Futuros no passado, passados no futuro e presentes

Você era um daqueles revoltados que nunca entendeu por que raios existe o tal do futuro do pretérito? Você nunca se conformou com o fato de o pretérito ter um futuro? Então entenda por que esse tempo verbal tem esse nome. E conheça o primo próximo dele, o "pretérito do futuro"!

Bom dia! Hoje resolvi escrever um pouco sobre um tema que com certeza incomodou e incomoda muita gente que está estudando isso na escola: por que diabos existe o tal do "futuro do pretérito"? Como é que o troço pode ser futuro de algo que está no pretérito?
Pois é, é isso mesmo: o futuro do pretérito. E o nome desse tempo verbal é perfeito. Quero dizer, não estou dizendo do pretérito perfeito (fica pra outro matabicho), estou dizendo que o nome "futuro do pretérito" é perfeitamente adequado ao que ele expressa.

Vamos lá explicar logo, antes que vocês desistam e terminem logo de matabichar. A questão é muito fácil e dá para a gente entender com uma frase bem óbvia. Imagine que a Maria vai chegar na cidade amanhã, e agora alguém está falando no telefone com ela. Essa pessoa diz:

(1) A Maria está dizendo que vai chegar amanhã.

Todo mundo aí entendeu que esse "vai chegar" é um tempo futuro, não é? Ótimo.
Agora, vamos supor que o tempo passou e veio o dia seguinte, e nada da Maria chegar. Muito bem: agora, aquele tempo presente da frase (1) já virou passado (ou pretérito). E agora, essa pessoa que tinha falado com a Maria vai dizer:

(2) Ontem a Maria disse que chegaria hoje.

Correto? Uma frase normal em português, dessas que dizemos todo dia. Olhem só que interessante: aquilo que era "vai chegar" na frase (1) agora virou "chegaria". E o que significa esse "chegaria"? Significa que naquele tempo de (1), que agora já é passado, a ação de chegar era uma ação futura. Portanto, uma ação futura em relação a um tempo que agora é pretérito. Ora, um futuro do pretérito!

Entenderam? Ou deu um nó na cabeça? Se complicou ainda mais, dou outro exemplo, explicando de outra forma. Numa frase como

(3) "Ontem eu ia terminar de ler o livro quando tive que sair",

coloque-se no lugar desse "eu". Quando você estava, ontem, lendo o livro, a ação de terminar de ler ia acontecer no futuro, não é? Mas aí algo aconteceu, você teve que sair, e não terminou. Então: naquele momento, a ação era futura, mas agora aquele momento é pretérito. Então, essa ação é futura em relação ao pretérito.

Agora foi? Espero que sim. Vou contar agora sobre outro tempo verbal, que usamos todo dia, mas não aprendemos o nome: é o pretérito do futuro.
Isso mesmo, o contrário agora: uma ação que é pretérita em relação a outra ação futura. Olha só. Imagine que você está programando as coisas que vai fazer amanhã. Aí você pretende almoçar às 13h para ficar livre às 14h e poder ir passear. Então você diz:

(4) Amanhã às 14h, eu já vou ter almoçado.

Outra frase normal, dessas que dizemos todos os dias, não é? Então pare um pouco para analisar a locução verbal "vou ter almoçado". Ela significa que, naquele tempo futuro (às 14h de amanhã), a ação de almoçar já vai ter ficado para trás, ou seja, já vai ser pretérita. Então esse tempo indica uma ação que é pretérita em relação a uma ação futura. Eis aí o pretérito do futuro! Mas esse nome é uma brincadeira minha. O nome "oficial" desse tempo é "futuro anterior", porque é justamente isso: uma ação futura, mas que é anterior a outra ação futura.

Essas são só algumas das várias possibilidades de brincar com o tempo que os verbos da língua portuguesa nos possibilitam. Tente descobrir algumas outras aí, enquanto matabicha. Numa próxima vez eu mostro outras!

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Bruno Maroneze