Quando Paris Alucina By Carlos Venturelli / Share 0 Tweet Antes de sair do Brasil com destino à Espanha, nós imaginamos as touradas, as bailarinas de Flamenco e aqueles homens e mulheres vestidos com roupas típicas, parecidas às do ballet do Roberto Leal e dizendo olé toda hora. Se imaginou isso, acertou! Mas só parcialmente. Esta Espanha que imaginamos existe e forma parte do que os próprios espanhóis conhecem como as duas Espanhas, uma que ainda vive como o faziam seus avós cinqüenta anos atrás e outra cosmopolita, urbana, sofisticada e moderna. Antes de sair do Brasil com destino à Espanha, nós imaginamos as touradas, as bailarinas de Flamenco e aqueles homens e mulheres vestidos com roupas típicas, parecidas às do ballet do Roberto Leal e dizendo olé toda hora. Se imaginou isso, acertou! Mas só parcialmente. Esta Espanha que imaginamos existe e forma parte do que os próprios espanhóis conhecem como as duas Espanhas, uma que ainda vive como o faziam seus avós cinqüenta anos atrás e outra cosmopolita, urbana, sofisticada e moderna. Um país cheio de contrastes e com diferenças marcantes entre uma província e outra, conforme esta se encontre situada no norte, sul, leste ou oeste. A primeira coisa que chama a atenção é a diferença lingüística entre as suas 52 províncias. Impressiona ver como em um país relativamente pequeno convivem tantas e diferentes nacionalidades. Sim, nacionalidades, porque se um catalão me escutasse dizer que Catalunya e Espanha são a mesma coisa, eu não sobreviveria para contar (exagero). Também é verdade que essa convivência nem sempre é pacífica. Quando eu cheguei à Espanha, exatamente em Madrid, notei que aqui o pessoal come sem arroz. No Brasil não podemos nem pensar em comer sem um arrozinho e um feijãozinho sempre que possível. Na Espanha comem com pão, guarnição indispensável para o espanhol. Pão com batata, com chocolate (em barra), com arroz, com qualquer coisa, pão. Você acaba se acostumando, mas no começo, quando vês aqueles molhos – quase tudo vem boiando – dá vontade de perguntar: – E o arroz? Também é notável o fato de que todo mundo usa azeite de oliva para cozinhar. Isso dá um gosto diferente à comida, que no princípio estranha. Existem diferentes graduações para a acidez do azeite que o fazem mais forte ou suave para o paladar. Aqui, em muitas províncias, quando pedes uma cerveja, esta vem acompanhada de uma "Tapa", o nome que se dá ao tira-gosto. A diferença é que é grátis com a compra da cerveja. Em alguns lugares, tomando quatro "cañas" ( copo pequeno ) de cerveja a gente sai almoçado! Outra coisa que não só me impressionou, como também me deixou traumatizado vários anos, foi o frio! O primeiro inverno foi o mais terrível da minha vida. Já tinha passado frio na serra, em cidades como Petrópolis, Terezópolis ou Nova Friburgo, mas aquilo era demais. Recém saído da praia no Rio de Janeiro, onde morei a maior parte da minha vida, chegar em Madrid e encontrar o que eles mesmos reconheciam como um dos piores invernos dos últimos anos, foi o batizado que eu tive. Durante muitos anos a chegada do inverno supunha uma tremenda angustia. Uma vez adaptados às diferenças climáticas e de alimentação, a gente começa a entender o povo e a sua maneira de ser, conforme o nosso vocabulário vai melhorando. Aqui as pessoas desconhecidas conversam na rua, no ônibus, no trem e em qualquer lugar. É curioso ver como as senhoras não param de falar durante todo o trajeto. Falam alto e não se preocupam pelo o que você possa escutar. Dentro do trem, às vezes parece que todo mundo se conhece. No mercado, no hospital, nas filas, todo mundo conversa. Na verdade, os espanhóis são muito simpáticos, amáveis e prestativos. Outra virtude dos espanhóis é a sua capacidade de trabalho. A gente vai a uma discoteca ou um restaurante e fica abismado de ver como os empregados trabalham a um ritmo frenético. O espanhol sabe se divertir mas também sabe ganhar o pão. A prova disso é a recuperação do país depois da guerra civil que arruinou quase tudo setenta anos atras (no Brasil estamos muito pior que setenta anos atras ). Espanha é um país com limitados recursos naturais, que sabe aproveitar o máximo do que dispõe. Aqui chove menos que no Ceará, mas não falta água. Quase todo o território está cultivado. Um dos seus produtos mais importantes é o vinho, com uma grande variedade de marcas e origens. Também destaca o "Jamón", uma espécie de presunto, só que em vez de cozido é curtido em sal durante mais de um ano. São comuns as lojas que vendem uma infinidade de tipos de salamis, presuntos, queijos e curtidos. Alguns desses produtos eram totalmente desconhecidos para mim. O verão é a época das festas. E as festas aqui duram vários dias, no mínimo uma semana. Costumam celebrar o dia dos padroeiros das cidades com uma semana de festas que incluem, quase sempre, desfiles pelas ruas, shows de musica, dança, muita comida e bebida. Estas, juntamente com as praias, são a melhor chamada para os milhões de turistas que visitam esse lugar todos os anos. O turismo é a primeira fonte de lucro do país, é o que move a economia espanhola. Esse mês, o aeroporto de Palma de Mallorca, o mais movimentado da Europa, comemora a chegada do visitante numero 200.000.000! Para nós brasileiros, é fácil adaptar-nos à vida na Epanha. É um país de pessoas receptivas e alegres, possui um clima agradável com estações bem definidas e é um lugar cheio de arte, berço de alguns dos mais relevantes personagens da cultura universal como Picasso, Dalí, Joaquín Rodrigo, Velázquez, Goya, Miró e muitos outros. Enfim, Espanha é um país onde é fácil ir de ferias e ficar para sempre.