As mais doces lembranças…

Quindim. Pudim de leite. Brigadeiro. Pavê de morango. Sorvete de abacaxi. Bolo de fubá. Goiabada com queijo mineiro. Doce de abóbora. Bananada. Marmelada. Essas são apenas algumas das mais doces reminiscências da vida. Uma crônica sobre a doçura e o hábito e as origens de servir a sobremesa logo após as refeições.

Somos criados ao lado da cozinha e a primeira fragrância que se exala desse ambiente e que nos atinge como um raio é o cheiro das sobremesas que preparam em nossas casas. E é justamente nesses momentos que invadimos o ambiente, tomando-o de assalto e extorquindo as nossas cúmplices cozinheiras em busca de uma colher para raspar o tacho, ou mais modernamente, a panela…

Qual é a criança que não se apaixona por esses sabores que jamais nos fogem da memória e que nos traem a todo o momento quando queremos controlar nosso apetite e iniciar nossas dietas. Qual é o adulto que se furta a entrar numa doçaria ou confeitaria e se deleitar ao consumir um pé de moleque, um doce de leite, uma paçoquinha ou uma irresistível maria-mole.

Gilberto Freyre já nos dizia que o país não deveria se chamar Brasil, e sim, Açúcar. Fomos construídos a partir dos lucros (ou das migalhas que nos eram repassadas dessa riqueza pelos portugueses) de nossos canaviais. Nosso açúcar mascavo atravessava os mares e ganhava mercados europeus sendo comercializado por lusos e batavos. Por aqui, desde cedo nosso produto maior já nos alimentava e saciava como resposta doce ao amargor da fome e da penúria.

O fortuito encontro das negras e das portuguesas nas cozinhas dos engenhos legou-nos receitas que se tornaram as mais clássicas e fortes heranças da gastronomia nacional. A tradição de fartar-se com as sobremesas que adoçavam o nosso paladar depois de nossas refeições foi se consolidando com o tempo e se firmando a partir das casas-grandes, para depois ganhar o espaço urbano e sacramentar o império dos doces mais doces entre nós, brasileiros.

Se a refeição terminar e não lhe oferecerem uma sobremesa que lhe desperte um novo ânimo e que estimule ainda mais o seu apetite, não desista dos doces sonhos e parta, sem dor na consciência rumo a mais próxima doçaria…

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João Luís de Almeida Machado