Depois dos trilhos, estradas e o céu


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Moro em Dublin há quase um ano e posso dizer que tive um período calmo para estudar e trabalhar até o momento em que poderia pegar um avião de certa forma sem destino.

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Não escrevo há um tempo porque estive de um ponto a outro pelas principais cidades européias. Tudo isso faz parte de minha escolha por viver em Dublin, estar sempre a um passo para a realização dessa grande viagem. Moro aqui há quase um ano e posso dizer que tive um período calmo para estudar e trabalhar até o momento em que poderia pegar um avião de certa forma sem destino. Meus planos iniciais eram de seguir para a Grécia e Turquia, porém ao longo do caminho senti que isso me levaria para um lugar meio distante de Paris, onde eu queria terminar minha jornada.

Muitos acharam estranho me encontrar sozinha durante o percurso, principalmente por eu ser mulher. E muitas vezes, eu mesma me senti um tanto corajosa e só, nos momentos em que tive medo pelo fato de ter que passar madrugadas nas estações de trem, ônibus ou aeroportos. Pois, em 25 dias minha rotina era a de dormir uma ou duas noites em algum hostel e outra durante o percurso para outra cidade. Carreguei comigo um livro e meu diário para que pudesse ler ou escrever durante meus momentos de solidão, que talvez, feliz e infelizmente foram poucos, já que não consegui chegar nem na metade da outra história, da ficção.

Não compreendo muito bem o que as pessoas pensam, mas muitas vezes assim que começava alguma leitura ou processo de escrita alguém vinha trocar algumas palavras comigo, mesmo eu não falando muitas palavras de sua língua. Como uma mulher idosa italiana – dessas mamas bem típicas – que na estação de trem de Veneza, em um monologo, me contou fatos de toda a sua vida nos campos do norte da Itália. E eu não pude dizer muito além de confirmar tudo o que me foi descrito.

Mas, além das pessoas locais com quem pude fazer alguma amizade também fiz o mesmo nos hostels em que me hospedei, inclusive com turistas brasileiros. Dizem que podemos encontrar um conterrâneo em todos os lugares do mundo e imagino que isso seja verdade. Nos cinco países em que estive posso dizer que encontrei um compatriota em cada lugar. Na rua, no correio, nos centros de informação turísticas, na lan house, nos hostels. Como em Roma onde fiquei em um quarto para quatro pessoas, sendo três brasileiros. Em Dublin eu havia passado pelo processo de querer trocar algumas palavras com cada tupiniquim que encontrava nas ruas, afinal são aqueles que escolheram o meu mesmo destino, sinto certa afinidade com isso. Porém, depois de um tempo e vendo a quantidade de brasileiros que moram em Dublin simplesmente desisti e parei de querer falar com eles. Mas, com o pé na estrada me senti novamente maravilhada em escutar o português brasileiro.

E outra coisa que me deixou encantada é o contato humano. Muitas vezes reflito comigo mesma o quanto da personalidade irlandesa herdei. Em meu processo de despedida do Brasil um amigo disse que iria me adaptar até bem ao humor britânico, porque tinha muito dessa inércia em meu modo de viver. Confirmo que de fato é verdade, porém em Dublin as pessoas possuem essa característica mais acentuada. Tanto que em Munique, na Alemanha, fiquei extremamente encantada pelo fato das pessoas sorrirem enquando trocamos poucas palavras. Embora também não esteja certa se foi por causa de minha idéia de que os alemães eram um povo muito sério e disciplinado ou porque os irlandeses estão além de tudo isso. Mas, tudo pelo contrário, os alemães são incrivelmente gentis. E então, comecei minha viagem por Amsterdam e terminei em Paris e digo que quanto mais eu descia pelas cidades no mapa, pelo sul europeu, pelos países latinos pude ver demonstrações de afeto mais explicitas, principalmente quantos os beijos e abraços que recebi, inclusive de ingleses.

 

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Keila Vieira