Qual é a paz que eu quero?


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PazPor que é que não se tem paz no mundo? Ta aí uma boa pergunta, mas muito difícil de se responder. Agora, por que é que nada se modifica quando um ganhador do Prêmio Nobel da Paz é baleado em casa?

Por que é que não se tem paz no mundo? Bom, essa é uma pergunta complexa que para qualquer desavisado pode ser respondida com uma generalização: “não se tem paz por conta dos islâmicos”; “todo esse caos é fruto da ânsia capitalista”; “a culpa é dos judeus, eles roubaram a nossa paz”.

Na verdade essa é uma pergunta de múltiplas respostas e uma delas é, definitivamente, a enorme força do mau frente à do bem. Sem cairmos em dicotomias, pois isso já é antiquado, vejamos o homem como um simples ser vivo. Um ser livre para enveredar-se para o bem ou para mau, nascendo, no entanto, puro, nascendo tão alienado quanto um voto em branco.

Então nascemos todos assim, purinhos e sem manias. A gente ouve dizer que o homem do saco pega as criancinhas que fogem dos pais, assiste a desenhos em que todos se adoram, aprende que não se deve falar palavrão, e vamos lentamente nos moldando enquanto seres únicos. Aprendemos a ser bons.

Aprendemos também que político não vai preso, que servidor público não trabalha, que nossos pais trabalham até maio exclusivamente para pagar impostos e que reclamar das injustiças não adianta de nada. Passamos então a aceitar todas essas barbaridades com grande naturalidade e, se for possível, tentamos dar um jeitinho nelas, mas só um jeitinho.

Martin Luther King O que acontece é que a sociedade ocidental cresceu e se multiplicou gerando uma massa que sabe ser boa, sabe discernir o que é certo do que é errado, mas que, no entanto, não sabe combater o errado, não sabe se impor contra os corruptos e covardes em geral.

Martin Luther King, o pastor americano líder do movimento pacifista contra o racismo, certa vez disse com toda a razão: “O que me incomoda não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”.

Estava certo. O que mais me preocupa nesse momento é o silêncio dos bons enquanto um homem que dedicou literalmente a sua vida a uma causa de paz é baleado na sua própria casa. Ele é o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1996 e líder da resistência contra o ataque indonésio, e foi baleado hoje, 10 de fevereiro.

José Ramos-Horta, presidente do Timor Leste

Ramos-Horta é um símbolo da paz, é um ícone dela, melhor dizendo. Trabalhou como uma pequena formiguinha, como cada um de nós nessa imensidão, e atingiu seu grande objetivo de tornar o Timor Leste um país independente depois de 26 anos de laboro. Ele agora foi ferido e o estado de coisas permanece intacto.

Basta dessa hipocrisia. Chega de marketing com a paz e com o bonito discurso da igualdade de direitos, da autodeterminação dos povos e da liberdade pessoal. É de fato deslumbrante a igualdade de direitos no Brasil, o problema é que ela só funciona (e, ainda assim, mal) no Sul e Sudeste. Quanto à autodeterminação dos povos, nem me diga: maravilhosa. Por que será então que o Afeganistão e o Iraque são tão oprimidos? Liberdade pessoal também é um tema excelente pra debates estudantis. Só esqueceram-se de avisar aos estudantes que os diamantes dos anéis de noivado podem ter custado as vidas de uns trabalhadores escravos num país africano.

Garimpeiros escravos na Áftica

Um exemplo da hipocrisia em que vivemos são as passeatas pela paz no Rio que são divulgadas pela imprensa. Esses movimentos deveriam mobilizar toda a população que vive violentamente encarcerada em condomínios, no entanto agregam apenas uns poucos pais e parentes de vítimas da triste situação da segurança pública carioca. Pobres cariocas, como crianças eles se acostumaram à viver sob o terror do poder paralelo do tráfico e das milícias.

Eu sei como é. A gente sempre se entusiasma ao falar de um mundo melhor, mas de qualquer forma nós só nos movemos quando a bala perdida nos acha por acaso numa sinuosa rua da vida.

Paulo Henrique Guerra é um universitário da Universidade Federal Fluminense do curso de Relações Internacionais louco para mudar o mundo.

 

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Paulo Henrique Guerra