Pão de Queijo com Chucrute By Ariadne Rengstl / Share 0 Tweet Vem chegando a primavera e com ela uma conhecida moda… que incomoda. Finalmente vem chegando a primavera. Apesar de abril ser um mês de clima instável, com dias quentes e outros chuvosos e frios, as plantas começam a brotar, os pássaros cantam animadamente, crianças brincam pelas ruas e já podemos nos sentir leves com a perspectiva de dias mais iluminados e calientes, livres dos agasalhos pesados que não só nos protegem do frio, como também nos distanciam do mundo, tão opressivos que são. A vida retorna a pulsar fora e dentro das gentes, e todos os outrora defuntos humanos se levantam de seus túmulos para passear ao sol. A transformação de inverno em primavera é um processo tão maravilhoso quanto indescritível. Enquanto no inverno tudo é silêncio e escuridão, de repente tudo torna-se luz e som. Digo “de repente” pois a mudança é drástica e parece instantânea, até mesmo para quem a observa de perto. A natureza se transforma e surpreende a todos. Árvores e plantas secas pipocam folhas e flores como num passe de mágica. Basta ligarem o calor do sol e pronto: tudo verdinho, florido, perfumado, iluminado e imensamente agradável. Basta iluminarem as cabeças dos homens para a vida fluir com mais intensidade e paixão. Portas e janelas se abrem permitindo que luz e som entrem em lares a muito consumidos pelo frio e escuridão. Há mais pessoas caminhando, mais crianças gritando pelas ruas, mil pássaros cantando ópera ou o último hit da Britney Spears. Os ciclistas começam seu “Tour de France”, num vai-e-vem sem fim de crianças, jovens, adultos, idosos e suas magrelas maravilhosas. Logo, logo, assim que a “pipoca” sair do forno, os Biergärten (Jardins da Cerveja típicos da Baviera) estarão abertos para a confraternização entre seres humanos, natureza e cerveja. Uma combinação gloriosa, afinal, tomar uma cerveja gelada – ou um refrigerante – sob a sombra de uma árvore num dia quente, ou num fim de tarde, enquanto o sol se põe às dez da noite, são sem dúvida nenhuma experiências deliciosas. Quase tão surpreendente quanto a primavera é uma moda que aparece e replandece alí mesmo no Biergarten. Um local glorioso transformado na passarela do ridículo. Acredito que tal combinação modística tenha surgido especialmente para ser usada em parques e Biergärten da vida. Não se sabe ao certo. Outros insistem que é tudo culpa da mamãe e do complexo de Édipo, já que os machos parecem ser os mais atacados pela doença. Mas não importa, sejam eles crianças, adultos ou idosos, todos continuam usando as tão aclamadas sandálias com meias. Para mim elas já viraram atração turística. É só passear no parque para ficar antenada, sempre à caça da combinação mais exdrúxula. Sim, pois não basta ser meia e sandália, as cores e modelos é o que as tornam mais inescrupulosamente repulsivas. Há quem diga que os turistas alemães, quando em terras extrangeiras, podem ser facilmente identificados pela tal combinação. Exageros à parte, o estereótipo para ter pegado de jeito. Mas no fim das contas, a pergunta que não quer calar é: existe realmente uma temperatura que não é quente o suficiente para ficar só de sandálias, nem fria o suficiente para que as meias ao vento sejam capazes de manter os pés do indivíduo adequadamente aquecidos? Minha resposta para tal dilema é não. Para mim não existe essa temperatura fenomenal. Apesar de haver, sim, muitas discrepâncias climáticas e uma escala de temperatura deveras variada, acredito que, se a céu aberto alguém sente frio no pé, uma meia não dá conta do recado. E se esse alguém não tem frio no pé, por que cargas d’água tem ele que calçar a meia? Para esconder as unhas compridas e sujas? Para sentir-se seguro perante a agressividade do mundo, para evitar calos, ou simplesmente para atiçar a repulsa dos passantes? Para os que a usam – uma massa de crianças inocentes, idosos senis e alguns adultos sem noção – deve ser prático. Para mim é exquisito mesmo e de mau gosto. Mas não deixa de ser engraçado. Principalmente depois de rolar de rir tirando sarro do tiozinho da mesa ao lado e virar-se para cumprimentar aquele seu grande amigo que chega ao Biergarten desfilando a tal moda que incomoda. Fotos: Zeit Magazin Leben Nr. 15. Abril 2008, WDR2 (www.wdr.de)