Einstein na cozinha


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Por que o chocolate derrete na boca? Você sabia que nem todo o álcool evapora quando se cozinha com vinho ou cerveja? Como se descafeína o café? Por que nada gruda em frigideiras antiaderentes? O que se pode fazer com óleo usado? Por que não se deve pôr metal no microondas? Como é feito o vinagre?

Quantas não são as questões relativas ao cotidiano da cozinha que podem nos auxiliar a entender melhor a ciência? As perguntas apresentadas no início desse artigo fazem parte de um conjunto muito maior de questões que compõem o livro O que Einstein disse a seu cozinheiro, do professor de química da Universidade de Pittsburgh, Robert L. Wolke.

Diga-se de passagem que a melhor e mais interessante forma de se aprender alguma coisa está relacionada de forma direta a contextualização do ensinamento e das informações com as quais estamos lidando. Quanto maior for a proximidade entre os estudantes e as questões que estão sendo discutidas, serão mais prováveis os êxitos quanto à aprendizagem de conceitos, idéias, fatos,…

Na prática isso quer dizer que se pudermos ensinar geometria indo para uma construção e indicando formas, demonstrando fórmulas, pedindo amostras, desenhando rascunhos, tirando fotografias ou fazendo anotações estaremos facilitando enormemente a compreensão, o raciocínio e, como conseqüência disso, a aprendizagem por parte de nossos alunos.

Essa prática que se estabelece a partir de aproximações entre o cotidiano e a teoria é, infelizmente, pouco aplicada nas escolas brasileiras. Trata-se de um tipo de trabalho que exige muito planejamento, uma boa estruturação, diretrizes muito claras por parte dos professores e, evidentemente, tudo isso acaba requisitando maior empenho e dedicação dos educadores.

Talvez esse seja o grande empecilho para que mais aulas desse tipo sejam implementadas em nossas escolas. O trabalho adicional, que pede mais preparação e cobra do professor uma atitude diferenciada e de maior envolvimento e participação é muitas vezes refutado pelos profissionais da educação. É muito mais fácil dar aulas no modelo tradicional, com os livros didáticos, a lousa e o giz, as apresentações expositivas dos conteúdos…

Vencer essa atitude comodista é, sem qualquer sombra de dúvidas, um dos mais importantes desafios da educação brasileira no século XXI…

Mas, voltando ao livro de Robert L. Wolke, que traz em suas páginas uma proposta de estudo e compreensão da ciência a partir de seu exame num espaço mais do que cotidiano como a cozinha, temos que dar o devido destaque à sua proposta justamente por seu caráter empreendedor.

A escola e a ciência têm uma ligação umbilical e, pensando-se nisso, temos que estreitar suas relações e criar formas de apresentação dos conceitos científicos em ambientes escolares que consigam realmente captar a atenção dos estudantes, desafiá-los e, dessa forma, levá-los ao entendimento e a aprendizagem dos conceitos.

Wolke consegue fazer isso em seu livro O que Einstein disse a seu cozinheiro partindo de uma premissa básica para quem trabalha com ciência e pesquisa, ou seja, iniciando seus textos sempre a partir de uma dúvida, ou seja, de uma pergunta.

As questões têm sempre o propósito de esclarecer para o educando o que se pretende descobrir, aonde se quer chegar, qual é a dúvida que orienta a nossa ação. Se essa pergunta está ligada ao dia a dia e pode lhe auxiliar em sua vida doméstica ou em seu trabalho de uma forma direta, torna-se ainda mais pertinente e importante aos seus olhos.

Como todos nós temos uma relação intensa, próxima e calorosa com a alimentação, a cozinha se torna evidentemente um local fabuloso para aprofundar conhecimentos, instigar os estudantes, provocar-lhes os sentidos e, dessa forma, fazer ciência…

Quando Wolke nos pergunta, por exemplo, o que devemos fazer se acidentalmente colocamos sal demais numa sopa que estamos preparando e resgata a popular idéia de que essa salmoura poderia ser evitada se pusermos batatas cruas nesse caldo, ele está falando sobre uma situação extremamente
corriqueira na vida de qualquer pessoa.

Pelo senso comum, ou seja, agindo de acordo com as tradições e com a verdade estabelecida pela prática de nossas mães, avós ou bisavós podemos até pensar que as batatas realmente funcionam para diminuir o sal excessivo colocado em nossas sopas. Há até um ingrediente psicológico que nos faz pensar que isso realmente acontece e que, de certa forma nos induz a imaginar que o sal de nossas preparações diminuiu…

Mas Wolke não pauta seu livro em conhecimentos que não possuam validade científica, por isso mesmo ele resolve arregaçar as mangas e fazer valer as práticas da pesquisa em busca de uma resposta consistente (e que, até prova em contrário, possa ser considerada a melhor possível). É isso que acontece no caso das sopas salgadas demais e das batatas que poderiam reduzir essa salinidade excessiva.

Nesse sentido todas as questões levantadas para a primeira incursão de "Einstein" pela cozinha (o sucesso do livro foi tão grande que se produziu um volume 2, com o mesmo título, com dezenas de outras perguntas tão interessantes quanto as do primeiro livro) são analisadas a partir do manejo e utilização de técnicas e práticas experimentais, ou melhor dizendo, as dúvidas levantadas são trabalhadas em laboratório.

Há evidentes e necessárias preocupações quanto ao rigor dos experimentos, por esse motivo procuram-se utilizar medidas padronizadas, equipamentos de precisão são referenciais obrigatórios para essas avaliações, anotações e um acompanhamento passo a passo de todas as etapas do processo são sempre feitas pelo pesquisador e autor do livro.

A propósito, acredito que não deveria existir uma distinção entre professor e pesquisador, as duas atribuições deveriam compor apenas uma e, como resultado disso, teríamos então um profissional que atuasse de forma investigativa, buscando respostas e alternativas para o seu campo específico de atuação e que, ao mesmo tempo, tivesse a capacidade e o necessário preparo (aliados a uma curiosidade constante também na área pedagógica) para o desempenho de um bom trabalho educacional.

Ao lermos a obra de Robert Wolke estamos entrando em contato com uma proposta que caminha muito nessa direção, ou seja, a do professor-pesquisador.

O que Einstein disse a seu cozinheiro também é muito valioso por nos indicar um caminho que pode ser trilhado de muitas outras formas ao nos dizer que a aprendizagem se torna muito mais edificante e ao mesmo tempo efetiva a partir do momento em que aquilo que se ensina se aproxima da realidade dos educandos.

É possível transferir essa notável experiência para o quintal das casas, os mercados municipais, a produção nas fábricas, o trabalho em hospitais, atividades esportivas, visitas a centros culturais e museus,…

A educação passaria então a ter outra conotação e um sentido muito mais claro e enriquecedor para quem aprende e também para quem ensina…

Obs. A propósito, se você ficou curioso quanto a eficácia das batatas no combate a salinidade excessiva de sua sopa ou em relação a qualquer uma das outras perguntas que foram apresentadas ao longo desse artigo, corra à livraria mais próxima e encomende sua cópia do livro ou faça experiências em sua própria casa…

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João Luís de Almeida Machado