Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Causa espanto, para não dizer outra coisa, em todos os seres minimamente dotados de certa racionalidade, a notícia de que o procurador da República de Uberlândia/MG, Cléber Eustáquio Neves, tenha entrado com “uma ação contra a Editora Objetiva e o Instituto Antônio Houaiss para a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição das edições do Dicionário Houaiss, que contêm expressões pejorativas e preconceituosas relativas aos ciganos.” (Portal Terra). É sabido que membros do Ministério Público, diante de reclamações/queixas de cidadãos, podem indeferir, de plano, a instauração de procedimento investigatório. Claro que de forma fundamentada, de tal sorte que permita ao cidadão recorrer da decisão ao Cosnelho Superior. Tudo depende do conteúdo da narrativa do fato e do quanto esta narrativa está acompanhada de elementos que a tornem, ao menos, verossímel. É do juízo do membro do MP decidir se há elementos suficientes na narrativa do fato para que proceda as diligências iniciais e, convicto, dê as sequências previstas em lei ou normativa interna do MP. No caso, as diligências iniciais seriam nada mais nada menos que a simples leitura do verbete apontado pelo cidadão. Tudo o que ocorreu após entrou na seara dos “juízos de valores”. Concordou o procurador, com sinceridade ou não, que um dicionário poderia significar que “Ninguém duvida da veracidade do que ali encontra. Sequer questiona. Pelo contrário. Aquele sentido, extremamente pejorativo, será internalizado, levando à formação de uma postura interna pré-concebida em relação a uma etnia que deveria, por força de lei, ser respeitada” (Portal Terra, link anterior). (Um parênteses: é possível que esse procurador esteja expiando uma culpa por ter aprendido, desde sempre e nunca questionado, o tal “preconceito” que ele mesmo acusa e que até hoje nada havia feito contra. Ou será que ele aprendeu a língua pátria socorrendo-se de dicionários de javanês?) Gostei do parênteses. Esse cidadão, elevado por méritos próprios à categoria de “agente político” da nação brasileira, resolveu desnudar-se em público (figurativamente falando, claro, que não quero ser processado por dizer que um procurador da República ficou pelado em público. Vá que ele, dessa vez, resolva pegar o significado literal de desnudar-se no Houaiss) e mostrar para a nação o quanto ele é um cidadão preconceituoso. Sim, pois quem escreve isso: “Ao se ler em um dicionário, por sinal extremamente bem conceituado, que a nomenclatura “cigano” significa aquele que trapaceia, velhaco, entre outras coisas do gênero, ainda que se deixe expresso que é uma linguagem pejorativa, ou, ainda, que se trata de acepções carregadas de preconceito ou xenofobia, fica claro o caráter discriminatório assumido pela publicação” (Portal Terra, link anterior.) nada mais faz do que expressar todos os preconceitos contidos em sua educação. Ele comete aquilo a que se refere: internalizou conceitos e hoje vê-se, tão somente por força de lei (e somente por ter sido demandado, pois por conta própria jamais o teria feito, como não havia feito até então) obrigado a expiar a culpa com a qual convive até hoje. Há uma segunda hipótese, mas como diz o ditado, macaco velho não bota a mão em cumbuca. Mais ainda em tempos de procuradores da República que avocam julgar entradas de dicionários… Nessa hora vejo-me obrigado a apelar a entidades tidas como superiores, até por falta de quem, aqui na Terra, consiga acabar com tamanha hipocrisia: valha-me Deus! (texto sujeito a alterações conforme o grau de indignação do momento com a hipocrisia desse procurador da República. Mas com certeza, jamais para menos!) Putz, e é procurador… parece que encontrou…