Sobre Pão de Queijo, Chucrute e Distâncias

Viver em outro país é uma aventura sem fim. Viver na Alemanha é um desafio eterno. Aprender a língua, adaptar-se a temperaturas muito inferiores a zero e desvendar o humor alemão são pequenos incovenientes a serem superados. Entretanto, também há enormes vantagens, como por exemplo, as curtas distâncias. Confira.

A sabedoria popular propaga a idéia de que o pão de queijo é um quitute típico de Minas Gerais, e que o chucrute, um tal repolho fermentado, é uma iguaria típica Alemã. Assim, com esse estereótipo culinário em mente, fica mais fácil introduzir esta coluna. Esta que escreve é um “pão de queijo” servido com “chucrute” no prato do mundo globalizado. Sou mineira na essência, estou alemã na aparência, sou – e estou – um indivíduo misturado à massa, buscando compreender as línguas dos homens, seus anseios existenciais e a mim mesma.

Para tanto ouço, observo e julgo o universo alemão multi-cultural em que vivo – em especial a Baviera, o estado federal alemão que habito, e que se distingue imensamente do resto do país – e pretendo expor aqui os resultados do meu ouvir-observar-julgar-interagir.

Espero que esta coluna não só sirva como um retrato-falado da Alemanha, mas que além disso seja capaz de propagar ao leitor “insights” sobre como é a vida num país social e culturalmente tão diferente do nosso querido Brasil. Para começar, farei uma comparação geográfica com a intenção de apresentar uma diferença primária, mas bastante significativa, entre os dois países.

No Brasil estamos acostumados a dimensões infinitas. Viajar de um extremo a outro do país significa dias de estrada ou várias horas de vôo. Já o pequenino território alemão, equivalente a apenas 3/5 do território de Minas Gerais, comporta aproximadamente a metade da população de todo o Brasil. Isso quer dizer que por aqui não só as distâncias entre cidades são consideravelmente curtas, como também há gente saindo pela culatra. Existem povoados por toda parte e é quase impossível viajar meia hora na estrada sem ver casinhas amontoadas em pequenas comunidades, fazendas e até mesmo indústrias. Essa situação de aperto tem suas vantagens. Por exemplo, é possível viver próximo à natureza, em bairros ou povoados afastados dos centros urbanos, sem que se perca os confortos da civilização.

Dessa forma, grande parte da mão-de-obra alemã trabalha na cidade e pode ao mesmo tempo aproveitar a calma do campo em suas residências. Por outro lado, as desvantagens do aperto podem ser inúmeras, já que parece ser quase impossível encontrar lotes de terra que não estejam próximos a barulhentas rodovias, estradas de ferro ou até mesmo aeroportos. No entanto, por incrível que pareça, ainda há muito espaço na Alemanha, na cidade ou no campo, basta procurar. Eu conquistei o meu no coração da natureza, com direito a rio, floresta e morro.

Mas ainda há quem diga que eu more na “fazenda”, e é por isso mesmo que decidi escrever sobre as distâncias. Para que todos meus compatriotas finalmente possam entender que na Alemanha a “civilização” fica apenas a quinze minutos do meu bucólico lar-doce-lar.

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Ariadne Rengstl