Sobre a cooperação, diálogo e uma política radical


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Recentemente tive um grande momento de mudança interna, de ressignificação. Augusto de Franco, com quem tanto aprendo, colocou em seu facebook uma frase radicalmente anti-competição. Isto me fez querer começar uma discussão sobre em que momentos a competição pode ser saudável. Ao que o mestre me respondeu algo como porque não pensar em que momentos a cooperação está sendo pouco enfatizada, já que há tanto peso em nossa sociedade na direção da competição.

Me rendi. É verdade. Para que eu, uma pessoa que quer viver em uma sociedade com paradigmas reformulados e dialógicos, vou gastar meu tempo justificando quando a competição é boa? Porque não pensar e repensar em quais momentos eu poderia ser mais cooperativo? 

Anthony Giddens, eu seu livro “Para além da esquerda e da direita” traz alguns pontos que servem para favorecer as reflexões sobre atitudes de cooperação, sem serem conservadoras nem da antiga esquerda. Muitos dos trechos abaixos são citações literais do mencionado livro, mas me abstive de preocupações puristas de colocá-las entre aspas. Ou seja, abaixo misturas de reflexões minhas com as propostas do pensador inglês. 

1) Restaurar as solidariedades danificadas: Esta ideia se aplica a aproveitar as oportunidades que surgem com a reordenação das condições de vida individual e coletiva, que ao mesmo tempo que provocam desintegração social, oferecem novas bases para a geração de solidariedades. Para ser mais prático e dar um exemplo. Ao mesmo tempo que fico mais em casa isolado, tenho a oportunidade de estar mais na internet apoiando e ajudando a refletir sobre causas. Quando sair à rua, posso encontrar pessoas e objetivos que foram fruto de minha aparente solidão. Mais um exemplo. Se de um lado a teia de proteção familiar talvez nunca volte a ser o que era, novas redes de confiança e mútua proteção podem surgir por meio de renovadas responsabilidades sociais e pessoais em relação aos outros. Trata-se do desenvolvimento da confiança ativa, em contraposição às desconfianças reinantes.

2) Estabelecer políticas de vida: A política de esquerda se apoiava na ideia de emancipação em relação à tradição, de liberdade em relação a poderes arbitrários e contra coerções advindas da privação. A política da direita se apoiava em supostas liberdades irrestritas ao indivíduo, desde que dentro de sistemas de poder criados pelos mais ricos. Políticas de vida não são políticas de oportunidades de vida, mas de liberdade para escolher estilos de vida. Trata-se da liberdade de escolher como viver, sendo esta decisão não determinada pela natureza nem pela tradição. A libedade de decidir com pessoa de que sexo caso, se mando meus filhos para a escola ou não, se caminho ou ando de carro, se estudo ou aprendo na prática.

3) Estabelecer políticas gerativas: Para além da velha oposição entre Mercado e Estado, esta política fornece condições materiais e estruturais para que as decisões de política de vida sejam tomadas. A competição não é entre como são distribuídos recursos financeiros, se pelo Estado ou pelo Mercado, mas sim fornecer condições para que diferentes estilos de vida encontrem espaço para se expressar.

4) Democracia dialógica: Reordenação das relações por meio do diálogo e não do poder arraigado.  Da reintegração de solidariedades e autonomias surge a democracia das emoões. Relacionamentos pessoais que tem por base e motor a confiança ativa permitem o intercâmbio de ideias e a redução de poderes arbitrários. Mobilizadores da democracia dialógica são os grupos de mútua ajuda, tais como os grupos anônimos baseados nos 12 Passos de Alcoólicos Anônimos e os movimentos sociais que ajudam a contestar aspectos da conduta social que antes eram decididos pela tradição. Questões como o papel da mulher na sociedade, a orientação em relação à ecologia, grupos pacifistas e que pregam a desobediência civil pertendem a esta categoria.

5) Repensar o Estado do Bem Estar Social: Faz-se urgente um novo acordo social que não seja baseado em compromissos de classes gerenciados pelo Estado. Em vez de uma distribuição de benefícios de cima para baixo, uma previdência positiva, que deposita ênfase na mobilização de medidas que sustentem políticas de vida e liguem autonomia com responsabilidades sociais e coletivas.

6) Enfrentar o papel da violência: Nem o liberalismo, nem o socialismo estabeleceram conceitos claros para a criação de políticas normativas sobre a violência. Pelo contrário, pensadores de direita tendiam a pensar na violência como algo necessário e endêmico na vida humana, sendo violentamente contestados pela esquerda. A violência de que aqui se fala inclui a de homens contra mulheres, passando pela violência casual nas ruas e chegando à violência de crianças contra outras nas escolas. Lidar com a vilência pode passar pela segregação, colocando em áreas geográficas diferentes quem pensa diferente, pelo distanciamento, que é a política dos incomodados que se mudem, ou pelo diálogo. Esta última forma de lidar com a violência pode ser considerada utópica, mas o diálogo é uma força que age contra o fundamentalismo e subsitui violência pela conversa.

Há certamente seres humanos, grupos de pessoas e culturas que disputam interesses e lutam pelo poder. Por um lado as forças que desintegram a sociedade parecem provocar inevitáveis explosões de violência. Por outro lado e cada vez com mais força as conexões entre autonomia individual, solidariedades entre pessoas e grupos e diálogos entre pessoas, grupos, culturas e Estados provocam mudanças observáveis nos cenários locais de interação e também na ordem global.

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Marcos Bidart de Novaes