CONCLUSÕES

Ao analisar as respostas da pesquisa, não foi constatado nenhum padrão que pudesse mostrar de forma clara o que leva o usuário a migrar com menor ou maior grau de dificuldade. Casos como de usuários que possuem o mesmo nível de conhecimento em informática e em que alguns migrariam e outros não, por exemplo, sugerem que o perfil psicológico de cada indivíduo possui grande peso e influência na forma como ele irá aceitar a sistema e adaptar-se a ele.

Em uma análise mais minuciosa pôde-se perceber que na realidade existe uma série de fatores responsáveis pela opinião final do usuário e todos os envolvidos no processo de migração (desenvolvedores, usuários, técnicos, etc) possuem sua parcela de culpa, a começar pelos desenvolvedores, que deveriam desenvolver aplicativos fáceis de usar do ponto de vista do usuário, e não do seu próprio ponto de vista, pois, embora atualmente o Linux esteja em um grau de desenvolvimento avançado e com boa usabilidade, depois de ver os resultados desta pesquisa, não se pode afirmar que ele esteja realmente pronto para todos os tipos de usuários.

Mudar os hábitos das pessoas não é uma tarefa simples de ser realizada e não se consegue isso apenas com uma conversa, seja ela recheada de bons argumentos ou com frases pré-fabricadas. A implantação de qualquer tipo de sistema deve ser feita com cautela, pois é natural que as pessoas criem barreiras quando o assunto é sair da sua zona de conforto. MAXELL (2006, p. 75-91) diz que a mudança é difícil para todos e todos resistem à ela por medo do desconhecido, por não ser a hora certa ou por causa da tradição[1], dentre outros motivos. “As pessoas se apegam àquilo que conhecem, ainda que não estejam satisfeitas. O medo as atrapalha. Contudo, a única maneira de vencer o medo é sair e fazer aquilo que elas têm medo de fazer” (MAXWELL 2006, p. 76). É exatamente isso o que acontece na migração do Windows para o Linux e é exatamente esse o ponto que merece mais atenção. Fazer o usuário entender o porquê ele terá de trocar de sistema, somado a boas doses de conhecimento (sobre o sistema) e paciência (com os usuários) é o primeiro passo para alcançar sucesso na migração.

Como a pesquisa envolveu dois grupos distintos em vários aspectos (crianças que receberam treinamento e utilizam o KDE contra adultos sem treinamento que utilizam Gnome) não se pode afirmar que a culpa é da interface gráfica, da falta de treinamento, nem fazer qualquer outra suposição. Para melhores resultados, tais medidas podem ser tomadas:

  • Realizar a pesquisa com usuários adultos que não receberam treinamento e utilizam o KDE, bem como suas variantes (adultos com treinamento que utilizam o KDE e adultos com treinamento que utilizam o Gnome);
  • Aplicar o mesmo questionário, ou semelhante, para as mesmas crianças, quando estas tiverem a mesma idade que os entrevistados adultos tem agora. Acredita -se que, por elas terem começado cedo e estarem recebendo acompanhamento durante o processo, quando atingirem a idade adulta, sua opinião sobre o sistema será outra, podendo até ocorrer situação inversa à atual. Porém, só uma nova pesquisa poderá confirmar tal hipótese;
  • Realizar pesquisa semelhante fundamentada em estudo psicológico, a fim de averiguar se a personalidade e características individuais de cada pessoa tem sobre sua forma de encarar mudanças e qual o peso que isso tem no processo de migração;
  • Entrevistar também adultos do sexo feminino, pois, nesse trabalho, só participaram adultos do sexo masculino.

Por enquanto só é possível dizer, baseado mais em conversas com os usuários entrevistados, do que no que os gráficos mostraram, que as dificuldades diminuem gradativamente com o tempo de uso, enquanto a familiaridade com o sistema aumenta. As maiores reclamações foram referentes à interface gráfica, problemas de compatibilidade entre softwares e formatos de arquivo e falta de suporte para alguns hardwares.

 

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[1]“Muitas pessoas apegam-se à tradição. A suposição é a de que, se alguma coisa é tradição, é porque ela provavelmente é a melhor que existe”. MAXWELL (2006, p. 82)

 

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Rodrigo Dall Alba