Dar à Luz


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As diferenças entre Brasil e Alemanha começam na sala de parto. Entenda o porquê.

No Brasil

Quatro amigas minhas brasileiras estão grávidas. Todas as quatro são saudáveis. Todas têm idade entre 19 e 30 anos. Todas estão vivendo uma gravidez tranqüila, gerando bebês fortes e saudáveis. E todas as quatro farão cesariana. Aí lembro que minha mãe teve dois filhos por parto normal, minhas avós tiveram respectivamente 4 e 10 filhos também por parto normal – nem vou falar nas bisavós! – e fico sem entender o porquê das minhas amigas saberem, com meses de antecedência, a data exata do nascimento de seus filhos. Então, na minha fingida inocência, pergunto às minhas amigas a razão que as levará a fazer tal cirurgia. A resposta unânime é inacreditavelmente vazia: “minha(o) ginecologista(o) disse que é melhor no meu caso”.

Nem preciso dizer que esse “no meu caso” ficou entalado na minha garganta. Que “caso” é esse que leva quatro mulheres conhecidas minhas – quanta coincidência! – a fazer uma cirurgia delicada que deveria ser encarada como último recurso, ou seja, em “casos” de risco de vida para mãe e filho? Sei que o tal “risco de vida” pode sim ser previsto, como por exemplo um parto de gêmeos múltiplos, doenças que podem agravar a vida da mãe e/ou do bebê, um bebê que se recusa a ficar na posição correta, entra tantas outras possibilidades que só podem ser prognosticadas dias antes da possível data de nascimento da criança, ou durante o trabalho de parto.

Concordo que nos casos de risco a cesariana é na verdade uma solução positiva que salva vidas e garante a saúde dos envolvidos, ou seja, tal cirurgia abdominal faz milagres quando realmente necessária. Porém, ela nem sempre o é, como acredito que não seja no “caso” das minhas quatro amigas. E para fortalecer meu ponto de vista, basta saber que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, “o Brasil é um dos campeões em cesarianas desnecessárias”. Com isso, atrevo-me a dizer que o “no meu caso” das minhas amigas é apenas uma forma torpe que alguns ginecologistas encontraram para fazer suas pacientes se sentirem “especiais” e encararem a cesariana como uma intervenção “necessária”. Uma pena, afinal.

Na Alemanha

Por aqui as coisas são diferentes, como de costume. O parto normal é o corriqueiro, até que alguma circunstância inconveniente faça necessária a cesariana. E como não poderia deixar de ser, as mulheres envolvidas vêem o parto normal como a melhor opção. Ontem mesmo estava conversando com uma jovem que trará seu bebê ao mundo em mais ou menos um mês. Ela está preocupada pois seu bebê ainda não se virou e a previsão de uma cesariana não a deixa nada satisfeita. Felizmente ainda há alternativas, como exercícios e posições especiais que ajudam e/ou motivam o bebê a tomar a posição correta. Ou seja, se há uma forma de evitar a cirurgia, todo e qualquer esforço vale a pena.

Como o parto normal é o “normal”, algumas condições se fazem necessárias para que a mulher sofra o mínimo possível durante o trabalho de parto. Por isso toda grávida deve fazer um curso preparatório para o parto. Nele são ensinadas técnicas de respiração para aliviar as dores das contrações, as posições mais recomendadas e confortáveis para dar à luz, exercícios para amenizar  o desconforto causado pelo barrigão nos últimos meses de gravidez, entre outros ensinamentos valiosos para manter a calma, principalmente das mamães de primeira viagem.

Há também cursos para casais, onde os papais mais participativos aprendem variadas formas de apoiar a companheira nesse momento tão especial, e claro, vivenciar ao vivo e a cores, da melhor e mais prestativa forma, a chegada do novo membro da família. O apoio do companheiro pode acalmar, confortar e incentivar a mulher durante o parto, por isso é recomendável que eles também façam o curso. Além disso, o homem aprende como ser mais participativo durante esse processo que parece ser tão exclusivo das mulheres. Participando do trabalho de parto, o papai vivencia o nascimento de seus filhos de forma mais íntima e interativa, podendo até mesmo cortar o cordão umbilical e auxiliar a enfermeira durante o primeiro banho do bebê.

Há muitos outros detalhes sobre o parto na Alemanha, tais como o apurado acompanhamento pré-natal, cursos sobre amamentação e cuidados com recém nascidos, e, claro, as razoes que motivam a existência e necessidade de tantos cursos. Porém muito disso, como dito, são detalhes. Aparatos que auxiliam mulheres e homens a ter e cuidar de seus bebês com mais confiança, mas que de maneira alguma devem ser vistas como condições obrigatórias. Por isso aconselho todas as mulheres que pretendem ter filhos a discutir abertamente com seu médico ginecologista o tal “no meu caso” e procurar uma segunda opinião caso ele insista em fazer uma cesariana aparentemente desnecessária. Informe-se propriamente e não deixe se levar pela fala mansa de um médico só porque ele tem um diploma. O parto normal deve ser a primeira opção para o médico e para a paciente, até que se prove o contrário. A saúde da mulher e do bebê agradece e muito.

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Ariadne Rengstl