Editorial By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet As coisas parecem ter se tornado mais importantes – e são tratadas melhor – do que as pessoas. Como seria um mundo em que esta ênfase fosse revertida? As coisas parecem ter se tornado mais importantes – e são tratadas melhor – do que as pessoas. Como seria um mundo em que esta ênfase fosse revertida? Se o foco tornasse a recair sobre as atitudes do dia-a-dia: as necessidades e prazeres de aprender, cuidar dos outros, preparar comida, ajudar no desenvolvimento de crianças, viajar e fazer trabalhos com sentido? Essas maneiras ancestrais de ser humano estão ameaçadas por forças globais que não consideram os desejos mais profundos das pessoas. Após uma análise superficial, alguém poderia dizer: "mas ora, se as pessoas ficam felizes quando compram, quando podem ter certos produtos, bens materiais, conforto, qual o problema?" O problema encontra-se justamente na insatisfação que logo sucede a aquisição de determinado bem ou mesmo conquista simbólica, como uma promoção no trabalho ou um prêmio recebido. Nos dias de hoje, todo "gostinho" dura bem menos do que antigamente. Logo chega um novo desejo para ocupar o lugar do primeiro. Estamos sempre insatisfeitos. Há 20 anos atrás, juntava-se dinheiro para comprar um bolachão, um disco em vinil, e aquele pedaço de petróleo era ouvido à exaustão, e com ele era criada uma relação afetiva, quase carnal, uma intimidade que não vemos hoje com iPods e iShuffles e outros MP3 players que armazenam quintilhões de músicas sem significado. No mundo de hoje, enquanto a mídia tenta vender uma imagem de liberdade progressiva (veja as propagandas de telefonia celular), cada vez mais temos menos escolhas – ou ficamos restritos às escolhas que nos são ofertadas. Se ter tanta coisa ao nosso alcance fosse realmente tão bom, por que parece que não estamos mais – e na verdade parece que, em geral, estamos menos – felizes? E para você: o que vale mais?