Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet Ao invés do “Choque de civilizações” é preciso fazer tudo – com palavras e ações – no sentido da busca da Confluência de Civilizações. O presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, abriu o diálogo com os povos islâmicos, conforme havia prometido na campanha eleitoral de 2008. Ele discursou a uma plateia de aproximadamente 3.000 pessoas, na Universidade do Cairo, na capital egípcia, no dia 4 de junho de 2009 e afirmou que busca "um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos de todo o mundo" e que o país "não está, e nunca estará, em guerra contra o Islã", sendo ovacionado pela platéia. As repercussões foram diversas, como era de se esperar pela complexidade do tema. O secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, disse que o discurso representou o anúncio de "um novo capítulo" nas relações de Washington com os islâmicos e um passo rumo à superação das diferenças entre culturas. Segundo a BBC, o reitor da Universidade Al Quds, em Jerusalém, Sari Nusseibeh, disse que os muçulmanos do mundo árabe querem ver as promessas transformadas em ações e além da resolução do conflito entre Israel e palestinos, Obama precisa também dizer como resolverá questões regionais como as tensões americanas com o Irã e a Síria, e com os grupos Hezbollah e Hamas. Já a direita fundamentalista americana, cada vez mais isolada dentro do país, criticou Obama por "desculpas" ao islã e pelo fato do discurso ter sido "excessivamente humilde". Segundo o jornal Folha de São Paulo, Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney criticou Obama e afirmou: "A vida dos palestinos sob a ocupação é difícil, mas não tem absolutamente nenhuma semelhança com os horrores do Holocausto." O radialista conservador Mark Levin achou o discurso “horrível" e disse: "Por que Obama quis atacar seu próprio país, desconsiderar Israel – nosso único aliado real na região – e destruir os militares que estão lutando por nossa liberdade e esperança no Oriente Médio?" Algumas reações críticas eram esperadas, pois Obama está fazendo uma política antípoda à do seu antecessor e, o discurso em si, não passa de palavras. Porém palavras certas nos momentos adequados são fundamentais para as ações corretas. Portanto, o discurso de Obama é apenas o começo de um recomeço. Mas as ações se tornam mais efetivas quando existe uma boa vontade, das partes envolvidas, na resolução dos problemas. A íntegra do discurso de Obama no Cairo pode ser acessada nos links: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/integra-do-discurso-de-obama-no-cairo/ http://www.youtube.com/watch?v=FfSR_V5BZ5s Vejamos alguns trechos do discurso: “Sinto-me honrado, nessa milenar cidade do Cairo, recebido por duas importantes instituições. Há mais de mil anos, a Universidade de al-Azhar já era sentinela avançada dos estudos islâmicos, e por mais de um século a Universidade do Cairo é fonte de desenvolvimento do Egito… Trago-lhes com orgulho a boa-vontade do povo americano, e um voto de paz das comunidades muçulmanas em meu país” “As relações entre o Islam e o ocidente incluem séculos de coexistência e cooperação, mas também conflitos e guerras religiosas… Extremistas violentos exploraram essas tensões em minorias pequenas, mas potentes, de muçulmanos. Os ataques de 11/9/2001 e os continuados esforços daqueles extremistas em ações de violência contra civis, levaram alguns, no meu país, a ver o Islam como inevitavelmente hostil, não só aos EUA e aos países ocidentais, mas hostil também aos direitos humanos. O que alimentou mais medo e desconfiança”. “Enquanto nossas relações forem definidas por nossas diferenças, mais força daremos aos que semeiam ódio, não paz; e aos que promovem conflitos, não a cooperação que pode ajudar nosso povo a alcançar justiça e prosperidade. Esse ciclo de suspeitas e discórdia tem de acabar. Vim até aqui em busca de um recomeço, entre os EUA e os muçulmanos de todo o mundo; recomeço baseado em interesse mútuo e mútuo respeito; e baseado na verdade de que os EUA e o Islam não são exclusivos e não precisam viver em competição. Em vez disso, somam-se e partilham princípios comuns – princípios de justiça e progresso; de tolerância e de respeito à dignidade de todos os seres humanos”. “Que ninguém se engane: não desejamos manter nossas tropas no Afeganistão. Não queremos instalar bases lá. É agonia, para os EUA ver morrer nossos jovens, homens e mulheres. Esse conflito custa-nos muito e é politicamente difícil continuar aquela luta. Nós retiraríamos os nossos soldados de lá e com alegria os traríamos para casa, se pudéssemos ter certeza de que não há extremistas violentos no Afeganistão e no Paquistão, determinados a matar o maior número possível de norte-americanos. A situação ainda não é essa. … O Santo Corão ensina que quem mata um inocente, mata como se matasse toda a humanidade; e que quem salva um ser humano, salva como se salvasse toda a humanidade. A resistente fé de mais de um bilhão de seres humanos é muito maior que o ódio estreito de uns poucos. O Islam não é parte do problema de combater o extremismo violento – é parte importante da promoção da paz”. “Todos conhecem os fortes laços que unem Israel e os EUA. São laços inquebráveis. Baseiam-se em ligações culturais e históricas e no reconhecimento da legitimidade da aspiração do povo judeu a ter uma pátria, aspiração que se baseia na sua trágica história que não pode ser negada. Em todo o mundo, o povo judeu foi perseguido, e o antissemitismo na Europa culminou num Holocausto sem precedentes” “Por outro lado, é inegável o sofrimento dos palestinos – muçulmanos e cristãos – em busca de uma pátria. Há mais de 60 anos sofrem a dor da deslocação. Muitos esperam em campos de refugiados na Cisjordânia, em Gaza e em terras próximas, por uma vida de paz e segurança que jamais puderam ter. Sofrem humilhações diárias – maiores e menores – resultado da ocupação. Aí tampouco não cabem dúvidas: a situação do povo palestino é intolerável. Os EUA não darão as costas às legítimas aspirações dos palestinos, por dignidade, oportunidades e um Estado seu … a única solução possível para atender às aspirações dos dois lados é criarem-se dois Estados, nos quais israelenses e palestinos possam viver em paz e em segurança”. “A terceira fonte de tensão é o interesse que todos temos quanto aos direitos e responsabilidade das nações, quanto às armas nucleares. … Nenhuma nação pode escolher e decidir quais nações tenham armas nucleares. Por isso, reafirmei fortemente o compromisso dos EUA com buscar um mundo em que nenhuma nação tenha armas nucleares”. “A quarta questão da qual tratarei é a democracia. Sei que tem havido controvérsia sobre a promoção da democracia nos anos recentes e muito dessa controvérsia está ligada à guerra no Iraque. Permitam-me ser claro: nenhum sistema ou governo pode ou deve ser imposto por uma nação a outra. Isso, contudo, não enfraquece o meu compromisso com governos que reflitam o desejo popular. Cada nação dá vida a esse princípio à sua maneira, enraizado nas tradições de seu povo”. “A quinta questão de que devo falar também é a liberdade de religião. O Islam tem honrada tradição de tolerância. Vemos na história da Andaluzia e de Córdoba, durante a Inquisição. Vi em primeira mão, criança na Indonésia, onde cristãos devotos gozam de liberdade de culta em país predominantemente muçulmano. Precisamos desse espírito, hoje. Todos, em todos os países, devem ser livres para escolher e viver a própria fé, por persuasão de mente, coração e alma. Essa tolerância é essencial para que as religiões floresçam, tanto quanto é ameaçada por muitos e diferentes modos”. “A sexta questão sobre a qual quero falar são os direitos das mulheres. Sei que há muito debate sobre essa questão. Rejeito o ponto de vista de alguns no ocidente, de que a mulher que escolha cobrir os cabelos seria de algum modo menos igual às demais mulheres, mas também creio que se se nega educação às mulheres se lhes sonega direitos de igualdade. Não por acaso, os países em que as mulheres têm acesso a plena educação têm mais probabilidades de alcançar a prosperidade. Quero aqui ser bem claro: a igualdade para as mulheres não é questão e objeto de discussão, nem é problema, só para o Islam. Na Turquia, no Paquistão, em Bangladesh e na Indonésia, vimos países com maioria de muçulmanos elegerem mulheres para postos de liderança. Ao mesmo tempo, prossegue a luta por direitos iguais para as mulheres em muitos campos da vida nos EUA e em vários outros países do mundo. Nossas filhas podem contribuiu tanto, para a sociedade, quanto nossos filhos, e nossa prosperidade comum só aumentará de houver condições para que todos – homens e mulheres – alcancem seu pleno potencial”. “Por fim, quero discutir desenvolvimento econômico e oportunidade. Sei que, para muitos, a face da globalização é contraditória. A internet e a televisão podem trazer conhecimento e informação, mas também sexualidade ofensiva e violência a mais absurda. O comércio pode trazer riqueza e oportunidades, mas também enormes rupturas e mudanças nas comunidades. Em todas as nação, também na minha, essa mudança pode provocar medo. Medo de que, por causa da modernidade, percamos o controle sobre nossas escolhas econômicas, nossas políticas e, mais importante, sobre nossa identidade – tudo o que mais prezamos nas nossas comunidades, nossas famílias, nossas tradições e nossa fé. Mas também sei que não se pode negar o progresso humano. Não tem de haver contradição entre desenvolvimento e tradição. Países como o Japão e a Coreia do Sul viram suas economias crescerem, sem deixar de manter culturas distintas. O mesmo vale para o espantoso progresso de países de maioria muçulmana, de Kuala Lumpur a Dubai. Em tempos antigos e nos nossos tempos, sempre houve e há comunidades muçulmanas da linha de frente da inovação e da educação”. “Os povos do mundo podem viver juntos em paz. Essa é a visão de Deus. Agora, esse tem de ser nosso trabalho aqui na Terra. Obrigado. Que a paz de Deus esteja com vocês”.