“Estamos indo no clube” ou “Estamos a ir ao clube”?


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E aí, qual dessas formas aí do título você usa? Qual dessas formas te soa mais antiga, mais nova, mais bonita, mais correta etc.? Vamos descobrir hoje um pouquinho a respeito das diferenças entre o português dos dois lados do Atlântico, e como isso começou.

Bom dia! Vamos começar o matabicho de hoje pensando aí nas frases do título. Como deve ter ficado óbvio para os leitores atentos, a frase "estamos indo no clube" soa bem mais um português popular do Brasil, enquanto "estamos a ir ao clube" é claramente português de Portugal. Mas só ficar nisso não nos diz muita coisa, não é? Vamos observar as diferenças. Há pelo menos duas bem claras:

1. No Brasil, usamos a construção com gerúndio "estamos indo", enquanto em Portugal se usa a construção com a preposição "a" + infinitivo" "estamos a ir";

2. No Brasil, popularmente, construímos o verbo "ir" (e outros verbos de movimento, como "chegar") com a preposição "em" "ir no clube", enquanto em Portugal tais verbos se constroem com a preposição "a" "ir ao clube".

Há ainda outra questão envolvida: o fato de que "ir em" é considerado incorreto gramaticalmente. Com certeza você já deve ter ouvido falar que o correto é "vou ao banheiro", e não "vou no banheiro". Pois bem.

Agora, faço a pergunta: qual das duas frases você atribuiria, por exemplo, a Pero Vaz de Caminha? Será que ele diria "estou indo no clube" ou "estou a ir ao clube"? (ignore o fato de que os clubes no século XV não eram muito parecidos com os atuais…)

Pense um pouco…

Pensou? Dê uma olhada agora nestas frases tiradas da carta de Pero Vaz de Caminha:

"E foram assim correndo para além do rio"

"E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio"

"Apenas saiu — ele com todos nós — em um ilhéu grande"

O que lhes parece? "foram assim correndo" – gerúndio claro. "mandou em terra", em vez de "mandou a terra". "saiu em um ilhéu", em vez de "saiu a um ilhéu". Como se pode ver, o uso da preposição "em" com verbos de movimento é muito comum.

(Não que não encontremos a construção com o infinitivo nem verbos de movimento com a preposição "a" em textos daquela época. Mas isso mostra, na verdade, que esses pares de construções não eram sinônimos – como não são atualmente. Isso daria assunto pra toda uma tese – ou para outro matabicho.)

Como deu para notar, em relação a essas duas construções nós aqui no Brasil temos uma forma de falar que é mais antiga em relação à forma de Portugal. (E não só em relação a isso, há vários outros exemplos.) Aí vem a pergunta que sempre me fazem:

– Então, professor, isso quer dizer que falar "vou no clube" é mais certo do que falar "vou ao clube"?

Vocês não pensaram em algo parecido? Pois é. Eu gostaria sinceramente de entender de onde vem essa relação que as pessoas estabelecem entre "mais antigo" e "mais correto". Só porque é o jeito de falar de quinhentos anos atrás isso o torna mais correto?

Parece que a origem disso está em um certo mito de que havia um tempo, num passado distante, em que a língua era perfeita, e que com o tempo ela foi se degenerando até se transformar no que falamos hoje. Claro, não passa de um mito. Mas eu gostaria, sinceramente, de entender como é que essa concepção está ainda arraigada nas pessoas de hoje. Agradeço sugestões…

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Bruno Maroneze