Desvendando o comportamento: do simples ao complexo – pt 1

Neste texto, explicarei uma unidade básica de análise do comportamento. É a partir dessa unidade que podemos chegar a outras mais complexas e, por meio delas, à compreensão de processos humanos elaborados.

Imaginem um cara colocado diante de um computador. Na tela, existe um monte de figuras verdes e azuis, que são substituídas por outras a cada 5s. Alguém diz a ele que clicar nas figuras corretas produz pontos e que esses pontos podem ser trocados por dinheiro! É muito provável que essa pessoa começaria a clicar em todas as figuras avidamente.

Mas aí, uma coisa acontece: clicar em figuras predominantemente verdes nunca produz pontos! Mas clicar nas figuras azuis sempre produz pontos! Depois de um tempo sob essas condições, é quase certo que nosso protagonista passa a clicar apenas nas figuras em que a cor azul predomina. É possível afirmar que ele praticamente deixa de prestar atenção na cor verde, mas que seus olhos brilham diante do azul.

Por que esse processo ocorre?

A força mais poderosa da natureza é a sensibilidade dos seres vivos às conseqüências do que fazem. A idéia é a de que nosso comportamento é controlado por seus resultados, e não apenas pelos eventos anteriores a eles. Essa concepção não é nova. Chama-se seleção pelas conseqüências e foi descrita por Darwin. A diferença é que Darwin utilizava esse conceito para falar de espécies, enquanto os analistas do comportamento o empregam para falar de aprendizagem.

O processo funciona de forma simples: as ações que geram conseqüências “boas” (reforçadoras) para quem as realizou têm alta chance de serem repetidas. As ações que geram conseqüências “ruins” (punitivas) têm grande probabilidade de deixarem de ocorrer. Essas afirmações são amparadas por centenas de pesquisas (em um outro texto, vou explicitar caminhos para chegar a esses estudos).

Apesar da ênfase nas conseqüências do comportamento, ele não acontece no vácuo. Há sempre uma situação em que ele ocorre. Voltando ao exemplo do cara clicando nas figuras: ele clica nelas porque isso produz pontos, certo? Mas reparem que há mais a considerar. Ele clica quando as figuras são azuis, mas não quando elas são verdes. Isto é, de certo modo, ele consegue diferenciar entre ambas.

O comportamento é clicar! A conseqüência são os pontos! Mas ele só faz isso diante do azul! Nunca do verde! O azul deve controlar o comportamento dele de alguma forma!

E é isso mesmo que acontece! Como a pontuação só ocorre para as figuras azuis, o comportamento do protagonista começa a ser controlado pela cor azul! Dizendo isso de forma mais completa: Ele é controlado pela cor azul porque ela está correlacionada com a obtenção de pontos! A cor verde também exerce algum controle sobre ele: diante de figuras dessa cor, o protagonista nada faz (e nada fazer é um tipo de ação).

É a conseqüência do comportamento (os pontos), que faz com que o comportamento volte a ocorrer, e é também a conseqüência que faz com que o azul se diferencie do verde! Diferenciar, nesse caso, quer dizer discriminar, perceber, etc. Não havia motivos para prestar atenção a uma das cores em razão maior do que a outra antes dos pontos obrigarem nosso amigo a fazer isso.

Em poucas palavras: a conseqüência comanda o processo! Esse fenômeno descrito envolve os seguintes acontecimentos: um comportamento (clicar em figuras) ocorre com mais freqüência se produzir reforçadores (pontos), mas os reforçadores só ocorrem em algumas condições (figuras azuis, nunca verdes) e isso faz acontecer a discriminação da cor azul, resultando em um comportamento controlado por essa cor e pelos pontos. É possível notar que a cor azul aparece antes do comportamento e os pontos aparecem depois dele. Esta é uma informação importante.

Agora que o processo é conhecido, vale a pena ficar um pouco mais técnico. Temos o seguinte:

  • R= a resposta do organismo (no exemplo, clicar)
  • SD= contexto em que a resposta ocorreu (no exemplo, a cor azul)
  • SR= conseqüência da resposta (no exemplo, pontos)

O objeto de estudo mais básico da análise do comportamento é a relação entre esses três eventos:

SD -–> R -–> SR

Essa unidade de análise simples dá origem a unidades mais complexas, que dão conta de comportamentos elaborados, como a linguagem. São um ponto de partida inicial para a compreensão de uma unidade que contém quatro ou mais termos e que será discutida no meu próximo texto.

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Robson Faggiani