Musicandalheira By Laíse Lobato / Share 0 Tweet Antes deu aprofundar minhas leituras em Musicoterapia (coisa que eu ainda não fiz) tive que passar por vários textos, artigos e teses. Uns muito bons, outros enormes baboseiras organizadas em parágrafos mal estruturados. Mas quero comentar, especialemente , sobre um dos últimos que li. Bom, o capítulo começa dizendo que o termo "música", geralmente, está ausente das discussões psicanalíticas que rolam sobre arte. Tem uns teóricos (teórico de cu é rola, ê) por aí , que dizem atribuir esse descaso em relação à música a uma "resistência inconsciente" que dizem ser inerente à qualidade emocional do efeito da música. E aí, concordam? Pois é, a partir daí algumas teorias psicanalíticas passaram a se fazer presentes nos meu questionamentos. Então, nada mais coerente do que recorrer a Freud, certo? Er.. Freud, em 1914, simplesmente escreveu que as obras de arte exerciam um efeito poderoso sobre ele, principalmente a literatura e a escultura. Ele diz que isso acontecia quando contemplava tais obras, passando muito tempo diante delas tentando compreendê-las, ou seja, explicando pra ele mesmo a que se devia o seu efeito. E advinhem o que Freud falou sobre música? ( Freud, um querido já não tão mais querido, haha). Na música, Freud disse ser impossível esse tipo de compreensão, isto é, ele não fazia a menor ideia do que se devia o efeito da música e nem que havia tal efeito. Ele se dizia incapaz de ter qualquer tipo de prazer e que algum estado mental racionalista ou talvez analítico o rebelava contra ele ser mobilizado por qualquer coisa que ele desconhecesse, por estar assim sendo afetado e o que é que lhe afetava. Agora sabe o que é mais engraçado? Freud em sua própria afirmação admite que fosse afetado sim, pela música. Freud era doido? Claro que não! Freud tinha uma resistência à música, pelo menos eu vejo assim. Theodor Reik, que foi outro psicanalista de destaque, comenta sobre essa afirmação de Freud dizendo que: "essa abstenção dos efeitos emocionais diante de melodias pode, às vezes, ser visto em pessoas que se sentem em perigo pela intensidade de seus sentimentos. Tenho a impressão de que Freud constriu defesas similares e, posteriormente, enrijeceu-se diante do apelo emocial da música" Theodor dizer que tinha impressão sobre Freud, após ter estudado durante muitos anos com ele e ter seus estudos bancados pelo mesmo, é sacanagem, né? Não sei ! Só sei que Freud era tão sensitivo à música ao ponto de criar um bloqueio para o efeito que a mesma causava nele. Eu posso acreditar que a música na sua natureza abstrata, desvia o ego e controles intelectuais, trazendo à tona emoções e conflitos que podem vir a serem expressos e reativados por meio dela. No entanto, se eu continuar com esse raciocínio, vamos mergulhar mais na psicanálise do que na música e esse não é o objetivo. E afinal, qual o objetivo? A onda toda começou quando eu tava tentando classificar um amigo – que coisa feia – num certo tipo de ouvinte (uma classificação feita por Adorno sobre o comportamento individual dentro da categoria sócio-musical. Hã?). Fiquei lendo um pouco sobre os ouvintes e me deparei com dois tipos muito interessantes, o "emotivo" e o "amusical". Antes deu chegar ao ouvinte "amusical", recorri a capítulos sobre psicanálise – foi o jeito, gente, desculpa – e mais um vez eu esbarrei em Freud (Oi?). Quando acabei de ler sobre o "amusical", classifiquei Freud como tal. Nesse momento, um mosaico de ideias se formou e eu pedi penico, já que eu tinha procurado Freud e sua psicanálise exatamente para compreender melhor o ouvinte "emotivo". O ouvinte emotivo, de acordo com Adorno, está distante da realidade musical. A música serve para liberar seus instintos recalcados ou reprimidos pelas normas da civilização. é desprovido de esnobismo, não quer saber de nada e se deixa manipular fácil. Sofrendo uma influência direta de uma ideologia fabricada peça por peça pela cultura musical, que ele chama de: antiintelectualismo. Com isso, eu entendo que o ouvinte emotivo é diretamente afetado pela música e que nada tem a ver com a qualidade emocional do efeito da música como alguns teóricos falaram, pelo menos não nesse caso. Já o amusical é totalmente indiferente. A música pra ele é inteiramente inútil e até incômoda. Adorno diz que é quase um caso patológico (Olha a psicanálise aí, geeente!), onde a origem não é uma falta disposições naturais, mas sim um processo deflagrado durante a primeira infância. Adorno termina dizendo que esse tipo de ouvinte costuma ser exageradamente realista e excepcionalmente dotados para uma especialidade técnica (estaríamos falando do nosso amigo Freud?). O fato é que uma coisa leva à outra. É inevitável. Eu jamais poderei entender o comportamento musical individual se eu não compreender o comportamento humano e o seu funcionamento psicológico e, para isso, eu tenho que dar uma passadinha com Freud. Mas aviso desde já, aquele papo de que Freud explica é lorota, ein! Afinal, ele mesmo disse que não podia compreender, logo explicar, algo que desconhecesse, mesmo que para mim nem pareça tão desconhecido assim.