Nosso rabo preso de cada dia…

O recente episódio envolvendo o senhor Marcos Valério – condenado a mais de 40 anos pelo STF, no caso mensalão – revela a índole do brasileiro. Sim, de todos, sem exceção. Não há viv’alma nesse país que, estando na mesma situação não faria o mesmo. E pior, fazemos isso cotidianamente em situações bem mais corriqueiras.
 
Dá-se a isso o nome de “rabo preso”. E todos temos o rabo preso em alguma circunstância. Aliás, construímos a vida tentando prender o rabo: com os amigos, com o chefe, com o gerente do banco, com a mulher/marido… Relações humanas são, por natureza, relações de construção de rabos presos.
 
Ensinamos nossos filhos, desde pequenos, técnicas de prender o rabo. Qual pai, ou mãe, já não disse para o filho: “vou te dar essa bala, mas não conta pro teu pai/mãe!”. Pronto! Filho com rabo preso. Para ganhar mais balas, sabe que deverá honrar o compromisso.
 
Mas junto com a lição do rabo preso, aprendemos a delação premiada: em troca da barra de chocolate, entregamos o genitor que nos havia “preso o rabo” com as balas.
 
Assim, não espanta em nada que esse senhor Marcos Valério tenha querido trocar as suas 40 balinhas por uma, ou mais, barras de chocolate. O chocolate, no caso, seria o ex-presidente Lula.
 
Sim, Lula é uma barra de chocolate: Não há quem não goste, seja em que versão for. Há os que detestam o Lula “Meio Amargo”, preferem-no “Ao Leite”; há, também, os que pensam ser Lula um chocolate “70% Cacau” e, por isso, querem acabar com ele, pois acham-no extremamente desagradável ao paladar. Novamente, prefeririam que ele fosse “Ao Leite”, isto é, gostoso mas inofensivo. Sem contar, é claro, com as eternas “em regime”, que nunca podem comer chocolate. Nesse grupo encontram-se o PIG e seus obesos jornalistas/cronistas; os que se autodenominam “liberais”; as viúvas do FHC e, mais recentemente, as viúvas do Serra. Sem contar, claro, com todos quantos desejam que Lula morra logo.
 
Todos, sem exceção, apontam para o suposto rabo preso do Lula com senhor o Marcos Valério. Como disse, não me espanta, mais ainda em vindo de quem tem seus diversos rabos presos.
 
E dizer que eu julgava a hipocrisia uma grande qualidade dos seres humanos. Penso em trocar o nome da coluna: Hypocrisis já não se revela suficiente para entender o comportamento humano. Vou procurar um novo nome… Deixarei a hipocrisia para aqueles que, certamente, dirão: “eu não nunca tive rabo preso”….
 

Achei! “Nosso rabo preso de cada dia”.

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Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!