A Internet e o Media Watching

A crítica de mídia, ou media-watching, é uma prática que surgiu nos Estados Unidos – com a publicação intitulada “Fair” (Fairness & Accuracy in Reporting), fundada em 1986, na era Reagan, com o propósito de fiscalizar a intromissão do poder econômico e político na imprensa – e sensibilizar a sociedade e os profissionais de comunicação quanto à responsabilidade que o jornalismo desempenha, como serviço público que deve ser usado em favor da comunidade.

 

A prática então passa a ser exercida em outros países como a França, onde foi fundado, o Observatoire de la presse, e em Portugal com a revista Obercom – Observatório de Comunicação. No Brasil, a mídia começou a ser objeto de crítica por iniciativa do jornalista Alberto Dines, diretor de redação do Jornal do Brasil, em 1965. Após visita ao World Press Institute (vinculado à Universidade de Columbia -EUA), Dines surpreendeu-se com o boletim “Vencedores e Pecadores”, que fazia a crítica interna do jornal The New York Times. De volta ao Brasil, agora ao lado do jornalista Fernando Gabeira, Dines lança uma publicação que funcionou como fórum de críticas à mídia, o “Cadernos de Jornalismo e Editoração”, a primeira experiência de crítica de mídia brasileira.

O media watching só ganhou mais espaço quando empresas, preocupadas em manter a credibilidade com os seus leitores, resolveram utilizar um serviço de atendimento criando o cargo de Ombudsman, um profissional que ouve as reclamações, investiga os comentários e queixas sobre o conteúdo do jornal e aponta os erros encontrados nas edições, recomendando ações corretivas. Como o caso da Folha de São Paulo, que até hoje mantém uma coluna de ouvidoria.

As experiências de observação de mídia no ambiente impresso brasileiro não deram certo. Muitas se extinguiram, com exceções da Folha de São Paulo, que, como já foi citado anteriormente, publica a sua coluna de ouvidoria, e da Revista Imprensa, de periodicidade mensal.

O media watching no país dá seus passos mais largos concomitante ao ritmo que a internet também avança ao uso popular. Em 1996, surge o Observatório da Imprensa, que tem à frente, o já experiente crítico de mídia, Alberto Dines. A experimentação do Observatório, coloca a internet com um campo propício para a cultivação do media watching, principalmente por se afastar dos altos custos de produção gráfica e aproximar-se da velocidade da informação.

A facilidade para se colocar um site no ar é muito maior comparada à dificuldade de publicação de um veículo impresso, televisivo ou radiofônico. A crítica de mídia transita principalmente pelo meio acadêmico, entre professores e alunos de graduação e pós-graduação das escolas de jornalismo do país, sejam elas estatais ou da rede privada. Esta facilidade se transfigura na maior participação de professores e alunos que praticam o media watching em aulas opinativas ou não, dentro dos laboratórios de informática das escolas.

Outro ponto positivo da internet para a expansão dos observatórios de imprensa no Brasil é a instantaneidade da informação, fundamental, pois, no compasso que as publicações da grande imprensa são emitidas, elas são analisadas e, esta análise já pode ser lida nos sites de observação de mídia. Isto faz com que a crítica não se distancie, em tempo e espaço, do conteúdo publicado e criticado.

Com a hipertextualidade, presente apenas no jornalismo online, o leitor pode visualizar o conteúdo analisado no mesmo momento e tipo de veículo em que está lendo a crítica, através de links. Além disto, a internet traz a ferramenta de interatividade com o público, que de acordo com Bardoel e Deuze (2000), permitem transformar o leitor/usuário em parte do processo. As duas ferramentas juntas, a hipertextualidade e a interatividade, propiciam que o leitor/usuário emita uma segunda crítica, fazendo da observação de mídia na internet, um processo muito mais democrático de análise e crítica de mídia.

O ambiente virtual e a experiência do Observatório da Imprensa são tão positivos ao media watching, que outros sites surgiram ao longo destes 11 anos de crítica de mídia no Brasil. Citarei algum deles:Canal da Imprensa; SOS Imprensa; Mídia e Política; Monitor de Mídia; NEMP; Análise de Mídia; Agência Unama e ANDI.

Agora, analisando os sites de crítica de mídia, observamos que eles estão acompanhando o desenvolvimento da própria internet e já disponibilizam ferramentas como o RSS, comentários nos textos publicados, envio por e-mails e lista dos textos mais lidos.

Uma análise retroativa nos remete que, apesar de o Observatório da Imprensa ser o primeiro site de media watching brasileiro e um dos primeiros de conteúdo jornalístico do país, ele já pula, logo ao nascer, a primeira fase do webjornalismo; o da transposição, ou webjornalismo de primeira geração. Ele nasce com conteúdo próprio para o veículo online, e também não possui a fase de metáfora, já que não tem referências do meio impresso.

É também o Observatório, um dos primeiros veículos a percorrer o processo inverso da convergência. Ele é criado na internet, passa para o ambiente televisivo e depois ao radiofônico, para por fim possuir uma edição impressa. A versão impressa do Observatório da Imprensa é transposta do veículo virtual, ou seja, um compilado dos melhores textos publicados no Observatório na internet. Sua periodicidade é mensal, mas não tem uma distribuição efetiva e consolidada, por isso não o incluí na lista dos observatórios impressos

Outro site que ruma à inversão da convergência é o Monitor de Mídia, de Santa Catarina, que já possui um programa televisivo no canal universitário TV Univali, O programa vai ao ar semanalmente pelo sistema de TV a cabo.

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Marvin Kennedy