E a Besta começa a mostrar a face…

Leio, no Sul21, a noticia de que o jornal norte-americano New York Postpublica foto de homem prestes a morrer e causa polêmica“.

A barbárie da coisa toda está nas duas DESCULPAS dadas.

Uma pelo fotógrafo, de que “estava usando o flash da câmera para tentar alertar o maquinista e fazê-lo parar o trem.” Reparem na foto(1):

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Qualquer aluno que tenha repetido três vezes as aulas de física básica no colégio é capaz de ver que a distãncia que separa o trem da pessoa – e mesmo considerando que o trem estivesse a uma velocidade de aproximação da plataforma – tornaria impossível uma frenagem capaz de evitar o acidente. Disse também, o fotógrafo, que tirou duas fotos. Não vi registros das duas, mas podemos imaginar que tenham sido tiradas uma após a outra, o que significa que a distância do trem entre a primeira e a segunda foto não era muito grande, ou o suficiente para que o trem parasse já no primeiro flash.

Há, ainda, que se perguntar: o que leva alguém a pensar que tirar foto de um trem (coisa que deve ser relativamente comum) é sinal de que há um ser humano nos trilhos e que isso é um aviso para que pare condutor o trem?

Conclusão: o fotógrafo queria mesmo era tirar a foto. Estava se lixando para a pessoa que iria morrer. Qualquer outra interpretação tornará quem a faça mais inumano que o fotógrafo.

Não há explicação para o que esse fotógrafo fez. É de uma bestialidade sem adjetivos.

 Não bastasse isso, o próprio jornal se arvora o direito de defendê-lo, comentendo outra bestialidade que apenas demonstra o quão desprovidas estão todas as pessoas que lá trabalham de um mínimo senso, que seja, de humanidade.

Diz o jornal, em defesa da sua besta, “que o fotógrafo não teria força para puxar o homem para fora dos trilhos“.

Há momentos em que a Besta mostra a verdadeira face. Esse é um deles.

Não se trata de conseguir ou não tirar o homem para fora dos trilhos. Trata-se de algo já quase perdido: a humanidade. Mesmo com a certeza de que o homem iria morrer, uma simples tentativa teria aliviado o seu sofrimento.A simples esperança de uma salvação – pela mão que o puxasse – teria dado a ele um átimo sem o horror da morte iminente.

A humanidade de, antes mesmo de qualquer pensamento, buscar o outro em sofrimento. A ação, a energia direcionada para o outro.

Mas é como se diz “quem não faz tem 100% de chances de não errar; quem faz, tem 50% de chances de acertar”.

E vá que, na situação em que se encontrava o homem, não teria reunido forças em si para que, com apenas uma pequena ajuda, não conseguisse sair dos trilhoos?

Quem tem humanidade com certeza teria apostado nos 50%.

 E a Besta mostra a sua face…E sua face é a face de muitos que andam entre nós…

 (1) Copiei discaradamente do Sul21. Se houver problema nisso, basta comentar que retiro.

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!