Cozinha Vegan By Caio Cezar Mayer / Share 0 Tweet A história do vegetarianismo, ou , pode-se até dizer, do veganismo, por mais incrível que pareça para a maioria da audiência, começou milênios atrás. Digo isso porque ainda é muito comum o indivíduo que nunca viu um vegetariano na vida (eu mesmo fui um deles até os quinze anos, mais ou menos) e muitos outros tem a tendência de taxar aqueles que aderem a uma dieta vegetariana (restrita ou não) de modista. Isso torna pertinente a pergunta: será que Platão, Pitágoras, Voltaire ou São Francisco de Assis… A história do vegetarianismo, ou , pode-se até dizer, do veganismo, por mais incrível que pareça para a maioria da audiência, começou milênios atrás. Digo isso porque ainda é muito comum o indivíduo que nunca viu um vegetariano na vida (eu mesmo fui um deles até os quinze anos, mais ou menos) e muitos outros tem a tendência de taxar aqueles que aderem a uma dieta vegetariana (restrita ou não) de modista. Isso torna pertinente a pergunta: será que Platão, Pitágoras, Voltaire ou São Francisco de Assis eram homens tão a frente de seu tempo a ponto de captarem tendências da moda que só se manifestariam séculos depois? Ou será que nós, indivíduos pós-modernos capitalistas selvagens etnocêntricos malucos, não estamos a confundir moda com tendência? Não, não a tendência outono inverno, tendência no sentido mais literal, de inclinação natural da ordem das coisas. Ou quem sabe até com conseqüência. Humm, ai embaçou. Mas eu explico. O vegetarianismo existe há muito, muito tempo, como eu vou te contar daqui a pouco, sempre independente das tendências da moda, mas as vezes ficando mais ou menos em voga, o que é natural, como agora, que esta mais em voga. E por que esta? Conseqüência dos caminhos amalucados que o ser humano tem tomado em sua exploração dos bens do planeta. Um mundo aonde em um país como o Brasil, por exemplo, a população bovina ultrapassou a população humana (veja bem, há, aí, dois absurdos, a população humana e a população bovina, aumentada pela população humana), aonde existem lugares em que a comida dos porcos tem prioridade sobre a comida dos humanos pobres (assistam ao documentário Ilha das Flores e entendam o que quero dizer), aonde animais ancestrais colossais como as baleias correm risco de extinção, o vegetarianismo tende a crescer. É mais do que moda, mais forte do que isso, tem raízes históricas. É natural. Conseqüência. Sendo assim, é sempre bacana perceber que ver a história do vegetarianismo (ou do veganismo, pois entenderei no presente artigo vegetarianismo como a alimentação baseada em vegetais, já que o veganismo é um termo moderno cunhado para diferenciar os vegetarianos ditos restritos – eu diria literais – daqueles que só se abstém da carne, mas não de outros produtos, como ovo ou lacticínios) é ver também a historia do mundo, das pessoas, da humanidade, e entender que o pensamento humano direcionado ao respeito absoluto a vida não nasceu ontem em uma reunião de universitários naturebas. Vamos lá! Forçando um pouquinho a barra, mas pra você ver como a coisa rolou, posso te falar que o nosso parente mais distante de todos, o Australopithecus Anamensis, só se alimentava de frutas, folhas e sementes, isso cerca de uns 5 milhões de anos atrás. E assim prossegui por muito tempo, e não foi o Australopithecus Boesei (há mais ou menos 2 milhões de anos atrás) que mudou o rumo da coisa. O homem só foi desencanar dessa história de só comer frutinha há cerca de 120 mil anos atrás, com o Homo Neanderthalensis. Foi esse aí que inventou tantas coisas que o homem tanto gosta até hoje, como o trabalho, as armas e o churrasco. Sabe como é que é, um dia o cara percebeu que dava pra alcançar a fruta mais alta da arvore com um pedaço de pau. Depois percebeu que, dando com esse mesmo pedaço de pau na cabeça de outro ser vivo, ele cancelava a vida do coitado. Daí pra frente a coisa degringolou! Primeiro o homem caçava em grupo, visando animais de grande porte, como mamutes, e outros menores, como os veados. Depois os caras aprenderam a plantar, fizeram ali sua hortinha e, junto com ela, atraíram um monte de bicho esfomeado pronto pra fazer uma boquinha na horta do bicho homem. Porcos selvagens, ovelhas, cães, cobras, ratos, aves e gatos, por exemplo, começaram a se amontoar no pedaço. Foi então que foram domesticados, uns para serem mimados, outros para irem pra panela. Daí que o safado do homem virou sedentário, e, por conseqüência, acabou inventando mais algumas coisas bonitas, como as artes, a guerra, a propriedade da terra, a dominação e a escravidão. E desde que o homem se tornou onívoro, beberrão, possessivo, sedentário e pançudinho, o vegetariano, ou melhor, herbívoro, que já tava ali faz tempo, se tornou o chatinho que fica enchendo seu saco no churrascão do domingo. Mas às vezes ele também é beberrão e pançudinho. No Egito antigo, por exemplo, alguns grupos religiosos aderiram ao vegetarianismo, acreditando que a carne dificultaria a reencarnação. O lendário primeiro profeta-rei chinês Fu-Xi, lembrado nas histórias chinesas como um governante benévolo e sábio, era vegetariano. Não precisa nem falar sobre o famoso Siddhartha Gautama, o Buda histórico, que viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. no Nepal, vegetariano até o osso. A história continuou correndo e muitas culturas viviam muito bem, obrigado, sem carne, seja por opção religiosa, seja pela própria escassez do produto. O rei indiano Asoka, que reinou entre 264-232 AC, convertido ao budismo, proibiu sacrifícios animais em sua terra, criando assim um reino vegetariano, e as religiões da região sempre estiveram ligadas à idéia do respeito absoluto a vida e da não-violência. Na Grécia antiga, pensadores proeminentes como Pitágoras, Sócrates e Platão eram apologistas de uma dieta natural, isenta de carne animal, como fonte de uma vida mais saudável e harmoniosa com a natureza. No judaísmo e no cristianismo muitos grupos aderiam a abstinência de carne por acreditar que era essa a vontade de Jesus ou de Jeová. Já na idade média, os religiosos vegetarianos eram considerados hereges, fanáticos (por duvidar da supremacia do homem sobre os outros seres vivos) e muitas vezes acabavam esquentando os fundilhos na fogueira, coisa que São Francisco conseguiu evitar. No renascimento, idéias como o neoplatonismo e o neopitagorismo trouxeram o vegetarianismo de volta aos temas da moda, e como representante ilustre da causa podemos citar ninguém menos do que Leonardo Da Vinci. Já no iluminismo do século XVIII, quem tratou de jogar os holofotes sobre o tema foram os poetas John Gay e Alexander Pope, alem dos filósofos como Voltaire, Rousseau e Locke. Qualquer um que preste um pouquinho de atenção pode observar as “brechas vegetarianas” que Voltaire nos deixa em obras como Cândido. Deixo aqui uma, nas sabias palavras do mestre Pangloss: “Queiram notar que os narizes foram feitos para usar óculos, e por isso nós temos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para as calças, e por isso temos calças (…) e como os porcos foram feitos para serem comidos, nós comemos porcos o ano inteiro;”. Já para o século XIV, nossas atenções se voltam para os cristãos radicais, como os adventistas do sétimo dia, da qual o representante mais famoso é, sem sombra de dúvidas, nosso estimado Dr. John Harvey Kellogg, criador da Kellog´s (quantas vezes quando criança não quis ter a força do tigre Tony). Mas foi no século vinte que a chapa começou a esquentar mesmo. Nas grandes guerras, os europeus não comiam muita carne, porque não tinha mesmo, mas essa diminuição forçada do consumo, somada ao aumento do consumo de vegetais, também colaborou anos mais tarde para que o vegetarianismo fosse acrescentado ao rol de preceitos da contra-cultura da juventude dos anos 60. Mas daí, minha gente, tem tanta coisa, tanta coisa… De Peter Singer e sua Libertação Animal pra mais! Coisa pra outras colunas. Tanta historia boa, tanta gente legal que eu nem citei por aqui. Vide Albert Einsten! O importante é que, mais do que dar uma minuciosa aula de história, o que quero aqui é demonstrar como a idéia de não se alimentar da morte de outros seres é mais velha que andar para trás, mais antiga do que a época do arco-íris em preto e branco, bem mais velha do que o guaraná com rolha. Se a coisa agora ta crescendo, ta “virando moda”, é porque a situação ta ficando preta! “Como assim a situação ta ficando preta?” Sobre isso eu falo na semana que vem. Também fiquei de falar sobre chefs veganos famosos, mas é mais um de tantos temas que vai ter de ficar pulando aflito aqui dentro da minha cabeça mais um pouco. Por hoje, é só, fica aquela receitinha básica pra finalizar com chave de ouro. Semana que vem tem mais! Tchau. Bocadinhos de abobrinha Você vai precisar de: – 2 abobrinhas italianas grandes – 1 colher de sopa de azeite – ½ cebola picada – 1 tomate picado em cubos – ½ xícara de chá de cogumelos fatiados – 1 colher de sopa de azeitona picada – 2 colheres de sopa de cebolinha picada – 1 colher de sopa de linhaça moída – Sal e azeite a gosto Comece cortando as abobrinhas em pedaços de 3cm de espessura. Com uma colher, retire a polpa de cada pedaço, deixando aproximadamente 0,5cm de borda e no fundo, fazendo pequenos “copinhos” com a abobrinha. Reserve o miolo da . Cozinhe os copinhos no vapor ou em água, com sal, por cerca de 5 minutos. Em uma panela, aqueça o azeite e refogue a cebola. Acrescente, nessa ordem: os tomates, os cogumelos, a polpa reservada de abobrinha e misture. Deixe cozinhar até que os ingredientes fiquem macios. Adicione sal se quiser. Acrescente a azeitona. Coloque por fim a cebolinha e mexa bem. Agora, recheie as abobrinhas com o refogado e polvilhe a linhaça por cima. Regue com azeite a gosto, pode servir quente ou frio. Ideal para saborear com aquela cervejinha gelada.