O maravilhoso mundo dos quadrinhos online

Quem disse que é preciso estar numa editora para fazer sucesso? Várias séries viraram fenômeno na Internet provando exatamente o contrário…

Uma das minhas HQs atuais favoritas é PvP, criação do americano Scott Kurtz. Criada para internet e lançada nos EUA em edições de periodicidade irregular pela Image Comics, a série comemora em 2008 uma década de existência – número invejável num meio teoricamente efêmero como a internet.

Claro que PvP tem bem menos leitores que as tiras publicadas em jornais, mas pense num detalhe: muita gente acaba lendo Dilbert ou Snoopy simplesmente porque estas tiras vêm no jornal que estas pessoas compraram por causa do caderno de classificados. Já o público de PvP e outras HQs online acessa o site com o único propósito de ler a tirinha do dia. Ou seja, o público é menor, mas mais fiel – e está diretamente interessado nas histórias. Essa é uma das razões pelas quais eu adoro esta forma de publicação de quadrinhos, mas não é a única…nem a principal.

O que verdadeiramente me fascina na publicação online é a possibilidade de resposta do (e ao) público. Scott Kurtz costuma postar, juntamente com cada tira de PvP, um parágrafo comentando o material. O que ele gostou e não gostou de fazer na tira do dia, de onde veio a idéia, a nova técnica de arte-final que está testando…e o contato também fica mais fácil na via oposta. Os fãs podem enviar comentários diretamente ao autor e receber uma resposta direta dele, sem passar por uma longa fila de agentes e assessores.

Um bom exemplo disso aconteceu no final do ano passado, quando Kurtz colocou no site uma história com um lapso cronológico. Nada grave, mas foi o suficiente para vários fãs enviarem e-mails comentando a falha. Em poucas horas, o desenhista agradeceu a quem havia percebido o erro, corrigiu a tira e pôs no ar uma versão retificada. Nem preciso dizer que Jim Davis, o pai do Garfield, não pode se dar a este luxo – afinal, como corrigir 3.000 jornais em todo o mundo?

Escrevo para sites de quadrinhos há dois anos, e posso dizer que a tradicional imagem dos cartunistas como seres inacessíveis costuma ser só fachada. Quem publica em sites nem essa fachada tem; Kurtz e Tim Buckley (que faz Ctrl-Alt-Del, outra HQ online de grande sucesso) comentam suas criações e muito mais em seus blogs, criam páginas em sites de relacionamentos e postam freqüentemente nos fóruns que mantêm. Kurtz, Buckley e outros artistas que publicam na internet são verdadeiras agências de marketing de um homem só, levando a expressão "quadrinhos independentes" a outro patamar. As páginas oficiais das duas tiras vendem produtos licenciados – de camisetas a bonecos, passando por sacolas e chaveiros – e liquidações de itens mais antigos "achados numa caixa na garagem" são comuns.

Claro que não defendo o fim das revistas impressas, apesar destas sofrerem constantes quedas nas vendas com a concorrência da web. Mesmo Kurtz e Buckley lançam encadernados das histórias que vemos online, provando que o sonho de ver seu trabalho impresso ainda tem um peso considerável. Mas é sempre bom saber que existem artistas explorando as alternativas, principalmente quando não conseguem espaço nas editoras convencionais.

Afinal, nestes tempos de perseguição ao lucro em que vivemos, as editoras não se dão mais ao luxo de lançar revistas para testar o mercado e depois investir em séries fixas conforme as vendas. Preferem concentrar esforços em títulos que já têm uma base de leitores estabelecida – e é aí que a Grande Rede pode fazer a diferença. Quer jeito melhor de criar um fã-clube do que mostrando seu material de graça, para o mundo todo?

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Tiago Andrade