Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Ok! É um negócio privado e ninguém tem nada a ver com isso, certo? Nem tanto, talvez! Ironicamente batizada de Torre da Liberdade, o One World Trade Center é muito mais um símbolo da falta de liberdade de toda uma civilização. Um modelo de civilização que aprisiona mais de 1 bilhão de seres humanos na fome (uma e cada seis pessoas no planeta. Fonte: https://www.fao.org.br/dma2009_asaec.asp); mais de 1 bilhão na falta de água potável (Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_272416.shtml), e outros tantos mais sem moradia ou sem moradia adequada. Os que possuem acesso, mínimo que seja, à moradia, alimentação e água potável, estão presos a um modelo de desenvolvimento urbano que faz as pessoas perderem 2 horas e 43 minutos por dia no trânsito (dados de São Paulo, por exemplo. Fonte: http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/9177) ; vivem sob níveis de poluição altíssimos; trancam-se em casa para terem um mínimo de segurança (com todo aparato possível: cercas elétricas, segurança particular, cães, etc..) e por aí vai. É uma realidade por todos conhecida e vivenciada. Continuar enumerando situações de falta de liberdade do nosso “modelo de civilização” seria continuar a chover no molhado. E vemos na notícia “Novo World Trade Center passa a ser o prédio mais alto de Nova York”(1): Contudo, o prefeito Michael Bloomberg enfatizou o lado positivo da obra, destacando a relação da cidade com uma arquitetura exigente. — O horizonte da cidade de Nova York está, uma vez mais, se elevando a novas alturas — disse Bloomberg. — Os últimos avanços no World Trade Center são um testemunho da força e da determinação dos nova-iorquinos e de nossa crença em uma cidade que sempre vai mais alto. — Hoje nossa cidade conta com um novo edifício mais alto e um novo sentido de nosso radiante futuro — disse Bloomberg. “Uma cidade que sempre vai mais alto” e dá “um novo sentido de nosso radiante futuro”. É para isso que trabalhamos, para um futuro radiante onde o produto do trabalho seja empregado no fortalecimento do sistema prisional da fome, da sede, da poluição, da insegurança. O trabalho dignifica o homem. Não é assim que somos educados e assim passamos a vida? E morremos felizes por termos deixado trade centers mundo afora. Orgulhosos dizemos que criamos e alimentamos nossos filhos para que sigam a mesma trajetória: iludirem-se a vida inteira que são felizes por trabalharem e por terem o sagrado e constitucional direito de fazer greve. Contra o quê? Ora, contra o mesmo trabalho que lhe “dá a felicidade”. Greve para melhorar a prisão onde estamos… Certo. Podemos ir a um cinema, ver a novela, comer pipoca, passear no parque… Temos nosso feno garantido, ao menos. É apenas isso que nosso trabalho rende: feno para continuar trabalhando até morrer. Nosso trabalho é inútil, pois só serve para construir torres da liberdade mundo afora. (1) Fonte da imagem e da citação: Portal ZeroHora/ClicRBS: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2012/05/novo-world-trade-center-passa-a-ser-o-predio-mais-alto-de-nova-york-3744221.html