Opinião By Luciano Beregeno / Share 0 Tweet Se eu, que detenho o poder de manter este ou aquele agente político sob vigilância para evitar o mau uso do poder de representatividade, me afasto e deixo de exercer esta fiscalização, como poderei no futuro me indignar ou avaliar aquele a quem deixei fazer o que bem quis? Neste artigo o autor discorre criticamente sobre a alienação política que se estabeleceu na sociedade brasileira. Tornou-se comum ao brasileiro em geral – até mesmo aos mais esclarecidos – pré julgar e acusar a política como se ela fosse resultado da fragilidade do caráter de seus operadores. Generalizou-se e se convencionou que tudo aquilo ou todo aquele co-relacionado a ela, deveria ser desmerecido. Ou seja, nivelou-se a política à política partidária rasteira, deplorável e sinistra. Nivelou-se a ação política à deformidade de caráter e fraqueza do homem, sujeitando-a a paixões humanas. Erro crasso. Com isso, a honra de homens e mulheres que se propuseram a praticar na ágora a liberdade preconizada pela democracia, foi sucumbindo ao desprezo com que o cidadão passou a tratar a política. Comumente associada ao que de pior pode se aferir na vida pública, a política ganhou contornos sombrios que se tornaram regra e não exceção. É com essa visão que o cidadão comum hoje vê a atividade política. E não está errado ou enganado se observamos, mais atentamente, a qualidade da informação que chega até ele, em todos os níveis. Não que os órgãos e veículos de imprensa sejam os responsáveis pela deturpação do fato ou seu agravamento em si. Nada disso, mas, sim, pela natureza do próprio mercado que aprendeu a consumir avidamente o que de pior lhe é oferecido em termos de notícia. Estabeleceu-se um círculo vicioso que dificilmente será quebrado, principalmente quando se tem como agravante um modelo de ensino excludente, alienado e leniente como o nosso. Assim, afasta-se da política cada vez mais o cidadão e, por conseqüência, deterioram-se, pelo afastamento, os mecanismos de fiscalização da atividade política, a qual deveria ser rígida e rigorosamente exercida pelo povo. Vejamos: se eu que detenho o poder de manter este ou aquele agente político sob vigilância para evitar o mau uso do poder de representatividade me afasto e deixo de exercer esta fiscalização, como poderei no futuro me indignar ou avaliar aquele a quem deixei fazer o que bem quis? Como poderei fazer valer meu poder de decisão e meu controle efetivo sobre aquele que escolhi para me representar junto aos poderes instituídos? Como poderei exercer meu direito de cidadão, de eleitor, de contribuinte, e exigir que os interesses comuns sejam respeitados? Como? A tais questionamentos, a resposta é amarga: nada poderei fazer se abrir mão do meu poder de controle e participação política. Esta é a praxe. Abdico, perco! Isto tem que ser mudado! Se permitirmos que nossos representantes sejam corrompidos pelas facilidades do poder e acabem por preservar interesses particulares em detrimento dos coletivos, cada vez mais teremos menos integridade no trato da res publica, da coisa pública, do bem comum. E cada vez mais será menor o respeito ao coletivo. Menor será a participação de todos no todo e maior será a privatização do público. Vivemos a tirania da individualidade e nos voltamos cada vez menos para os interesses comuns. Salvo raras e dignas exceções, a maioria de nossos representantes tem este perfil e é exatamente esta cena que deverá ser reeditada. É preciso que voltemos a crer em nossas instituições de forma verdadeira. Descobrir bons exemplos verossímeis e reais muito próximos de nós. Aos poucos, pela qualidade, iremos dar um novo rosto a esta senhora tão maltratada, de nome democracia. É preciso que estejamos dispostos a nos envolver sempre mais e nos comprometer com nosso vizinho menos afortunado, material ou intelectualmente. Se cada um de nós que temos e podemos oferecer uma parte de nós a outrem o fizermos resgataremos a fé do cidadão nos mecanismos de defesa sociais, nos aparelhos de consagração do bem comum e na organização dos poderes. A realidade que se mostra à nossa frente é cruel e não adoça ninguém. Sabemos bem onde estão e quem são os difamadores do povo e do bem público. Podemos identificá-los facilmente e evitá-los, erguendo um muro suficientemente alto em torno deles, para que não se voltem ao nosso espaço. A solução para isso, é resgatar a confiança perdida, restabelecer os laços rompidos, os laços de confiança e credibilidade que um representante deve manter com seus representados. Acredito firmemente ser esta uma proposta viável. Renovar imediatamente! Mas não nos termos de outras renovações propostas tão sordidamente nos últimos anos. Renovar pra valer, reviver nossos compromissos e nossa disposição de tornar a política, a seara de nossas opiniões. Nossas verdadeiras opiniões! Acredito que juntos, possamos estabelecer uma nova forma de se pensar política. Guiados pelo respeito ao que é público, estaremos inserindo aos poucos uma nova forma de agir, tomando consciência de nosso valor e de nosso papel. E assim, num futuro bem próximo, poderemos ver florescer no Brasil uma classe política melhorada, preparada para levar nosso povo ao encontro da qualidade de vida merecida. Mais que um sonho, é real a possibilidade de reconquistarmos nosso valor, hoje um tanto abalado. Juntos, unidos pela nossa fé no País e em nossas gentes – os que aqui nasceram e florescem e aqueles que vieram de tão longe por acreditar em nós – poderemos iniciar um novo tempo onde prevaleça o respeito e a atenção aos interesses do cidadão comum. Ou seja, onde prevaleça o que é melhor pra todos e não apenas o que é melhor para poucos.