bon appe!

bon appetit vira bon appe, d’accord vira d’ac. se cortam as palavras mas jamais os cardápios aqui hexágono

donc, os especialistas pregam que a descrição cristaliza o prazer da degustação – e todos os demais da vida, pois não ? e sentenciam : para apreciar, é preciso palavras. e antes da descrição, a composição: entrada, prato principal, sobremesa, queijos, café. assim se come num restaurante apenas médio francês. sim, é possível poupar a carteira e pedir apenas o prato principal, mas aí perde um pouco o encanto da mise en scene…

buffet inexiste por aqui. buffet à quilo, então: heresia ! até no restaurante universitário, o chef cuisiner compõe nosso prato principal. antes disso, nos logra a árdua tarefa de escolher entre salada verde, abacate com maionese, ou taboulé – por exemplo, para a entrada ; queijo : saint-nectaire ou fourme d’ambert, ou iogurte natural para finalizar a refeição ; crepe nutella ou fromage frais au crème de marron como sobremesa. e somente então que ele, devidamente paramentado em branco, nos serve o prato, inclusive interditando alguma combinação que o pareça bizarre… !

mesmo que por aqui se coma de tudo. y compris des bestioles de qual espécime se queira imaginar. os-à-primeira-vista assombrosos scargots, que se revelam uma boa entradinha, e têm o gosto do tempero, quer dizer, a versão xuxu do reino animal. as tradicionais ostras das refeições de final de ano, que valem muito mais pelo ritual, tomando um vinho branco fresco, com uma baguette de campanha e manteiga au sel de guerande, e , évidement, estando em muito boa companhia pra rir, quando temos a nítida sensação de estar comendo mariscos sabor ondas do mar !

os franceses gostam de dizer também que se come com os sentidos. todos. portanto o cuidado e a beleza do prato, a qualidade dos aromas, a consistência – pra fazer os barulhinhos devidos, sim !, e, por fim e tão importante quanto, le goût! o tato vai depender do menu em questão, pois não? não enfie os dedos numa coisa delicada como o foie gras, por exemplo…

por todos esses detalhes eu não consegui ainda decifrar um pormenor : eles comem massa sem molho… horror dos horrores : vejo gente largando sachets de argh-ketchup e maionese no prato pra fazer seu molhinho particular… me recuso. dou um jeito de servir o molho do filé de peixe… e o chef me olha de relance : c’est pas pour la pâte ! ça va pas !
ohlalalalah !

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larissa bueno ambrosini