Diálogos entre paradigmas By Marcos Bidart de Novaes / Share 0 Tweet Comecei ontem um curso de diálogos. Caramba, será que até isso precisa ser estudado, lido e pensado? Para mim sim. No fundo o curso é sobre comunicação não violenta. Eu sou um comunicador levemente violento, por natureza ou aprendizado. Ou ambos quem sabe. Para realmente sentar, ouvir, me permitir falar quando sinto que é a minha hora e não entrar nas outras formas de comunicação, me custa muito. Só para deixar registrado, as outras formas de comunicação são o debate, a discussão e a deliberação. Acho que volto a elas mais tarde. Ou não. O grande tema que me interessa no momento é o difícil diálogo entre dois paradigmas que se chocam hoje. Hoje eles debatem, discutem e deliberar e chegar a decisões parece impossível. Trata-se do choque entre dois ideários, um que acredita que nossos problemas atuais e globais de larga escala, como a poluição, a fome, a destruição de biomas e outros riscos, serão resolvidos pela ciência e fazendo business as usual. Sem mudar nada no nosso modo de pensar, apenas com leves mudanças de ação. Tecnologias que gastem menos energia, alguns parques para manter pedaços da natureza a salvo, umas latinhas de lixo e usinas de reciclagem aqui e ali e pronto. De outro lado, o ideário que acredita que precisamos de uma revolução profunda e radical, de parar tudo e começar de novo. Durante meu doutorado recentemente terminado, o grupo de gestores de uma rede hoteleira com o qual trabalhei chegou às seguintes conclusões, sem terem se aprofundado anteriormente nas questões teóricas acima. Apenas para contextualizar meu trabalho era sobre desenvolvimento de competências ligadas à sustentabilidade. Se você não gosta deste termo fique tranquilo. Eu também não gosto, mas o adotei porque é corrente na maior parte das organizações e meu doutorado era em Administração, na área de Gestão Humana e Social em Organizações. Logo no nosso primeiro encontro, ao ser perguntado sobre como pensavam sobre o seu futuro, duas visões emergiram deste grupo formado por jovens de no máximo 40 anos. Visão Green Building (nome dado pelo próprio grupo para sua visão de futuro): Tendência de mercado na construção civil. Reaproveitamento de água, iluminação natural, economia de energia. Importância do eixo econômico: um projeto tem que se sustentar economicamente. Importância do eixo social e ambiental: pessoas interagindo visando manter o ecossistema. Velocidade de informação: a internet vai permitir ver os que os outros entendem e estão fazendo por sustentabilidade. Visão Mad Max (nome dado pelo grupo para sua visão de futuro): Visão de futuro que surgiu há 30 anos. Corremos o risco de lutar pela sobrevivência e pelos recursos. O meio ambiente estará destruído e estarão ocorrendo mais desastres naturais ligados ao aquecimento global. Questões econômicas como hoje conhecemos serão secundárias, pois teremos voltado a uma época de bárbarie, em que cada um luta por sobreviver. Como estas duas viões de mundo podem conversar? Elas são fruto de dois ideários que pouco vem conversando nos últimos séculos. Maneiras de ver o mundo que vem se chocando, brigando e conflitando. Minha pergunta para terminar hoje. Será que é isso mesmo? A solução passa pelo conflito, a solução é dialética e as coisas vão se acomodando à medida que brigamos agressivamente ou resistimos pacificamente, ou existe a possibilidade de dialogar. Este texto tinha mais o objetivo de inaugurar esta coluna, de vencer a inércia. Voltarei.