Até para encontrar um título para este texto está difícil…


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Meu nome? Zé, seu moço. Tenho 64 anos. Trabalho há 45. Alguém até pode perguntar porque não me aposentei ainda. Não tive muito estudo não, seu moço. Só ganhei salário mínimo. A vida toda. Não dá pra aposentar assim. Minha sina é morrer trabalhando.

Tenho 40 anos. Trabalho há pouco mais de 15. Alguém até pode perguntar porque me aposentei. A explicação é simples: fui governador. Mereço ganhar o teto de R$24 mil de aposentadoria. É a minha sina, está escrito na lei. E tem mais, fui deputado, antes, e mereço ganhar a aposentadoria por isso. Oito dos preciosos anos da minha vida dedicados ao povo fazem jus ao que ganho.

Essa é a realidade, nua e crua.

E o ex-governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares, em entrevista ao jornal Zero Hora (*), ainda diz, do alto da sua suprema divindade: “E o gasto que tem um ex-governador é muito grande para fazer conferências, viagens e debates, e ele deve manter um padrão de vida”.

[não vou me dar ao trabalho de comentar. Em todos os casos, fica aqui uma pergunta: por que nós devemos pagar as palestras dele? Se aceitou fazê-las é porque quis, ou  não? E as viagens? Por que quem o contratou não paga? Olha só: eu convido um ex-govendaor para dar uma palestra e o povo paga. Maravilha esse país… OK. Eu disse que não ia comentar… Afinal, o Zé também tem que manter o padrão de vida…]

E a ex-governadora Yeda Crusius, que sabidamente foi a pior governadora do Estado; que mentiu descaradamente sobre as contas do governo; que é alvo de ações das mais variadas espécies? Pediu a sua aposentadoria depois de tão somente quatro anos acabando com o Rio Grande do Sul. Fora a que já ganha como prefessora da UFRGS e como ex-deputada.

E ganharão VINTE E QUATRO MIL REAIS PELO RESTO DA VIDA! É a lei, dizem eles!

Não bastasse tudo isso, a Procuradoria-Geral do Estado emite parecer dizendo que o acúmulo de verbas públicas é legal. Cita leis e mais leis para isso.

Deus, ó Deus! Onde estás que não respondes? Deve estar se perguntando seu Zé.

Eu não teria coragem de dizer que chegamos ao fundo do poço, porque sabemos que esse fundo é móvel, sempre pode descer mais. Assim como seu Zé, milhões de nós leva 30, 40, 50 anos para mal e porcamente conseguir um salário mínino de aposentadoria. Por extenso: quinhentos e quarenta reais.

Não fiz as contas exatas, mas essa gente “ex” deve receber algo próximo a R$40.000,00 só de aposentadoria(**). Essa mesma gente que se auto denomina de “agentes políticos”, de “órgãos do estado”, de “membros” das mais variadas corporações de ofício; essa gente que vive arrotando ser melhor que todos os demais para justificar seus “subsídios” e suas aposentadorias?

E nós? Quietos como convém a toda boiada que só tem serventia para servir de sustento a tudo isso!

Mas é a lei, dizem eles. E a lei, dizem os tribunais; é a lei, dizem os defensores da sociedade. É a lei, dizem os que fazem a lei.

É a lei, dizemos nós. Talvez esse fosse um bom título… Vou lá trocar. “É a lei, dizemos nós!”

(*) Lido na edição impressa n.º 16.573 – 2ª edição, de 20/01/2011, p. 6.

(**) Ressalva ao ex-governador Pedro Simon, que por mais de 20 anos declinou da aposentadoria.

[atualização] Leio, na Zero Hora, que o governador Tarso Genro vai “propor mudanças no pagamento de pensão de ex-governadores“. Muito bem, não fosse essa colocação:

Temos que, pelo menos no Rio Grande do Sul, ajustar essas pensões a uma visão de sobriedade dos gastos públicos, sem atingir qualquer direito adquirido. A questão da Justiça da pensão em si depende do caso concreto do governador, se ele precisa ou não, qual é sua situação econômica real depois de ter saído do governo — disse

E o Zé começou a pensar, afinal, porque eu devo pagar pela situação econômica de alguém depois que sair do governo? Que sociedade é essa que estabeleceu esse “valor” par si? Um valor que torna uns melhores que outros? Que diferença existe entre um ex-governador e um ex-trabalhador comum? Por que governos não se preocupam com a “situação econômica real” das pessoas depois que se aposentam? Será que essa gente é tão incapaz que precisamos pagar para que continuem no fausto das suas vidas.

Alguém poderia responder para o Zé: algum desses que ganham pensão depois de 4 anos fez realmente algo que mudasse a vida das pessoas? A miséria não continua por aí? A fome não continua por aí? Algum deles resolveu o problema das milhares de crianças de rua? Algum deles resolveu o problema das enchentes? Algum deles resolveu o problemas das drogas? Das favelas?

O Zé não entende como alguém pode ganhar pensão por deixar o estado ou o páis desse jeito e ainda achar que merece. A verdade, nua, crua e dolorosa é que vivemos em um país muito triste. Triste porque escolhe esse tipo de valor moral como condutor da vida das pessoas.

Esses mesmos que deram para si essa imoralidade deram para os demais trabalhadores pedágios, redutores, aumento da idade para aposentadori,, burocracia para conseguir se aposentar, provar com documentos que contribuiu por toda a vida.

E o Zé sentiu vergonha de ser brasileiro…

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!