodada, tem muito campeonato pela frente. E o restante do final de semana compensou demais. O Rio de Janeiro continua lindo.

Ps.1: Antes que me chamem de pé frio, conto-lhes que assisti a um 2×1 que me credita para possíveis jornadas infelizes no futuro. O 2×1 de Sóbis e Cia que calou o Morumbi no dia 9 de agosto de 2006, que credenciou o Inter a vencer na semana seguinte a Copa Libertadores, batendo o todo podersoso São Paulo. Inesquecível, impagável.

Ps.2: E, também, antes que me esqueça. Meu palpite para Flu x Boca: os argentinos vão atropelar os tricolores. Não me levem a mal. Não chega a ser um sentimento, está mais para uma constatação. O Fluminense não terá chances.

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Guilherme Carravetta