Línguas do mundo: iorubá

Xangô, orixá, babalaô, acarajé… Palavras que todo brasileiro conhece bem. Vieram para cá com um grupo de escravos da África ocidental, que falavam um idioma conhecido por iorubá. Na coluna desta semana, aprenda um pouquinho a respeito dessa importante língua negro-africana.

Atendendo a pedidos de um leitor anônimo, hoje vou falar de uma língua muito próxima de nós culturalmente, embora completamente diferente: o iorubá.
Você já deve ter ouvido falar dessa língua. Se não ouviu, com certeza conhece algumas palavras dela: orixá, babalaô, ebó, axé, ilê… O iorubá é uma língua negro-africana (sim, porque caso você não saiba, existem povos africanos que não são negros) falada atualmente na costa ocidental da África, principalmente na Nigéria e no Benin. Está entre as cinco línguas nativas da África mais faladas atualmente, e já foi falada por grupos de escravos principalmente no Brasil e em Cuba.
A maior influência que o povo iorubá exerceu na cultura brasileira foi sem dúvida o candomblé, a famosa religião dos orixás, e é como língua do candomblé que o iorubá é mais conhecido do lado de cá do Atlântico. Já do lado de lá, o iorubá apresenta muitas variedades regionais (como, obviamente, qualquer língua). Ao contrário de muitas línguas africanas, o iorubá possui uma considerável tradição escrita: desde o século XIX se escreve em iorubá, e já na primeira metade do século XX começaram a aparecer romancistas e outros escritores. Pode parecer pouco, mas para a África isso já representa um grande passo.

Um pouco das características gramaticais: o que mais chama a atenção no iorubá (e em muitas outras línguas africanas), para os ouvidos ocidentais, é o tom: em vez de sílabas tônicas (fortes) ou átonas (fracas), como em português, o iorubá tem sílabas altas (agudas), médias e baixas (graves). Ou seja, as frases são de fato cantadas, e da mesma forma como o acento tônico em português (lembra do "sabiá", da "sábia" e do verbo "sabia"?), palavras com tons diferentes podem ter significados diferentes. O tom alto é representado pelo acento agudo (á, é), o médio fica sem acento (a, e), e o grave fica com acento grave (à, è). Alguns exemplos:

ilé – significa "casa". O "é" tem que ser mais agudo do que o "i"
kíkan – significa "azedo". O "í" tem que ser mais agudo do que o "an"
rà – é o verbo "comprar". Tem que ser pronunciado num tom mais grave em relação ao resto da frase.
pè – significa "pronunciar"
pé – significa "perfeito"
A diferença entre essas duas últimas palavras é apenas a distinção entre tom alto e baixo.

Além disso, o iorubá ainda tem duas consoantes que eu jamais consegui pronunciar: o "kp" (escrito só "p") e o "gb". Parece fácil, é só falar g e b em seqüência, não é? Aí que está: é para falar g e b AO MESMO TEMPO! Fale g com a língua e b com os lábios. Você consegue? O povo da Nigéria consegue… Esse é o som que está em "Ilê Agboulá", um famoso terreiro de candomblé em Itaparica.

Claro que há muito mais coisas que se poderia falar a respeito dessa língua, mas com isso aí vocês já têm uma pequena idéia. Existe um dicionário iorubá-português publicado no Rio de Janeiro, por Eduardo Fonseca Jr., em 1983, intitulado "Dicionário Yoruba (Nago) – Português" (esqueci de falar: "nagô" é um dos nomes pelo qual o povo iorubá é conhecido). Na internet, existe um interessante (mas não muito completo) dicionário iorubá-inglês neste site: http://www.yorubadictionary.com/.

About the author

Bruno Maroneze