Bruna Surfistinha e o Cinema Publicitário

Minha intenção era ver Natalie Portman em Cisne Negro dirigida pelo Darren Aronofsky, o cara que fez Réquiem para um sonho, e trouxe o grande Mickey Rourke de volta em O Lutador, mas por força do acaso e de uma grana investida numa pipoca de shopping (que valem muito mais que a média e são murchas), acabei me deparando com as aventuras sexuais da Bruna Surfistinha.
 
bruna surfistinha
 
Nada contra cinema nacional, pelo qual nutro grande apreço, principalmente pelos clássicos, mas há muita coisa nova de imensa qualidade como Os famosos e os duendes da morte ou Reflexões de um liquidificador para ficar só nesses dois. A questão é que eu nunca entraria no cinema para ver o filme de um diretor estreante que é publicitário. De novo, nada contra os publicitários. Mas cinema não é publicidade.
 
Tanto se falou da atuação de Deborah Secco e o que vi foi uma repetição do que todos nós um dia já vimos no horário nobre da rede globo. Débora se repete, as mesmas caras e bocas. O que salva, talvez, é a coragem para fazer certas cenas, mas ela some no meio das outras prostitutas, atrizes menos conhecidas e muito mais talentosas como Erika Puga. A história todo mundo já conhece: garota adotada por família classe média, resolve se prostituir para ter a liberdade de “não precisar depender de ninguém”, enriquece, empobrece, se droga, descreve suas peripécias sexuais num blog, escreve um livro (na verdade escrito por um jornalista) e cai de boca, com perdão do trocadilho, na mídia.
 
O filme tem momentos hilários e consegue, em poucas cenas, mas consegue, mostrar um pouco da vida das garotas de programa, vida, diga-se de passagem, totalmente legítima na minha humilde opinião.
 
Mas o filme do diretor Marcus Baldini é muito “bem acabadinho”, está tudo no lugar, não há um enquadramento torto, ousado, diferente. Não há uma luz estourada ou uma cena escura. Há uma cena em que Bruna/Déborah anda pelo Av. Paulista falando ao celular enquanto frases do seu blog são projetadas nos prédios ao redor. Aposto que os publicitários que fazem propagandas para operadoras de celular ficaram com uma ponta de inveja.
 
O que quero com isso é dizer que talvez uma boa história bem contada não basta enquanto cinema. O mundo prejudicado dos dias que seguem precisa de ousadia, de uma estética que faça pensar, não precisa de mais comerciais. Como bom publicitário estrategista, Marcus Baldini conseguiu que seu filme saísse com 600 cópias, coisa extremamente rara no cinema nacional, que vê vários lançamentos menores nem chegarem às salas de exibição. É uma situação preocupante já que grande parte dos filmes tem um montante de financiamento público.
 
O filme não é de todo ruim, ele é, na verdade, careta demais, mesmo com todas as cenas desenvoltas de sexo. Sexo não pode ser filmado de maneira tão perfeitinha.
 
Eu quero um cinema agressivo.

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Diogo Brunner