FARC, Ingrid Betancourt e os colombianos

Este é um tema um tanto quanto delicado. Finalmente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia é ou não um grupo terrorista? A resposta a esta pergunta exigiria ao menos uma tese para que fosse respondida sem refutações. Como nosso espaço é breve, eu diria que as FARC são um grupo que se utiliza de práticas terroristas e suas causas de “exército do povo” (se é que já existiram realmente) já foram enterradas há muito tempo.

Este é um tema um tanto quanto delicado. Finalmente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia é ou não um grupo terrorista? A resposta a esta pergunta exigiria ao menos uma tese para que fosse respondida sem refutações. Como nosso espaço é breve, eu diria que as FARC são um grupo que se utiliza de práticas terroristas e suas causas de “exército do povo” (se é que já existiram realmente) já foram enterradas há muito tempo.

Para entendermos a questão precisamos saber do que se trata o terrorismo. Existem muitas definições sobre terrorismo e o ponto comum entre elas é fato de que terrorismo é o uso da violência física ou psicológica por um indivíduo ou grupo que deseja ir contra a ordem estabelecida de forma a impor o medo ou o terror em um território. O terrorismo pode ser aplicado ainda por um Estado, como por exemplo, a Operação Condor, que discutiremos outro dia. Nada haver, portanto, com a definição da doutrina Bush que define terrorismo todo ou qualquer indivíduo ou grupo que vão contra os seus interesses, mesmo que não usem a violência ou pressões psicológicas contra o seu governo. Para a doutrina Bush basta você estar em desacordo com suas práticas para ser considerado terrorista. Se não é assim, como justificar Cuba como um país terrorista?

Voltemos a América do Sul. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia que ocupa cerca de 40% do território do país e impõe medo e terror ao restante, nasceu com idéias socialistas e comunistas e com o uso de armas, seqüestros e tráfico de drogas age e  financia suas atividades. As FARC não deseja estabilidade política e, se algum dia realmente desejou defender os interesses dos camponeses, este desejo se foi no dia em que seqüestraram a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, esta sim, defensora de direitos de grupos menos favorecidos e que bateu de frente com interesses dos que governam a Colômbia. A liberdade de Ingrid Betancourt não interessa nem as FARC e nem a Álvaro Uribe. Ela é democrática e boazinha demais. Para ambos, quanto mais instabilidade, melhor.

Embora o cerco as FARC tenha sido a bandeira do governo Uribe desde o primeiro mandato e isto tenha ajudado a manter sua popularidade em alta, seu segundo mandato se aproxima do fim e ele não só não conseguiu diminuir o poder das FARC (embora os EUA tenham lhe dado todos os recursos que solicitou), como se mostrou completamente inábil em lidar com o fim do seqüestro de Ingrid Betancourt e outros reféns. Afastar Hugo Chavez, que tinha um canal de comunicação com os terroristas, foi um erro, embora seja possível imaginar também que Chavez, sabendo da impossibilidade de libertar os reféns, teria ferido propositadamente um acordo de cavalheiros, mas isso nunca saberemos.

Para as FARC, ter Ingrid Betancourt livre, seria o fim de um de seus principais discursos: a falta de diálogo dos governos autoritários. Só que as FARC estão em situação delicada. Ingrid sempre se mostrou ser capaz de dialogar e sempre se negou a alianças com grupos que até hoje comandam a Colômbia. Era independente. A morte dela seria um erro estratégico que poderia culminar em envolvimento de forças que as FARC não seriam capazes de resistir, como França e EUA. A sua liberdade também é uma escolha difícil, pelas razões já apresentadas e, desconfio ainda, que todo este tempo na mão dos terroristas, Ingrid possa ter informações sobre as lideranças que não necessariamente vivem na selva e que surpreenderiam a todos nós.

Quem perde qualquer que seja o resultado é a própria Ingrid, seus familiares e os colombianos.

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Márcio Pimenta