Água Mineral: aprecie com moderação

Água: beba à vontade, porque faz bem à saúde. Quanto à garrafinha, aprecie com moderação. Essa mistura de chavões retrata, um pouco, o atual debate em torno da indústria de água mineral nos Estados Unidos e na Europa. Lá no primeiro mundo esse setor vem sendo duramente criticado por conta dos impactos ambientais do uso de copinhos plásticos e garrafinhas. Nada de novo. Aqui no Brasil, ou ao menos em São Paulo, a água em garrafinhas PET se tornou muito popular. A diferença é que, por aqui, o debate ainda não ganhou corpo.

No exterior, a polêmica é enorme. Só para vocês terem uma idéia, o New York Times publicou, dia 1 de agosto, um editorial (que reflete, portanto, a opinião do jornal) no qual critica a indústria de água. Segundo o jornalão, beber água mineral significa ignorar solenemente que a maioria das cidades dos Estados Unidos possui um sistema confiável de tratamento de água. Ou seja: podem beber água da torneira e dormir tranqüilos. Nos Estados Unidos, pelo menos. Pelas contas do New York Times, se uma pessoa consumir apenas água mineral (que, por lá, é importada da Itália, da França ou das ilhas Fiji), gastará anualmente algo em torno de US$ 1.400. Bebendo água ‘torneiral’, apenas US$ 0,49 (isso mesmo, quarenta e nove centavos de dólar). O britânico The Guardian vai pela mesma linha: diz que a água distribuída na Inglaterra é das mais puras e mais seguras do mundo. Pra comprovar a idéia, chegou a fazer um teste cego, da água ‘torneiral’ versus a mineral, made in França. O resultado: nenhuma diferença. O título da matéria refere-se a esse teste: “Insanidade ambiental: beber água mineral se a água da torneira tem o mesmo gosto”.

Mas a questão econômica é a que menos pesa nessas circunstâncias. Afinal, se o sujeito quiser passar a vida torrando o dinheiro em água Perrier, o problema é dele. O que importa, mesmo, é o impacto ambiental – pelo menos na opinião deste escriba. Segundo o NYT, são gastos anualmente 1,5 milhão de barris de petróleo para fabricar as garrafinhas e copos de água consumidos pelos americanos – os dados são do Earth Policy Institute in Washington (Instituto de Políticas para o Planeta, em português). Essa quantidade de petróleo seria suficiente para abastecer 100 mil carros por ano. Pelos padrões americanos, aliás, já que, por lá, o consumo é de mais ou menos 7 a 8 quilômetros por litro. Na Inglaterra, a energia usada para produzir as garrafinhas seria equivalente ao consumo anual de 6 mil casas, relata o Guardian.

A situação não seria tão crítica se os gringos reciclassem mais. Apenas 23% do plástico usado para fabricar os recipientes da água mineral é reciclado. Na Inglaterra o índice é ainda mais baixo, de apenas 10%. Por isso, algumas cidades, como São Francisco, na Califórnia, já proibiram, nas repartições públicas, a compra de água mineral.

A questão, vista pelo lado do estilo de vida, tem que ver com a substituição dos refrigerantes e bebidas com grande quantidade de açúcar e cafeína pela água mineral. Nos últimos anos, beber água mineral se tornou sinônimo de vida saudável, da prática de esportes, etc. Nos Estados Unidos, as vendas de água já superam as de café e de leite e deverão superar as de cerveja. O dilema que aparentemente começa a ganhar força é: vale à pena trocar uma melhoria da qualidade de vida por mais degradação ao meio ambiente? A matéria do NYT já fala em “prazer com culpa”.

A questão é que as vendas de água em garrafa dispararam nos últimos anos. A solução, como diz o NYT, não é trocar a água pelo guaraná ou pela coca-cola, mas a garrafinha por um recipiente que dure mais.

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Danilo Vivan DV