Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Leio, no Sul21, a noticia de que o jornal norte-americano New York Post “publica foto de homem prestes a morrer e causa polêmica“. A barbárie da coisa toda está nas duas DESCULPAS dadas. Uma pelo fotógrafo, de que “estava usando o flash da câmera para tentar alertar o maquinista e fazê-lo parar o trem.” Reparem na foto(1): Qualquer aluno que tenha repetido três vezes as aulas de física básica no colégio é capaz de ver que a distãncia que separa o trem da pessoa – e mesmo considerando que o trem estivesse a uma velocidade de aproximação da plataforma – tornaria impossível uma frenagem capaz de evitar o acidente. Disse também, o fotógrafo, que tirou duas fotos. Não vi registros das duas, mas podemos imaginar que tenham sido tiradas uma após a outra, o que significa que a distância do trem entre a primeira e a segunda foto não era muito grande, ou o suficiente para que o trem parasse já no primeiro flash. Há, ainda, que se perguntar: o que leva alguém a pensar que tirar foto de um trem (coisa que deve ser relativamente comum) é sinal de que há um ser humano nos trilhos e que isso é um aviso para que pare condutor o trem? Conclusão: o fotógrafo queria mesmo era tirar a foto. Estava se lixando para a pessoa que iria morrer. Qualquer outra interpretação tornará quem a faça mais inumano que o fotógrafo. Não há explicação para o que esse fotógrafo fez. É de uma bestialidade sem adjetivos. Não bastasse isso, o próprio jornal se arvora o direito de defendê-lo, comentendo outra bestialidade que apenas demonstra o quão desprovidas estão todas as pessoas que lá trabalham de um mínimo senso, que seja, de humanidade. Diz o jornal, em defesa da sua besta, “que o fotógrafo não teria força para puxar o homem para fora dos trilhos“. Há momentos em que a Besta mostra a verdadeira face. Esse é um deles. Não se trata de conseguir ou não tirar o homem para fora dos trilhos. Trata-se de algo já quase perdido: a humanidade. Mesmo com a certeza de que o homem iria morrer, uma simples tentativa teria aliviado o seu sofrimento.A simples esperança de uma salvação – pela mão que o puxasse – teria dado a ele um átimo sem o horror da morte iminente. A humanidade de, antes mesmo de qualquer pensamento, buscar o outro em sofrimento. A ação, a energia direcionada para o outro. Mas é como se diz “quem não faz tem 100% de chances de não errar; quem faz, tem 50% de chances de acertar”. E vá que, na situação em que se encontrava o homem, não teria reunido forças em si para que, com apenas uma pequena ajuda, não conseguisse sair dos trilhoos? Quem tem humanidade com certeza teria apostado nos 50%. E a Besta mostra a sua face…E sua face é a face de muitos que andam entre nós… (1) Copiei discaradamente do Sul21. Se houver problema nisso, basta comentar que retiro.