De quem é a culpa? Cansei de procurar…

Entra ano e sai ano, sai ano e entra ano e há pelo menos quarenta anos, desde que tomei consciência de que existia algo mais que brincadeiras no mundo, tem sido a mesma coisa. Ainda ontem minha esposa perguntava sobre “o que havia de novo no mundo”. Nada ainda, respondi, mas logo teremos as tradicionais tragédias no Rio. Pois não deu outra.

Esse ano, no entanto, minha situação está pior: simplesmente não consigo reagir. Quarenta anos de tragédias parecem ter esgotado minha capacidade de encontrar uma resposta para a pergunta: de quem é a culpa? Raiva, indignação, tristeza, o que se puder imaginar de sentimentos parecem ter se esgotado.

É dos políticos e governantes a culpa, por nada fazerem para resolver os problemas e previnir novas catástrofes?

É das pessoas que se instalam nas áreas de risco e não querem sair de lá? E será que fazem isso porque querem, ou porque não têm outra alternativa? E aí voltamos para a culpa dos govenantes, que até hoje nada fizeram…

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu (Chico Buarque). Hoje parece ser um deles. ME sinto como um cachorro  querendo morder o próprio rabo. Governo-pessoas-governo- pessoas… e assim vai, sem que consiga sair fora…

Ligo a televisão e vejo que, enquanto a tragédia acontecia, milhares de pessoas se reuniam para o anúncio do Ronaldinho Gaúcho no Flamengo. E é aí que deu vontade de sumir de vez, pois descubro que a pergunta estava errada.

Não é de quem é a culpa que devo perguntar, mas quem somos nós como povo.

Quem somos nós como povo?

Inúmeras são as situações que poderia citar para tentar achar o que faz de nós um povo, além das técnicas (tipo, falamos a mesma língua, habitamos um mesmo território, etc.) e só encontro coisas ruins. Por exemplo: somos auto elogiáveis como povo solidário com quem sofre tragédias. LINDO, MARAVILHOSO, dá vontade de gritar! Mas também vou gritar: SÓ DEPOIS DAS TRAGÉDIAS ACONTECIDAS!

Pois também somos um povo INCAPAZ de fazer algo verdadeiro para evitar que as tragédias aconteçam. Durante o ano é cada um por sí e Deus por todos! Não nos mobilizamos para exigir dos governantes que ajm com antecedência; para que destinem E USEM as verbas necessárias para a solução definitiva dos problemas.

Somos um povo que paga para ver e bancar os ronaldinhos da vida, MAS É INCAPAZ DE EXIGIR que os impostos sejam aplicados na solução de tragédias recorrentes como essa do Rio de Janeiro.

Descobri que é isso que não me deixa reagir: NINGUÉM QUER MAIS NADA COM NADA nesse país! Cidadania é algo que foi pro brejo! Só me comovo – e olhe lá – quando sai a notícia de alguma desgraça!

De quem é a culpa? Cansei de procurar…

Não, não é do povo! É minha, só minha, de mais ninguém! E da minha hipocrisia…

 

 

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!