Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet … do que ousa sonha nossa vã filosofia.“ COROLÁRIO 1: De onde menos se espera, é de onde não sai nada mesmo! COROLÁRIO 2: “Apenas duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. E eu não tenho certeza se isso é verdadeiro para o primeiro.” (Einstein) DEMONSTRAÇÃO: “Isto é evidente!” (Espinosa). Basta ver o tal projeto de lei que circula no Congresso Nacional, apelidado de “Bolsa Estupro”. ESCOLIO 1: Que vivamos em tempos difíceis, em termos de assentamento de uma identidade nacional, faz parte da evolução. Nada mais é do que uma natural exacerbação de uma continentalidade forjada pela força. E, claro, por circunstâncias que hoje fogem ao nosso alcance, posto que ocorridas fora dos discursos da maioria dos historiadores. Não vi, confesso, de quem é a autoria do tal projeto. E justifico o que alguns poderiam chamar de “falha minha”, com o simples argumento de que não é o autor de uma obra que faz dela uma boa obra. Fora esse tipo de crítica unânime na humanidade, sequer Deus passaria no teste. Afinal, há os que, como eu, prescindem da existência de Deus. Logo, não há como qualificar uma obra produzida por quem não existe. Não é o caso, nesse caso, da obra produzida por quem se qualifica como humano. Que haja autoria não é de espantar ao mais despreparado, socialmente falando, dos cidadãos. (assim deveria ser, ao menos). ESCOLIO 2: Há uma diferença, talvez pequena para alguns (e para uma boa parcela, nenhuma diferença há), mas muito grande para quem se dá tempo para pensar, entre o exercício filosófico de ter e expressar ideias e o existir na realidade social e humana. Sói acontecer – com mais frequência que a devida – no nosso ínfimo mundinho mental, que julguemos serem nossas ideias e convicções as mais adequadas para todos os nossos semelhantes. Apesar de fenômeno natural e pertinente aos seres humanos, esse tipo de pensamento peca por várias razões. Cito algumas poucas, dentre tantas: – o que impomos aos outros, via de regra, jamais pensamos será imposto a nós; – se fui eleito representante de determinada parcela da população, estou livre do meu compromisso com a Nação. Devo obrigações apenas para aqueles que me elegeram; – Estou livre para esquecer que apenas uma minoria me elegeu – frente a imensa maioria da população do país – e propor/votar leis que favoreçam apenas essa pequena minoria; – Estou livre para esquecer que pertenço a um poder que é Nacional e que, portanto, deveria pensar em todos e não apenas nos meus eleitores… E por aí vai… E vai longe! ESCOLIO 3: Não serei eu a ter que ingressar com uma ação na Justiça por falta de pagamento da pensão! Se assassinos confessos não vão para a cadeia – ou são soltos por falta de espaço -, alguém de sã consciência poderá me garantir que o estuprador que gerou meu filho vá por não pagar a pensão? Jamais haverá limites para o que a sociedade deverá pagar aos criminosos? Sim, pois ao teor do texto, não havendo quem pague, caberá ao Estado o pagamento! ESCOLIO FINAL: Não há mais nesse país defesa dos direitos humanos. Há, sim, a defesa de uma campanha pela eliminação da dignidade humana! Há quem tente sobrepor interesses e crenças pessoais ao que de mais caro temos: a dignidade humana. E, no caso, a dignidade de quem homem algum jamais saberá o que significa: ter que carregar no ventre o fruto da violência. Não a vida, como defendem, pois não haverá vida digna fruto da violência. Essa é a realidade que ninguém quer encarar: depois de nascido, representante algum, ou qualquer um que defenda essa vida, com palavras e bravatas, vai estar por perto pelos próximos oitenta ou mais anos para sustentá-la; para dar-lhe emprego; para dar-lhe condições de ultrapassar a condição de nascituro e viver! Vou dormir com vergonha de pertencer a uma espécie que ainda produz gente que propõe esse tipo de “lei”. Mas vou acordar com mais vergonha ainda por saber que vou continuar a conviver com gente que apoia esse tipo de ideia. Jamais esperei viver esse tempo todo para ver isso!