Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Atenção: esse texto ignora as novas e as velhas regras do hífen. Obrigado. O que define a relação entre homem e mulher é o sexo? Embora importante, não é o fator MAIS importante. Homens e mulheres buscam relações com base na AFETIVIDADE, isto é, no “conjunto de fenômenos psíquicos que são experimentados e vivenciados na forma de emoções e de sentimentos” (Houaiss). Conjunto de emoções e sentimentos do qual o sexo – e sua expressão, a sexualidade – forma apenas uma pequena parte. Afinal, embora passemos o dia “pensando em sexo”, só o fazemos, em média, lá de vez em quando… tempo ínfimo se comparado com o que gastamos com os outros fatores do conjunto. Embora os atuais debates sob a cunha da expressão “gênero”, tradicionalmente homens e mulheres nunca foram definidos/diferenciados por sua sexualidade. Mulheres eram consideradas inferiores por vários outros aspectos que não o sexual. Não tinham força física; quiçá capacidade intelectual para o exercício de profissões “mais nobres”; não podiam votar, enfim, uma série de conceitos onde o sexo não era o que importava. Sem forças político-sociais-culturais para mudar a situação – junte-se a isso o fato do sexo ser um tabu -, coube às mulheres trazer ao mundo a sexualidade como forma de expressão. Afinal, é delas a chave do cofre sexual. A partir daí a sexualidade passou a ser o fator definidor dos humanos. E tem sido assim até hoje, o que, a meu ver, é o grande erro. Trocamos o antropocentrismo pelo “sexocentrismo”. Quem não é homem ou mulher, é homossexual. O sexo torna-se o fator mais importante. As relações humanas são definidas pela “orientação sexual” das pessoas. Chegamos ao limite de criar a expressão “heterossexual” para classificar homens e mulheres que se relacionam sexualmente com mulheres e homens, respectivamente. Gay e lésbica (e posteriormente os transexuais, transgêneros, travestis, bissexuais e simpatizantes) são expressões que remetem apenas a chamada “orientação sexual”, ao sexo. Daí muita discussão sobre se é doença, se é opção e tantas outras. O que está faltando, e aí reside a hipocrisia de todos, é aceitar que o que existe são relações humanas de afetividade. Algumas delas entre pessoas de mesmo gênero; outras entre pessoas de gêneros diferentes. Homoafetividade e heteroafetividade. Só isso. Quando mudarmos o foco das relações humanas da sexualidade para a afetividade, talvez consigamos ser uma sociedade que se respeite e que respeite seus integrantes apenas como cidadãos. Cidadão não tem sexo. Acabar com o preconceito e com a violência contra a homossexualidade passa por acabar com a definição do ser humano a partir do sexo. Que façam isso os que hoje se definem como homossexuais. Comecem pela luta da valorização da relação afetiva tão somente. Parem de se chamar homossexuais e exijam da sociedade que também pare. Se às mulheres coube a revolução sexual na década de 60, cabe a nós, agora, a revolução da afetividade. Eu não sou heterossexual e não gosto de ser chamado assim. Tenho uma relação heteroafetiva com minha mulher e inúmeras relações homoafetivas com meus amigos homens. E sem hipocrisia.