Este País, Alemanha By Solange Ayres / Share 0 Tweet Esta semana foi anunciado o histórico e ambicioso programa de fechamento das usinas nucleares alemãs. Interessante guinada “verde”, já que quem fez o anúncio não foi nenhum “Verde” de verdade e sim, Angela Merkel, a Chanceler alemã do partido Democrata Cristão no governo coalizionado com os Liberais. Os ventos de Fukushima chegam então à Alemanha O anúncio da virada em direção ao fechamento da usinas nucleares bem como o de impuslionar a energia renovável nunca foi bandeira do governo da Angela Merkel em colalizão com os Liberais. Porque? Logo eles? Já escrevi sobre este assunto no “Gorleben, a meia vida para a vida inteira” que ao subir no poder os dois partidos da coalizão, Democratas Cristãos e Liberais, não quiseram fazer nenhum compromisso em relação ao fechamento das usinas, nem colocar data para a saida da energia nuclear, pelo contrário, queriam prolongar o seu uso. Dois fatores, hoje, estão por traz dessa decisão. O primeiro a forte rejeição dos alemães à energia nuclear devido ao acidente em Fukushima e a ascensão dos Verdes no cenário político. Nunca a bandeira verde esteve tão em alta desde que Joska Fischer do Partido Verde, foi Ministro do Exterior da Alemanha em 2005. E o segundo fator a eleições estaduais em Bremen, Baden Wüttenberg quando os Verdes saíram vencedores fazendo coalizão com os Sociais Democratas e com grandes possibilidades de ganharem as eleições na cidade de Berlin e ainda possivelmente serem vitoriosos numa futura candidatura ao governo da Alemanha. Oportunismo? A Democracia Cristã que tinha ampla maioria, 60%, em décadas passadas, perdeu consideravelmente seus eleitores. Sendo maioria para que se preocupar em mudar as suas bases programáticas? Pois agora com as perdas históricas, depois de 60 anos, os Democratas Cristãos foram postos para escanteio, ficando atrás dos Verdes em Baden Wüttenberg. Ninguém a um ano iria imaginar uma virada política tão radical. Motivos econômicos o estado de Baden Wüttenberg não tinha, pois a economia vai bem e o índice de desemprego é baixo. Um dos motivos para a perda das bases eleitorais foi a disputa, neste ano, da construção de uma nova rodo-ferroviária no Estado de Baden-Wüttenberg, na cidade de Stuttgart. O projeto denominado “Stuttgart 21” iria, não somente consumir alguns bilhões de euros, com custos iniciais de 2 subindo para 6, 8 e 10 bilhões, mas também ia passar por cima de muitas árvores. Aí os cidadãos fizeram barricada, porque minha gente, cortar árvore aquí é o ó… Os alemães se sentiram diretamente atingidos pela irresponsabilidade dos políticos de quererem por em prática um projeto que não somente afeta ecologicamente a cidade como também vai custar muito dinheiro aos cofres do governo, isto é, de quem paga imposto, nós cidadãos. Os protestos se tornaram cada vez mais contundentes, mães e crianças se acorrentando às árvores para evitar que as estas fossem derrubadas, e até os famosos tratores de Gorleben, lembram-se? pegaram estrada em solidariedade ao movimento. E até hoje a celeuma ainda não foi resolvida. Em cima desses fatos a Democracia Cristã foi perdendo apoio dos eleitores e deu no que deu: vai ter que amargar na oposição em Baden Wüttenberg. Mais verde que os Verdes? A direita quer agora se parecer mais verde que os Verdes, que ironia do destino! O CDU, União Democrata Cristã, tenta atualizar sua rota política nos ventos de Fukushima e propor data para o fechamento das usinas nucleares. Bom lembrar que no governo de colalizão, de 2005, entre o SPD, Partido Social Democrata e os Verdes, a proposta era de fechar as usinas nucleares em 2022 e agora a proposta é idêntica a da oposição na época, com a grande diferença, foi feita agora pela Angela Merkel. Ainda, o ministro da bavária Seehofer, CSU União Social Cristã, à direita do CDU, defende que o lixo atômico seje estocado na Alemanha, mas não em Gorleben. Será que ouvimos bem? Não era Gorleben a mina salvadora para o depósito final do lixo atômico? Outras realidades Não adianta fechar aquí na Alemanha as usinas nucleares e depois ter que importar energia atômica dos paises ao lado. Infelizmente a Comunidade Européia não esta unificada na mesma política. A França nossa vizinha, é a maior produtora de energia nuclear e bate o pé permanecendo firme na sua utilização. A oposição lá é contra e exige que seja feito um plebiscito popular para decidir. A Bélgica decidiu em 2003 fechar os seus 7 reatores entre 2015 e 2025. Em 2009 o novo governo resolveu prolongar a vida de seus 3 velhos reatores. A questão ainda esta em discussão no Parlamento. A Polônia mantém também firme o seu curso de construir suas próprias usinas atômicas. Duas delas estão sendo planejadas com os argumentos que serão “imprescindíveis” para os próximos anos. Até hoje a Polônia não tem usina nuclear, 94% de sua energia provém de usinas de carvão. A Suiça tem também planos de construir sua usina atômica e espera pelas novas normas de segurança para dar início ao projeto. E pelo mundo afora a a situação não é melhor. A Rússia de Putin não quer nem ouvir falar de seus planos futuros. Ela é um dos mais importantes produtores de energia atômica do mundo além de construir outras tantas em outros paises. A China? Jesus! Esta possui 13 usinas e 34 estão na lista de espera para obterem autorização para serem construidas. 26 delas estão já em andamento. Pequim declarou que apesar do acidente de Fukushima, vai permanecer firme no curso da energia nuclear para suprir a crescente demanda de energia da população. Nos EUA a energia atômica esta tendo um “renascimento”, para garantir a independência da importação de óleo. Washington trata a energia nuclear como a solução para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. Esverdeando ou amadurecendo? E de volta à Alemanha, para completar o “esverdeamento” dos Democratas Cristãos, Norbert Röttgen ministro do meio ambiente CDU, chegou ao Fórum onde foram discutidas as propostas de fechamento das usinas nucleares de… biscicleta. Coerentes? Será que eles estão mesmo “amadurencendo” com as experiencias políticas? Todas as “atitudes” estão sendo copiadas dos Verdes, então eles fizeram escola. Mas até onde vai a sinceridade ou o oportunismo ? A piada corrente é: quem precisa ainda dos Verdes, se há o CDU? As eleições estão aí, 2013. A Democracia Cristã poderia ganhar credibilidade se dissesse claramente: “Nós erramos em prolongar o funcionamento das usinas atômicas.” Fotos: Solange Ayres Foto ao alto – Parque Eólico da cidade de Düren, Alemanha. Ao fundo campos de “raps” para produção de óleo combustível. Foto acima – Usina movida a carvão Weisweiler, próxima a cidadede Aachen, Alemanha. Fonte: ZDF Heute Nachrichten