Existe profundidade de análise e intervenção na Terapia Comportamental?


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Freqüentemente tenho ouvido de alguns colegas psicólogos não-analistas do comportamento comentários sobre a terapia comportamental de que ela não é profunda, ou seja, não foi desenhada para atentar para os problemas existenciais mais próprios do ser humano. Interessante notar que essas mesmas pessoas têm me encaminhado seus clientes mais difíceis por não terem tido êxito no tratamento. Sobretudo quando são clientes com diagnósticos mais complexos.

Freqüentemente tenho ouvido de alguns colegas psicólogos não-analistas do comportamento comentários sobre a terapia comportamental de que ela não é profunda, ou seja, não foi desenhada para atentar para os problemas existenciais mais próprios do ser humano. Interessante notar que essas mesmas pessoas têm me encaminhado seus clientes mais difíceis por não terem tido êxito no tratamento. Sobretudo quando são clientes com diagnósticos mais complexos, a exemplo de depressão moderada à severa, problemas conjugais, transtorno obsessivo-compulsivo, problemas de relacionamento, transtorno de personalidade borderline, transtornos de ansiedade, etc.

Eu sempre fiquei me perguntando como é que um profissional que alega superficialidade de análise no meu método, não obstante, encaminha seus clientes com maiores sofrimentos e dificuldades de relacionamento interpessoal? Como uma terapia superficial poderia tratar um problema complexo? Bom, acho que teríamos que demarcar um primeiro marco para começarmos o nosso debate: o que seria um problema profundo em psicologia?

Se eu perguntar para um clérico, creio que é possível que ele me relate que um problema profundo é uma transposição de alguma lei divina, a exemplo dos mandamentos. Se, não obstante, eu perguntar para um terapeuta cognitivo-comportamental é provável que ele me responda que é a expressão comportamental de algum(ns) esquema(s) específico(s) de pensamento extremamente disfuncional(is). Para um psicanalista, algum(ns) desejo(s) inconsciente(s) reprimido(s) que tem como conseqüência certos sintomas. Enfim, fica claro que os juízos do que venha a ser um problema profundo em psicologia são tão díspares quanto forem as tradições consultadas. Em síntese é esperado que o que é um entendimento profundo para um seja avaliado como sendo uma superficialidade para outro. Isso na melhor das hipóteses, pois via de regra o entendimento do vizinho é literalmente desconsiderado. Mas não se trata aqui de depor a favor da verdade de alguma teoria, até porque eu não teria competência para falar das outras tradições como teria para falar da análise do comportamento. Alternativamente, pegarei outro rumo. Minha tarefa aqui será não a de defender essa tradição, mas a de explicitar o porquê das terapias comportamentais serem profundas e honestas com os problemas que pretendem abordar.

As terapias comportamentais por serem filosoficamente embasadas no behaviorimo radical, aproximam-se de um prisma filosófico pragmatista de conhecimento, não no sentido leigo de que “faça e se der certo então tomamos como verdade”, mas no sentido de que os resultados planejados em nossas pesquisas clínicas têm necessariamente que ser orientados por uma hipótese inicial e confirmados pelas informações coletadas. Se o resultado não foi planejado e funcionou, algo está errado, ou nossa explicação, ou nosso método. De outro modo, se no papel de terapeutas não conseguimos dar conta de um problema que traz nosso cliente, então ou não dominamos o método científico analítico-comportamental, ou o conhecimento levantado até agora pela literatura não teve a menor serventia. Cruel essa conclusão, pois se a terapia não alcança resultados, assumindo-se que o cliente esteja de fato engajado, então estaria na hora de retomarmos as pesquisas no sentido de avançá-las.

Portanto, primeiro ponto a esclarecer sobre uma suposta superficialidade: O cliente sempre tem a razão! O dado é unânime, mas a interpretação que se tem dele não. Esse é o trabalho do psicólogo analista comportamental clínico que persegue a excelência na aplicação de sua ciência em problemas de relevância social, sem abrir mão do rigor ético. Daí o porquê da efetividade ser uma conseqüência desse trabalho todo.

A essas alturas já tenho condições de apresentar o segundo ponto a esclarecer quanto à afirmação inicial sobre superficialidade: Não creio honestamente que uma terapia superficial fosse dar conta dos desafios que esses clientes “difíceis” oferecem. Acredito que uma grande fração dessas percepções equivocadas sobre terapia comportamental se deva ao fato dos cursos de psicologia oferecem uma péssima formação dentro do hall de disciplinas relacionadas ao behaviorismo radical (quando muito, regular). Profundidade em psicologia clínica, penso eu, é ter respaldo metodológico suficiente e adequado para identificar os fatores relevantes relacionados aos problemas de comportamento e dar conta de oferecer um tratamento digno, adequado e efetivo às pessoas que mais precisam de nós: nossos clientes, as pessoas que estão em intenso sofrimento e nos depositam, muitas vezes, suas poucas esperanças.

Obviamente agora fica claro que as afirmações sobre superficialidade são feitas sem conhecimento do que venha a ser a análise comportamental clínica. Em ciência, distorções são sempre perigosas. Mas felizmente, acredito que já posso esboçar uma tentativa em definir a terapia comportamental.

Terapia comportamental é um ramo de aplicação da psicologia, embasada nos princípios de aprendizagem oriundos das pesquisas de base de uma ciência chamada Análise Experimental do Comportamento e nos princípios filosóficos do Behaviorismo Radical de B. F. Skinner e sucessores. Modernamente muitos autores brasileiros têm preferido chamá-la de terapia analítico-comportamental e autores estrangeiros de análise comportamental clínica (sobretudo americanos). A terapia comportamental evoluiu ao longo das décadas alcançando hoje um status científico de respeito junto às pesquisas que a comparam com terapias psicosociais de outras tradições e com medicações psiquiátricas. Dadas pesquisas já mostraram sua eficácia não somente a curto prazo, mas também a longo prazo em estudos longitudinais, ou seja, estudos que verificam os ganhos terapêuticos alguns anos após os sujeitos terem sido submetidos ao tratamento.

O terapeuta comportamental está particularmente interessado nos contextos em que os comportamentos do cliente têm como conseqüências os sentimentos, pensamentos e condutas relatadas como desagradáveis, difíceis e sofridas. A terapia dá ênfase a um entendimento contextual dos problemas de comportamento. Junto ao cliente, analisam-se os fatores contextuais que influenciam seus problemas de comportamento, levando-o a ter consciência e a escolher novas possibilidades de conduta dentre as possibilidades que sua vida individual oferece. O processo terapêutico pode, por assim dizer, ser entendido como um processo consciente de aprendizagem, e acima de tudo, de profunda vivência emocional e relacional entre terapeuta e cliente. Em síntese a terapia comportamental é um espaço onde os clientes têm rara oportunidade para redefinirem seus valores, repensarem sua qualidade de vida e assumirem a autoria das novas ações em suas vidas.

Nos próximos textos vou tentar falar um pouquinho mais sobre a terapia comportamental, começando pelas perguntas mais elementares que observo nos meus alunos da graduação dos primeiros anos aqui na UFPR.

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Paulo Abreu