Pauperização dos recursos naturais e aumento da demanda elevam o preço da comida

Existe um componente do preço dos alimentos que decorre do desperdicio na produção, na distribuição e no consumo e outro que decorre do poder dos atravessadores, dos especuladores de estoques, da injusta estrutura fundiária, dos monopólios e dos grandes conglomerados produtivos. Os alimentos viraram commodities e são comercializados pelo seu valor econômico e não pela utilidade e seu valor inerente à vida. Mas a despeito disto, o índice do preço dos alimentos caiu nas décadas de 1980 e 1990, atingindo o nível mais baixo no início dos anos 2000.
De 2003 em diante, o preço dos alimentos iniciou uma trajetória ascendente, que foi parcialmente interrompida pela crise financeira internacional de 2009, mas que atingiu o pico de alta entre fevereiro e junho de 2011. Segundo estimativas da própria FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o índice de preço dos alimentos tende a permanecer em níveis elevados nas próximas décadas.
O que mudou do final do século passado para o século atual?
Por um lado houve aumento da demanda, já que tem crescido a parcela da população mundial que tem maior poder de compra de alimentos mais proteicos. Segundo dados da Goldman Sachs a classe média mundial cresceu de cerca de 1 bilhão de pessoas em 1970 para 1,5 bilhão no ano 2000, representando um aumento de 50% em 30 anos. Porém, a classe média mundial chegou a 2,5 bilhões de pessoas em 2010, representando um aumento de 67% em apenas 10 anos. Em grande parte devido ao “sucesso econômico” da Chína e da Índia, as estimativas apontam para uma classe média mundial de mais de 5 bilhões de pessoas em 2030. Se isto se confirmar, a demanda por alimentos ricos em proteínas vai crescer muito nas próximas duas décadas.
Por outro lado, aumenta a escassez das fontes de energia fóssil que serviram de combustível para o grande crescimento econômico do século XX. As novas descobertas de petróleo estão diminuindo e os novos campos, explorados em águas profundas, provoca o aumento do custo de produção e o preço final do produto. O aumento do preço do petróleo e da energia tem um grande impacto no preço dos alimentos. Além disto, os problemas de erosão do solo, do desmatamento, da dessertificação de terras agricultáveis, o sobre-uso dos aquíferos e das águas potáveis, a salinização dos rios e a acidez das águas dos oceanos diminui a fertilidade das fontes de vida. Para agravar a situação, crescem as enchentes e secas extremas – provocadas pelas mundanças climáticas – o que diminui a produção e a oferta de alimentos.
O preço do trigo subiu no último verão do hemisfério norte quando os incêndios e a seca destruiu um terço da safra de grãos da Rússia. Os preços do milho atingiram alturas vertiginosas em parte por causa de uma colheita fraca nos EUA devido às secas, queimadas e enchentes. No oeste da África a maior seca das últimas décadas está provocando fome em massa e uma grande migração dos “deslocados do clima”. Para agravar a situação, a produção de biocombustíveis reduz as áreas disponíveis para a produção de alimentos. A elevação do nível do mar está prejudicando as plantações de arroz dos deltas de Bangladesh e do Vietnã. O aumento do preço dos alimentos foi um dos motivos do surgimento da Primavera Árabe, o que mostra que os problemas de segurança alimentar e de inflação são sérios e atingem todos os povos do mundo.
Assim, o aumento da demanda por alimentos e a pauperização dos recursos naturais, agravado pelo aquecimento global, fará com que a comida chegue mais cara na casa da população mundial. Quem tiver dinheiro para pagar vai ter que gastar uma maior parcela da renda familiar com a alimentação. Quem não tiver dinheiro vai cair em uma situação de insegurança alimentar, carestia e fome.
O governo e o agronegócio no Brasil podem até comemorar o aumento do preço dos alimentos, pois isto vai aumentar a renda dos produtores rurais do país, além de aumentar o valor das exportações e o saldo cambial do setor. Mas as populações mais vulneráveis vão sofrer, principalmente naqueles países ou regiões que são pobres e não possuem auto-suficiência na produção de alimentos.
Existe um componente do preço dos alimentos que decorre do desperdicio na produção, na distribuição e no consumo e outro que decorre do poder dos atravessadores, dos especuladores de estoques, da injusta estrutura fundiária, dos monopólios e dos grandes conglomerados produtivos. Os alimentos viraram commodities e são comercializados pelo seu valor econômico e não pela utilidade e seu valor inerente à vida. Mas a despeito disto, o índice do preço dos alimentos caiu nas décadas de 1980 e 1990, atingindo o nível mais baixo no início dos anos 2000.
De 2003 em diante, o preço dos alimentos iniciou uma trajetória ascendente, que foi parcialmente interrompida pela crise financeira internacional de 2009, mas que atingiu o pico de alta entre fevereiro e junho de 2011. Segundo estimativas da própria FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o índice de preço dos alimentos tende a permanecer em níveis elevados nas próximas décadas.
O que mudou do final do século passado para o século atual?
Por um lado houve aumento da demanda, já que tem crescido a parcela da população mundial que tem maior poder de compra de alimentos mais proteicos. Segundo dados da Goldman Sachs a classe média mundial cresceu de cerca de 1 bilhão de pessoas em 1970 para 1,5 bilhão no ano 2000, representando um aumento de 50% em 30 anos. Porém, a classe média mundial chegou a 2,5 bilhões de pessoas em 2010, representando um aumento de 67% em apenas 10 anos. Em grande parte devido ao “sucesso econômico” da Chína e da Índia, as estimativas apontam para uma classe média mundial de mais de 5 bilhões de pessoas em 2030. Se isto se confirmar, a demanda por alimentos ricos em proteínas vai crescer muito nas próximas duas décadas.
Por outro lado, aumenta a escassez das fontes de energia fóssil que serviram de combustível para o grande crescimento econômico do século XX. As novas descobertas de petróleo estão diminuindo e os novos campos, explorados em águas profundas, provoca o aumento do custo de produção e o preço final do produto. O aumento do preço do petróleo e da energia tem um grande impacto no preço dos alimentos. Além disto, os problemas de erosão do solo, do desmatamento, da dessertificação de terras agricultáveis, o sobre-uso dos aquíferos e das águas potáveis, a salinização dos rios e a acidez das águas dos oceanos diminui a fertilidade das fontes de vida. Para agravar a situação, crescem as enchentes e secas extremas – provocadas pelas mundanças climáticas – o que diminui a produção e a oferta de alimentos.
O preço do trigo subiu no último verão do hemisfério norte quando os incêndios e a seca destruiu um terço da safra de grãos da Rússia. Os preços do milho atingiram alturas vertiginosas em parte por causa de uma colheita fraca nos EUA devido às secas, queimadas e enchentes. No oeste da África a maior seca das últimas décadas está provocando fome em massa e uma grande migração dos “deslocados do clima”. Para agravar a situação, a produção de biocombustíveis reduz as áreas disponíveis para a produção de alimentos. A elevação do nível do mar está prejudicando as plantações de arroz dos deltas de Bangladesh e do Vietnã. O aumento do preço dos alimentos foi um dos motivos do surgimento da Primavera Árabe, o que mostra que os problemas de segurança alimentar e de inflação são sérios e atingem todos os povos do mundo.
Assim, o aumento da demanda por alimentos e a pauperização dos recursos naturais, agravado pelo aquecimento global, fará com que a comida chegue mais cara na casa da população mundial. Quem tiver dinheiro para pagar vai ter que gastar uma maior parcela da renda familiar com a alimentação. Quem não tiver dinheiro vai cair em uma situação de insegurança alimentar, carestia e fome.
O governo e o agronegócio no Brasil podem até comemorar o aumento do preço dos alimentos, pois isto vai aumentar a renda dos produtores rurais do país, além de aumentar o valor das exportações e o saldo cambial do setor. Mas as populações mais vulneráveis vão sofrer, principalmente naqueles países ou regiões que são pobres e não possuem auto-suficiência na produção de alimentos.
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José Eustáquio Diniz Alves