A baguette nossa de cada dia


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Desde que moro nesse país, nunca comi o famigerado “pão de fôrma”. Nunca gostei dele. A única boa lembrança de pães desse tipo é meu marido fazendo uns integrais torradinhos pro café da manhã, quentinhos, com manteiga e mel. Fora isso “pão de sanduíche” é uma fraude.

Aqui, comer o pão de fôrma, o clássico branco, chega a ser um atentado. Gastronomia não entra bem no rol de amenidades na França. O chef Vatel se matou ante à ameaça (não cumprida, enfim) de um jantar-fiasco ao rei (um sucesso que ele não presenciou, pois a notícia da última ressurreição tinha mais de um milêncio e meio na época). Torcer o nariz pra algum dos 364 tipos de queijo (Churchill já havia se consternado quando eram 246, decretando a quase “in-governabilidade” da França). E com a quantidade de boulangeries, lindas e cheirosas em cada esquina, é como oferecer caipirinha de vodka no Brasil.

Comprar a baguette antes de ir pra casa é um prazer tão microscópico, quanto delicioso. A baguette é uma instituição. TODO mundo anda com ela debaixo do braço pela manhã. O clichê, nesse caso, cola com as ruas. E nessas pequenas rotinas, nos apropriamos de um país – que não é o nosso.

Mas vida tem pormenores práticos. Toujours. Todo o problema de comprar uma baguette inteira é que eu nunca sei quando vou terminar de comer. E nesse ínterim, ela pode se tornar um artefato bélico; pois rígido com um porrete.

Esse formato formoso veio dos anos 1920, o que na escala da história quer dizer: ontem. Assombroso de recente, e não surpreendente que as leis trabalhistas tenham contribuído (basta dizer que o republicanismo aqui é agudo ao ponto de os trabalhadores ‘sans papier’, informais, clandestinos no país, irem às ruas fazer greve e exigir seus direitos).
Pois, os ajustes do tempo de trabalho na época impediam que os boulangers começassem a trabalhar antes das 4 da manhã. O que arriscava o pão nosso pro pétit-dejeuner de cada dia originou no pão mais rápido de assar e com tempo de conservação mais curto.

Resolvo, comprando uma demi-baguette, a meia. Quando cortada na hora, uma delícia. O senão é que, não raro, a demi já está lá. Me olhando, me esperando. Tenho impressão, desde às 7h da manhã. Quer dizer, ela já está querendo ensaiar uma mutação.

… meio cacete, mas.

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larissa bueno ambrosini