Espanha “is different”. De quê?


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De tudo. Do Brasil, da Europa, do oriente e de todo o mundo. O país de “la siesta” induz o visitante a ser cúmplice da legendária forma de ser do espanhol, que se traduz em uma curta frase que define todo o caráter deste povo: “No pasa nada”.

Uma vez eu estava parado no sinal de um cruzamento quando um motociclista que conduzia uma espécie de lambreta esbarrou no para-choque do meu carro e caiu. Ë verdade eu estava parado! Minha sorte foi que tinha um carro da polícia parado atrás do meu, e os policiais viram tudo. Imediatamente desceram do carro, meteram o sujeito dentro e saíram a toda velocidade deixando-me lá, confuso sem saber o que fazer. Como bom cidadão, que sou, saí correndo atrás deles. Imaginei que se dirigiriam ao hospital mais próximo. De fato, chegando lá encontrei o carro patrulha parado na porta. Desci e fui me apresentar aos policiais para oferecer a minha ajuda ou assumir a minha responsabilidade, caso tivesse alguma. Me apresentei aos guardas como o motorista do carro envolvido no acidente, disposto inclusive a ir à delegacia resolver o problema. Então, descobri a primeira lei de vida na Espanha. Depois da minha apresentação e a inútil explicação, o guarda me disse: “Tranquilo, estamos en España, aqui no pasa nada”. Realmente não “passou” nada.

Assim é o caráter do espanhol. Tem que acontecer alguma coisa muito séria para que ocorra alguma reação notável. Vendo as noticias na televisão, a gente fica abismado de ver como o locutor ao narrar alguma detenção acrescenta: “El detenido ya lo había sido otras 35 vezes por el mismo motivo el pasado año”. Como? Um indivíduo que foi preso por furto ou roubo, já tinha sido detido outras 34 vezes pelo mesmo motivo em um ano? Verdade. Além de ser verdade é comum. Acontece todos os dias. Como é possível? Não sabemos com certeza. mas é assim, ladrões comuns são presos todos os dias por delitos pelos quais já foram enjaulados e desenjaulados varias vezes em um curto período de tempo. Mas, “no pasa nada”.

Ainda vendo as noticias, ouvimos que um fiscal pede 1500 anos de cadeia para um criminoso julgado por diferentes delitos ao mesmo tempo. Imaginem, 1500 anos apodrecendo numa cela, isso sim, com televisão, mesa para escrever, aquecimento, direito a visitas conjugais, e saídas diárias por bom comportamento. Lembro aqueles desenhos de uma caveira pendurada na masmorra de algum castelo feudal. Mas como é possível que o fiscal peça estas penas tão exageradas se todos sabemos que pelas leis espanholas ninguém pode passar mais de 30 anos na cadeia, e as condenas não se acumulam? Também sabemos que no máximo em dez anos este criminoso estará na rua outra vez. São coisas que acontecem na Espanha, “No pasa nada”.

Agora, uma das coisas mais interessantes da Espanha, também das mais conhecidas, é o saudável costume de dormir depois de comer. Ahh, la siesta! Aí sim que a gente se acostuma. Entre as 14:00h e as 16:30, não tente sair, comprar ou fazer nada, principalmente no verão, porque não vai ser possível. Todo mundo dorme. Qualquer lugar serve para dormir a siesta. Mesmo que você não esteja acostumado a “planchar la oreja” depois do almoço, vai acabar rendido à este hábito tão espanhol. Na verdade, o verão na Espanha é tão forte ao meio dia que a gente não tem vontade de fazer nada, mais se esta já era uma tendência natural e espontânea, como no caso dos brasileiros, especialmente os cariocas. Eu, por exemplo, já aperfeiçoei a “siesta” acrescentando algumas horas a mais. Se temos em conta que no verão o sol se põe perto das dez da noite, me parece lógico alongar a minha “siestecilla” até as oito, que aqui são da tarde. Santa siesta!

Outro costume muito respeitado na península ibérica é o de resolver qualquer problema, ou tratar de fazer qualquer negocio no bar tomando cerveja. A “Caña”, bendita “caña” de vinho ou de cerveja acompanhada de uma “tapita”. O que eu não sei é como depois de tomar varias cervejas ao dia e dormir varias horas, o pessoal consegue trabalhar. Porque aqui os caras trabalham. Mas trabalham daquele jeito, né. Uma encanação pode durar meses e uma obra muitos anos, ou pelo menos até que convoquem eleições, neste caso é como no Brasil, a obra se inaugura mesmo que seja sem terminar e… depois a gente arruma, “no pasa nada”.

Sabe de uma coisa, hoje é domingo, são três horas da tarde e estou na Espanha. Deveria terminar este texto de alguma forma lógica, mas já estou dando cabeçadas nas teclas e me sinto invadido por uma inevitável necessidade de dormir a “siesta”. E pensando bem, “no pasa nada”. Depois eu continuo. Até amanhã.

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Carlos Venturelli