A descoberta da América, parte 7: cruzando o Vale da Morte


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Quase todos os que se deslocam entre Las Vegas e Los Angeles o fazem utilizando o caminho mais óbvio: a imensa reta sobre o deserto do Mojave que é a Interstate 15. De fato, foi o que fizemos no percurso de ida. Para a volta, dentro do meu propósito de, nesta viagem pela Califórnia, jamais passar duas vezes pela mesma estrada, um desvio pelo Vale da Morte era uma alternativa das mais sedutoras.

A saída de Las Vegas se dá sob o sol inclemente da manhã. Assim que atingimos o limite da cidade, lembramos que estamos no meio de uma planície desértica. O ar condicionado gela o carro com força total; o trânsito flui leve pela estrada perfeita, o piche mais negro que já vi. Lá longe, na direção do horizonte que se avista na NV160, a bonita visão de montanhas de coloração entre o marrom e o róseo que margeiam nosso destino.

Essas montanhas ainda estão à nossa frente quando cruzamos a pequena cidade de Pahrump, última no estado de Nevada. Cruzamos a fronteira com a Califórnia e, já próximos do Parque Nacional do Vale da Morte, chegamos à Shoshone (com muita boa vontade, um povoado: a placa indica 52 habitantes). Como já fizemos antes em Pahrump, ignoramos o acesso direto para Furnace Creek, no coração do Vale da Morte, e continuamos pelo sul, de modo a cruzar o vale de ponta a ponta. A placa avisa: “next service 72 miles” – ou seja, nenhum serviço de apoio nos próximos 110 quilômetros! Com três quartos de gasolina no tanque e uma geladeira de isopor cheia de bebidas geladas, seguimos pela CA178, o caminho mais longo através do Parque.

A estrada de pista simples tem o asfalto algo gasto em alguns pontos, mas de modo geral bastante conservado. Entre infinitas curvas, o carro aos poucos desce, impressão confirmada pelo GPS. A paisagem muda o tempo todo: montanhas coloridas, rochas de aspecto variado e por vezes uma visão que não me parece muito diferente de uma paisagem lunar. Vez por outra, enormes tanques cilíndricos de água para radiador, imprópria para consumo humano.  O tempo inteiro, o que vemos através da janela do carro enche nossos olhos.

Atentos ao GPS, observamos a aparição de um número mágico: altitude zero. Daí em diante, estamos abaixo do nível do mar em meio ao vale quente e seco. Em Badwater, estacionamos o carro no ponto mais baixo da América do Norte: 85,5 metros abaixo do nível do mar. Ao lado da diminuta superfície com uns poucos dedos de água, uma placa na encosta de uma montanha fronteira indica, lá no alto, o nível do oceano.

A parada em Badwater foi rápida, assim como todas as paradas que fizemos no vale. Esquecemos de olhar no termômetro do carro a temperatura, mas arrisco sem medo de errar algo em torno dos 40 graus, talvez até um pouco mais. Logo à frente, nova parada, no Devil’s Golf Course. O lugar faz jus ao nome: em meio a imensos cristais de sal (secos, cortantes e de formas estranhíssimas), uma temperatura infernal. Nem pense em jogar uma bola de golfe a dez metros de distância e reencontrá-la…

Um pequeno desvio na CA178 nos leva a Artists Drive: a estrada, mais estreita, íngreme e curvilínea, atravessa montanhas de areia colorida, oferecendo ainda uma visão panorâmica do vale.

Antes de chegarmos em Furnace Creek, único lugar habitado do vale, um pequeno desvio nos leva ao Zabriskie Point, local que empresta o nome ao filme de Michelangelo Antonioni. Vale a pena estacionar o carro e – haja fôlego sob o sol escaldante – subir a pé a colina e desfrutar da estranha e bela paisagem do entorno.

Acabamos passando rapidamente Furnace Creek. Com seus 31 habitantes, mais parece um oásis em meio ao vale, oferecendo hospedagem, aeroporto, campo de golfe e um posto de gasolina. Atrasados que estávamos, passamos direto pelo vilarejo e começamos a subir montanha acima. Vez por outra parávamos para admirar a paisagem do vale que ia sendo deixada para trás. O altímetro agora indicava números positivos, acima dos 1500 metros. Em questão de minutos, uma subida e tanto.

Ainda paramos uma última vez para fotos no portal do Parque Nacional do Vale da Morte na saída da rodovia CA190. Dali em diante, seguimos tão rápido quanto possível em direção ao local onde pretendíamos pernoitar – a pequena cidade de Lone Pine, cenário de inúmeros faroestes. Como não tínhamos reserva em nenhum dos três hotéis da cidadezinha de dois mil habitantes, havia o receio de que tivéssemos que prosseguir durante a noite em direção a Lake Tahoe em busca de hospedagem, deste modo perdendo a oportunidade de ir até o sopé do monte Whitney e de cruzar durante o dia o belíssimo vale do rio Owen – locais estes que serão abordados no próximo artigo da série!

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Ricardo Montero