Crônicas Matemáticas By Ru Correa / Share 0 Tweet Trem das Onze Adoniran Barbosa Não posso ficar Nem mais um minuto com você Sinto muito amor, Mas não pode ser… Elementar, meu caro Watson!!! Trem das Onze Adoniran Barbosa Não posso ficar Nem mais um minuto com você Sinto muito amor, Mas não pode ser Moro em Jaçanã Se eu perder esse trem, Que sai agora, às 11 horas, Só amanhã de manhã. E, além disso, mulher, Tem outra coisa: Minha mãe não dorme Enquanto eu não chegar! Sou filho único Tenho minha casa pra olhar. Não posso ficar! Você deve estar se perguntando por que diabos, em um texto sobre matemática, há uma música de Adoniran Barbosa. Não é? Pois bem! Acalme-se! Nos versos de “Trem das Onze”, temos um exemplo de argumentação lógica! É! É isso mesmo! Iremos falar hoje sobre LÓGICA!! Analisando os versos, nota-se que Adoniran usa uma associação de idéias (seus motivos) para justificar a afirmação “Não Posso Ficar” 1) Moro em Jaçanã 2) Se eu perder esse trem, só amanhã de manhã. 3) Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. 4) Sou filho único. 5) Tenho minha casa pra olhar. Portanto: Não posso ficar!!!! Argumentar é criar uma seqüência de proposições que pretende levar a uma determina conclusão. Nos versos de Adoniran a argumentação é lógica, pois relaciona de moro coerente as causas e a conseqüência. Para verificar se uma argumentação é válida, coerente ou não, usamos lógica. A lógica faz parte de nosso cotidiano. Quem é que nunca disse: “É lógico!” ou “Isso tem lógica!” ???? Pois é!! Você usa lógica e talvez nem saiba! O nome deste texto (Elementar, meu caro Watson!) é em homenagem a Sherlock Holmes, uma criação do escritor inglês Arthur Conan Doyle (1859 – 1930). O cachimbo, o boné e a lente de aumento eram e até hoje são, marcas registradas de um detetive. O mais engraçado isso é que Sherlock nunca disse a tão famosa frase citada como nome deste texto, mas sim um dos inúmeros atores que viveram Sherlock nos palcos. Opa! Pára tudo! O que Sherlock Holmes tem a ver com lógica??? Oras!! Sherlock foi consagrado o mestre da dedução. Deduções são argumentações em que se parte de premissas gerais para uma conclusão particular. Um exemplo clássico: Todos os homens são mortais. João é homem. Logo, João é mortal. Lógica na Poesia Vou-me embora pra Pasárgada Vou me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana, a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite der Vontade de me matar – Lá sou amigo do rei – Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira Nessa poesia de Bandeira, notamos várias premissas, provando assim que matemática é uma ciência tão vasta que abraça as demais sem que, talvez, as mesmas percebam. E o que tudo isso tem a ver com Matemática???? A lógica permeia toda a matemática. Existe uma forte relação entre a lógica da linguagem natural (essa que usamos todos os dias) e a lógica matemática. Também na matemática afirmações das mais simples às mais complexas são justificadas ou provadas a partir de outras afirmações verdadeiras. Os símbolos matemáticos substituem as palavras, mas a estrutura da lógica matemática assemelha-se à do dia-a-dia, de forma que podemos utilizar uma para entender melhor a outra e vice-versa. “O raciocínio é um argumento em que, estabelecidas certas coisas, outras coisas diferentes se deduzem da primeira” Aristóteles