Mundo Quadricolor By Tiago Andrade / Share 0 Tweet Eu comecei a ler quadrinhos numa época difícil: os anos 90. Com a ascensão da Image e a explosão dos colecionáveis, as editoras de quadrinhos resolveram investir em reformulações cada vez mais absurdas para manter o interesse do público. A perfeita síntese desse período é a Saga do Clone do Homem-Aranha. A trama tornou-se lendária pelas mudanças estapafúrdias, e arrastou-se por dois longos anos durante os quais muitos fãs simplesmente perderam a perspectiva de ver uma conclusão. Mas Tom DeFalco, um dos idealizadores e principais defensores da trama, sempre afirmou que não devia ter sido assim. Segundo ele, as diversas mudanças de comando pelas quais a Marvel passou na época fizeram com que as coisas saíssem do controle, e a saga tornou-se tão rocambolesca que os editores admitiram não saber como encerrá-la. Recentemente, DeFalco foi convidado a produzir uma minissérie que enfim mostraria sua ideia original para a Saga do Clone. Esta minissérie foi recentemente publicada no Brasil, na mensal A Teia do Homem-Aranha, e vamos analisá-la a partir de agora. Para começar, a enrolação de outrora dá lugar a um roteiro direto e rápido – tão direto e tão rápido, aliás, que até parece mal escrito, especialmente para quem não acompanhou a história original. Para quem acompanhou, a impressão é de um resumo com mudanças em alguns pontos-chave, muito semelhante a um O Que Aconteceria Se? A história ganha mais alguns pontos por fugir do Peter Parker depressivo que vimos durante boa parte dos anos 90, preferindo usar sua tradicional personalidade de otimista azarado. E, se a Saga do Clone original foi o paraíso das pontas soltas, aqui não demoramos a descobrir o que está havendo e de quem são os planos. Claro que logo se revela que que há um mestre-por-trás-do-mestre, mas isso é até bom: ao menos sabemos que a história começa com um propósito final a ser alcançado. Um propósito muito clichê, tudo bem, mas um propósito. Mas eu sei o que você está se perguntando: a Saga do Clone teria sido melhor se tivesse sido assim? Bem, teria sido menos confusa e causado menos falso impacto, o que já é alguma coisa – mas não comprem pensando que a revisão transformou a Saga do Clone na Última Caçada de Kraven. Vários dos principais buracos da trama original não são explicados mesmo na nova versão, deixando a dúvida se foram ganchos para futuras aventuras ou simplesmente lapsos. Segundo a visão original de DeFalco, a história provavelmente seria um arco comum apresentando novos personagens coadjuvantes, e não um trauma para uma geração.