Cibercultura By Augusto Maurer / Share 0 Tweet Ressonâcia a uma exortação ao mecenato Acordado subitamente de um pesadelo, meu alívio e gratidão por estar vivo logo sublimaram-se num inadiável impulso de escrever no OPS! – algo que vem se tornando mais e mais freqüente – o impulso, não os pesadelos – e que tive que reprimir nos últimos dias tão somente para não comprometer por mera falta de descanso minha introdução à Rapsódia em Blue duas noites atrás (da qual, oportunamente, disponibilizarei um vídeo). Hoje, posso, todavia, me dar ao luxo de aqui vir sem nenhum prejuízo por passar o dia de amanhã meio tresnoitado. Um sintoma interessante do amadurecimento de minha relação com o portal é que cada vez mais sou levado a comentar textos alheios do que, de outra forma, a publicar aqueles longamente elaborados, de índole ensaística, que me são tão caros. Constatada esta sutil mas não menos importante nuance evolutiva do desejo de autoria, sorrio, satisfeito por aí ver também uma nítida resolução da vocação dialógica do projeto, ou seja, mais idéias mais pontuais afetando-se mais entre si. E assim, todo este preâmbulo foi só para dizer que vim aqui no único intuito de comentar a brilhante exortação em prol do mecenato literário em Vocês querem mesmo apoiar os novos escritores ?, na qual o autor das idéias simples mais brilhantes com que me deparei ultimamente convoca simpatizantes de um escritor já aclamado virtualmente a cotizarem-se para a realização de um prosaico volume impresso de uma obra do mesmo. Ao perceber, no entanto, que me alongaria inevitavelmente mais do que o escrito ensejante ao comentário (ai que inveja dos textos enxutos: alguém já revelou aqui no OPS! uma pesquisa apontando que textos virtuais curtos são mais lidos do que os longos), optei por lhe dar existência autônoma. Se deixo meu olhar se demorar um tanto sobre o fato, é para sublinhar que o mesmo, aparentemente não mais do que um capricho isolado, representa uma visionária alternativa para o impasse da remuneração da autoria no novo paradigma da volatilidade virtual. Examinemos primeiro o que se passa, invariavelmente, sob o manto do famigerado mercado editorial. Nele, algozes travestidos de editores condenam, mediante a eleição de obras de luminares como Coelhos e Leticias para a imortalidade do papel (até, sei lá, um venturoso Farenheit 451…), ao ostracismo uma infinidade de discursos de melhor valor estético e ideológico do que aqueles, objetos de prestidigitação mercadológica, mais apropriados à monocultura editorial. Os danos desta prática são tão óbvios quanto nefastos, pois resultam, a uma só vez, em achatamento intelectual e aquecimento glogal – pois imaginem a quantidade de florestas devastadas e gráficas ativadas em nome de excedentes impressos que se constituirão, quando muito, em papel reciclável. Considere-se, agora, o novo paradigma do mecenato com todos os seus benefícios ecológicos: diversidade autoral; micro edições customizadas para atender à demanda específica de admiradores deste ou daquele autor; vinculação mais virtuosa de leitores com seus autores preferidos que, sob o paradigma anterior, deixavam à indústria a parte do leão dos resultados de comercialização de sua obra, e por aí vai. A idéia da publicação em suportes físicos não voláteis custeada por bases de fãs não é nova. Dela ouvi falar pela primeira vez anos atrás por meio do melhor guitarrista que conheço. A novidade é que, com o último editorial do OPS! – e espantosa decolagem de seu índice de visitação ! – em muito melhora seu prognóstico de disseminação e consolidação. Por tudo isto, meu sonoro BRAVO ao Rafael e ao Alex Castro. A mim, ainda um par de horas de sono. Update 9/7/09: leitor apressado, erroneamente atribuí ao mentor Rafael Reinehr o editorial de Ulisses Ardit que inspirou as considerações acima – apropriadas, por sua vez, pelo primeiro em comentário abaixo, em cabal demonstração de que grandes idéias transcendem a dimensão individual daqueles que as sustentam.