Idéias, experiências e casos

“De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos.”

Essa frase do José Saramago resume bem a arte da administração de conflitos.

Diz o ensinamento que sempre que há conflitos, os motivos são fundamentais para chegar a um acordo entre os envolvidos.

Acreditar que só ouvir todos os motivos é o que se necessita para a solução, pode ser um recurso pobre e injusto. Se for só isso a coisa pode pegar. Seres humanos são resultados de histórias recheadas de conflitos e as pessoas envolvidas sempre trazem suas lembranças, conscientes ou inconscientes, no momento da negociação.

O mediador deve ter uma sensibilidade tal, que permita que ele leia nas entrelinhas, as razões claras e ocultas das partes envolvidas. Uma frase, um olhar, a postura do corpo são ferramentas essenciais para chegar a uma solução e, por vezes, mais importantes do que os motivos da discórdia. A tonalidade da voz, olhares, suores, enfim, os vários sinais devem ser observados e utilizados para as argumentações por parte do mediador para colocar na mesa, a solução do que se apresenta.

Presenciei um acordo, onde uma das partes só necessitou de uma intermediação que mostrou um afeto por parte do reclamante. O bem em si tornou-se secundário após uma leitura da postura do reclamado. E isso foi feito de forma simples, imperceptível para as partes e chegou-se então a solução, sem que houvesse necessidade sequer de negociação, divisão, acordos parcelados ou equivalentes.

A percepção é o grande talento do negociador. Essa percepção pode fazer até mesmo com que os motivos não sejam mesmo a razão da discórdia ter durado o tempo que durou, seja curto ou longo.

O ser humano por vezes, só precisa ser sentido e traduzido. Nesses casos, de nada adianta falar dos motivos, nem mesmo juntando todos.

Mesmo que ateu, sua benção Saramago.

By: Jo Bernardes

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