Fecundidade na Itália, Grécia e Espanha: o efeito Easterlin ao reverso

O demógrafo Richard Easterlin encontrou, para os Estados Unidos da América (EUA), uma relação ciclica entre a dinâmica demográfica, as oportunidades de emprego e salários e o número de filhos (fecundidade). Segundo ele “Coortes menores tendem a ter melhores oportunidades no mercado de trabalho e com isto se casariam mais cedo e teriam mais filhos”.
De fato, nos EUA as taxas de fecundidade caíram durante a grande depressão da década de 1930, subiram depois do fim da Segunda Guerra Mundial, cairam novamente entre 1965 e 1985 e subiram novamente entre 1985 e 2007. Com a crise econômica de 2008 e 2009 a fecundidade das mulheres americanas já apresentou um ligeiro declínio, mas ainda não está claro se vai continuar caindo e quanto.

Esta tendência cíclica não foi observada em outros países. Na Europa, os países mediterâneos, Itália, Grécia e Espanha (seguidos por Portugal) apresentaram taxas de fecundidade em declínio desde 1950, sem grandes variações cíclicas, e que atingiram o nível mais baixo na virada do milênio. Estes três países tinham taxas de fecundidade total (TFT) entre 2,5 e 3,0 filhos por mulher em meados do século passado e chegaram a 1,2 e 1,3 filhos por mulher entre 1995 e 2005. Estas taxas super baixas (lowest low fertility) decorrem em parte do “efeito tempo” positivo, isto é, as mulheres adiaram o nascimento do primeiro filho, jogando a TFT para baixo.

No quinquênio 2005-2010, os três países apresentaram aumento da taxas de fecundidade que subiram para algo em torno de 1,4 filho por mulher. O aumento foi pequeno, mas refletiu uma reversão na tendência de queda e apontava para uma recuperação da fecundidade rumo ao nível de reposição. Vários programas de cunho pró-natalistas foram adotados.

Porém, a crise financeira internacional que atingiu o mundo em 2009 e a crise econômica que atingiu especialmente alguns países europeus – os chamados PIIGS: Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Spain – tem dados sinais de que vão interromper a recuperação dos níveis de fecundidade.

Segundo o Easterlin Effect, estes países europeus que possuem coortes populacionais em idade produtiva muito pequenas deveriam apresentar melhorias no mercado de trabalho, elevação dos salários e, consequentemente, a formação de famílias com filhos. Além disto, aquelas mulheres que adiaram o nascimento do primeiro filho, ou do segundo filho, deveriam tê-los antes da menopausa.

Porém, a atual crise econômica européia pode simplesmente provocar um efeito Easterlin ao reverso, pois existe uma espécie de armadilha geracional, já que as gerações mais jovens e de menor tamanho estão tendo de sustentar gerações mais velhas e de maior tamanho. O que estes países têm a oferecer para as crianças que vão nascer é uma carga maior de impostos e transferências intergeracionais cada vez maiores para sustentar as gerações idosas e o sistema previdenciário.

Isto acontece porque o baixo crescimento econômico, as baixas taxas de investimento e o maior poder de barganha das parcelas idosas da população (inclusive com o envelhecimento do eleitorado) tendem a canalizar recursos para o topo da pirâmide e as jovens gerações deixariam de contar com recursos para se comportar de acordo com o Easterlin Effect. Ao invés da mobilidade das gerações, o que tem surgido é o choque de gerações, com as pessoas da base perdendo para o topo da pirâmide populacional.

Ainda é cedo para se ter uma análise do comportamento da fecundidade nestes países europeus. Mas se não houver recuperação das taxas de fecundidade, além da crise econômica, haverá também uma crise de recuperação do dinamismo demográfico. Ou seja, com o agravamento da crise econômica e a falta de emprego para os jovens, as taxas de fecundidade tendem a ficar muito abaixo do nível de reposição.

Por exemplo, com a crise fiscal, os recursos destinados à política pro-natalista foram cortados. Desta forma, se os países europeus com regime “lowest-low fertility” não recuperarem suas economias e investirem mais nos jovens, dificilmente vão conseguir recuperar suas taxas de fecundidade ao nível de reposição.

 

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José Eustáquio Diniz Alves